«Lisboa de Frederico Ressano Garcia, 1874-1909» foi mais uma mostra de arquitetura decorrente da cooperação entre a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) e a Câmara Municipal de Lisboa (CML). A iniciativa foi remetida à FCG por Victor Reis, vereador da Cultura da CML, como já havia acontecido, um ano antes, aquando da realização da «Arquitectura Premiada em Lisboa. Prémio Valmor. Prémio Municipal de Arquitectura», em 1988.

Frederico Ressano Garcia (1847-1911) foi um importante engenheiro da Câmara Municipal de Lisboa entre 1874 e 1909, o período em foco nesta mostra. Encarregou-se de contribuir decisivamente para uma profunda modernização da cidade, assinando projetos de urbanismo das zonas da Avenida da Liberdade, Parque Eduardo VII, Avenida Almirante Reis e Avenidas Novas, entre outras áreas da cidade para cuja revitalização pôde contribuir.

Apostada em compreender o legado arquitetónico associado a esta personagem central, a exposição reunia 184 peças entre fotografias e gravuras com vistas da Lisboa do final do século XIX e início do século XX; diversas plantas, alçados e cartografias de projetos realizados ou somente planeados, além de alguma epistolografia e um óleo representando o engenheiro, da autoria do pintor Carlos Reis, Retrato de Frederico Ressano Garcia (1960).  

Com coordenação de Raquel Henriques da Silva, a exposição inauguraria a 21 de abril de 1988 na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG (piso 01), onde ficaria patente até 21 de maio de 1989 («Gulbenkian recorda mestre das Avenidas Novas», A Capital, 9 mai. 1989).

Durante os dias 26 e 27 de abril, teriam lugar uma série de colóquios no âmbito desta exposição, com a presença do vereador Victor Reis e em que participaram como oradores «o Prof. José-Augusto França, o Arqt.º Nuno Portas, o Arqt.º José Manuel Fernandes, o Arqt.º Manuel Graça Dias, o Arqt.º Pedro Vieira de Almeida, a Dr.ª Raquel Henriques da Siva e a Arqt.º Fátima Freire» (Apontamento do Serviço de Exposições e Museografia, 14 abr. 1989, Arquivos Gulbenkian, SEM 00415). Reis, França, Fernandes e Henriques da Silva, a par de José Sommer Ribeiro (enquanto diretor do Serviço de Exposições e Museografia da FCG) e do arquiteto Nuno Krus Abecasis, perfazem a lista de autores que contribuíram para o catálogo da exposição. Coeditado pela CML e pela FCG, esse livro continua a representar uma importante referência bibliográfica sobre este protagonista histórico, tão responsável pelo esqueleto da Lisboa que hoje temos quanto o foi Duarte Pacheco depois dele, ou o Marquês de Pombal na reconstrução pós-terramoto.

Como foi sendo habitual, em eventos centrados na paisagem, na arquitetura e na topografia de Lisboa, esta exposição colheu bastante eco na imprensa. Um deles chega-nos através do arquiteto José Lamas, bisneto de Frederico Ressano Garcia, que publica um artigo no semanário Expresso confrontando aquele que foi, no seu entender, um harmonioso crescimento de Lisboa no último quartel do século XIX com o que considera ser a desordeira desvirtuação dessas zonas da cidade à entrada para a década de 1990 (Lamas, Expresso, 29 abr. 1989).

Recorde-se que José Manuel Ressano Garcia Lamas, bolseiro Gulbenkian em Paris entre 1973 e 1975, publicaria, em 1993, o estudo Morfologia Urbana e Desenho da Cidade, editado pela FCG, atualmente na décima edição.

Daniel Peres, 2018