Lisboa Oitocentista

Comemorações do Ano Internacional do Património

Exposição documental organizada pela Academia Nacional de Belas-Artes no âmbito das comemorações do Ano Internacional do Património Arquitectónico. Com foco na arquitetura e urbanismo da Lisboa oitocentista, a mostra deu a ver plantas, gravuras, pinturas, fotografias e desenhos da época.
Documentary exhibition on the theme of nineteenth-century Lisbon's urbanism and architecture organised by Portugal's fine arts academy, Academia Nacional de Belas-Artes, as part of the commemorations for the International Year of Cultural Heritage. The show was organised with financial support from the Calouste Gulbenkian Foundation, where it was held.

No âmbito das comemorações do Ano Internacional do Património Arquitectónico Europeu (1975), a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) concedeu à Academia Nacional de Belas-Artes (ANBA) um subsídio para a organização de uma exposição documental sobre urbanismo e arquitetura da Lisboa oitocentista, iniciativa que concebera como contributo para o mencionado evento internacional.

A Academia Nacional de Belas-Artes projetou então a exposição «Lisboa Oitocentista», iniciando assim em Portugal as ações comemorativas do Ano Internacional do Património. Além da colaboração e do apoio orçamental que prestou, a FCG cedeu as suas instalações para apresentação do certame.

Vale a pena mencionar a «Carta Europeia do Património Arquitectónico», redigida em 1975 em Amesterdão, para identificação dos objetivos das comemorações do Ano Internacional do Património Arquitectónico Europeu: «Graças à iniciativa tomada pelo Conselho da Europa em declarar 1975 como o Ano Europeu da Arquitectura, foram feitos esforços consideráveis em todos os países europeus para tornar o público mais consciente dos insubstituíveis valores cultural, social e económico representados pelos monumentos históricos, pelos grupos de edifícios e pelos sítios interessantes situados quer nas cidades, quer no campo.» («Carta Europeia do Património Arquitectónico. Introdução», Amesterdão, out. 1975)

Considerando o interesse do projeto, que teria sido, aliás, recomendado à FCG pela Comissão Nacional das Comemorações do Ano do Património Cultural, a Fundação Calouste Gulbenkian concedeu o solicitado apoio requerido pela ANBA, contanto com a garantia científica do grupo de trabalho designado pela mesma academia, constituído por José-Augusto França, Frederico George e Fernando Castelo Branco.

O interesse do tema a desenvolver no projeto expositivo é imediatamente justificado no texto de entrada do catálogo da exposição: «“Lisboa Oitocentista” é um tema que se afigurou de primeira importância, quer pela riqueza da sua informação, quer pelo seu valor polémico, na medida em que importa, hoje ainda, chamar especificamente a atenção para a arquitectura e o urbanismo dum século cuja proximidade do nosso nem sempre permite um reconhecimento histórico, porém evidente.» (Exposição Documental de Lisboa Oitocentista, 1976)

Estabelecidos os diversos cenários da cidade de Lisboa ao longo do século XIX, com o auxílio de uma série de plantas publicadas, e documentadas sucintamente as suas imagens em pinturas, desenhos, gravuras da época e documentação fotográfica, a exposição desenvolveu-se sobre uma análise fotográfica da sua morfologia, através da amostragem tipológica e funcional que cobriu vários setores e sublinhou os valores diversos que definem a evolução urbana através de um conjunto de casas, prédios, palácios e palacetes, monumentos, chafarizes e elementos representativos da arquitetura do ferro, situados nas avenidas da Liberdade e da República.

O outro núcleo fundamental da exposição debruçou-se sobre a análise histórica, qualitativa e de conservação de uma das principais artérias de Lisboa, assim considerada pela excecional «informação urbana» que encerra. O encadeamento das ruas e praças abertas entre o Cais do Sodré e o Largo do Rato foi por isso objeto de uma leitura topográfica e estilística contínua ao nível das fachadas, acompanhada por significativos dados históricos.

A exposição alcançou um grande interesse e aceitação junto do público especializado e do público em geral, como atestam os posteriores despachos e as trocas de correspondência entre as instituições responsáveis pela conceção da exposição «Lisboa Oitocentista»:

«Realizada a exposição, todas as expectativas se viram confirmadas, pois na verdade ficaram bem patentes a qualidade de trabalho realizado e o insofismável interesse do certame, aliás de tipo fora do comum e que oxalá tenho tido também uma função exemplar.» (Apontamento do Serviço de Exposições e Museografia, jun. 1976, Arquivos Gulbenkian, SEM 00077)

«Realizaram um esforço que se traduziu em resultado de muito merecimento, pois a exposição, de índole pouco frequente entre nós, constituiu uma intervenção, de toda a validade, no quadro amplo da problemática da História do Urbanismo. Assim foi reconhecido, a vários níveis e de diversas maneiras, da crítica à afluência de público que o certame conheceu, e assim o reconheceu a própria Comissão Nacional, que enalteceu o significado e o valor da iniciativa da Academia e o mérito do apoio que lhe foi dado pela Fundação.» (Apontamento do Serviço de Exposições e Museografia, mai. 1978, Arquivos Gulbenkian, SEM 00077)

Acerca do reconhecimento pela Comissão Nacional referido no excerto anterior, o arquiteto Viana de Lima, presidente da Comissão Nacional do Ano do Património Arquitectónico Europeu, exaltou o louvor que a FCG mereceu ao colaborar na exposição, numa carta que remeteu ao presidente da FCG, José de Azeredo Perdigão: «Em nome da Comissão Nacional […] tenho o grato prazer de comunicar a V. Exa. que esta Comissão […] deliberou por unanimidade exprimir o seu reconhecimento a essa Fundação pela especial colaboração facultada na oportunidade da realização da exposição “Lisboa Oitocentista” […]. A mesma Comissão reconheceu que essa colaboração foi determinante para se alcançar o elevado grau de interesse que a mencionada exposição atinge.» (Carta de Viana de Lima para José de Azeredo Perdigão, abr. 1976, Arquivos Gulbenkian, SEM 00077)

Além do auxílio e reforço orçamental que a FCG atribuiu à ANBA para a produção da exposição, a FCG determinou a concessão de um outro subsídio à Comissão Nacional, que se destinou à organização de um simpósio no Algarve, relacionado com a conservação do património daquela região, realizado em outubro do mesmo ano, ainda integrado nas iniciativas do Ano do Património Arquitectónico em Portugal.

Finda a exposição «Lisboa Oitocentista», foi ainda proposta à FCG a sua posterior realização em Setúbal, no Salão Nobre da Câmara Municipal da cidade, em junho de 1976. Embora tenham sido sinalizados os registos textuais que testemunham essa intenção, não foi possível confirmar essa informação na documentação e nos arquivos disponibilizados.

Joana Brito, 2016


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Visita oficial

[Lisboa Oitocentista]

30 mar 1976
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria Principal / Galeria Exposições Temporárias (piso 0)
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Visita dos Congressistas da Associação dos Críticos Literários
Visita dos Congressistas da Associação dos Críticos Literários
Roberto Gulbenkian (à esq.)

Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM 00077

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência, orçamentos e recortes de imprensa. 1976 – 1976

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 04962

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém documentação interna e despachos relativos aos subsídios concedidos pela FCG à Academia Nacional de Belas-Artes (ANBA) e à Comissão Nacional das Comemorações do Ano Europeu do Património Arquitetónico.. 1975 – 1978

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0405-D01192

11 provas, p.b.: aspetos (FCG, Lisboa) 1976

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D01962

3 provas, p.b.: inauguração (FCG, Lisboa) 1976

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D01963

2 provas, p.b.: visita oficial (FCG, Lisboa) 1976


Exposições Relacionadas

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.