A exposição «Pomar. Brasil» é o culminar de um período de cinco anos de forte envolvimento de Júlio Pomar (1926-2018) com a cultura brasileira. A Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) associou-se a várias das iniciativas que surgiram nessa fase da carreira do artista. Desde logo, através da organização da representação portuguesa da 18.ª edição da Bienal de São Paulo, em 1985, em que Pomar foi um dos participantes, e que terá sido um dos primeiros impulsos para esta aproximação de Pomar ao Brasil.

No ano seguinte, o artista realiza uma exposição no Museu de Arte de Brasília, também organizada pela FCG através do Centro de Arte Moderna (CAM). Em 1987, empreende uma nova viagem ao Brasil realizando os azulejos para o edifício Gran' Circo Lar, também em Brasília. Dessa viagem resultariam ainda exposições em galerias de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.

O reforço dessa implantação no meio brasileiro da arte contemporânea expande-se para 1988, quando Pomar passa dois meses entre os Índios do Xingu (Mato Grosso), durante a rodagem do filme Kuarup, de Ruy Guerra.

São estes cinco anos (1985-1990) que fazem nascer o corpo de trabalho reunido em «Pomar. Brasil»: três desenhos preparatórios e uma edição de um painel de azulejos do já mencionado projeto para o Gran' Circo Lar (1986); treze acrílicos sobre tela da série Os Mascarados de Pirenópolis (1987-88); a série Xingu (1988-89), representada por 38 desenhos esquiçados a esferográfica e por 10 pinturas, duas delas pertencentes às realizadas durante a própria estadia no Alto Xingu (Amazónia), usando vinil e spray metálico sobre madeira, «materiais de ocasião» (Pomar. Brasil, 1990).

Sente-se especialmente a reverberação do tropicalismo na paleta do pintor, que teima em não ceder a idealizações de exotismo, não deixando, porém, de facilitar o encontro com o imaginário amazónico.

A exposição teria a sua primeira inauguração no Rio de Janeiro, a 25 de janeiro de 1990, e seria o evento de estreia do novo Salão Drummond de Andrade, no emblemático Palácio Capanema (antigo Ministério da Saúde e da Educação, projetado por Le Corbusier, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer e construído entre 1937 e 1943) (Diário de Notícias, 29 jan. 1990, p. 25). Os Arquivos Gulbenkian conservam um exemplar policopiado da planta desse espaço cultural. De lá seguiria para o Museu de Arte de São Paulo – Assis Chateaubriand, onde a mostra inauguraria a 19 de março de 1990 na presença de Mário Soares, amigo do artista e, à data, presidente da República Portuguesa.

Chegaria finalmente à Gulbenkian em junho de 1990, onde inauguraria a dia 20 desse mês, no Centro de Arte Moderna (piso 1), cujo acervo guarda atualmente o painel de azulejos apresentado na mostra (Inv. CP22).

Iniciativa do ministro da Cultura brasileiro José Aparecido de Oliveira, «Pomar. Brasil» desempenhou, deste modo, um importante papel intercultural entre Portugal e o Brasil, um eixo que, na própria obra de Pomar, tinha expressão desde a década de 1940 e do tempo em que a obra do pintor brasileiro Candido Portinari surgia como referência para o neorrealismo do pintor português.

Daniel Peres, 2018