Em junho de 1989, Manuela de Sena (1953) foi a artista selecionada para realizar uma exposição individual em Paris, organizada pelo Centre Culturel Portugais (CCP) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG). Na sede da Avenue d'Iéna, a autora apresentou um total 26 trabalhos, divididos entre 18 desenhos a pastel e técnica mista e oito calcografias em água-forte, água-tinta e maneira negra (Arquivos Gulbenkian, PRS 05105).

A exposição foi comissariada pela nova diretora do CCP, Maria de Lourdes Belchior, que a relacionou com o ciclo «L'Artiste du Mois», programação criada pelo anterior diretor José-Augusto França, no qual foram selecionados para apresentação pública trabalhos de 27 artistas portugueses.

A obra gráfica de Manuela de Sena circula pelo desenho, a aguarela e a gravura, numa linguagem figurativa que medita frequentemente sobre a paisagem urbana, desperta para pormenores ocasionais da vida quotidiana que podem ter um efeito subtilmente insólito ou surpreendente.

O universo de Jorge de Sena, seu pai, foi também abordado em algumas séries de gravura, nomeadamente o poema Sobre esta praia… Oito meditações à beira do Pacífico (1977), texto de referência da fase americana do autor, ou ainda a novela O Físico Prodigioso (1964-66) (Arquivos Gulbenkian, SBA 03887).

Filha do poeta e da escritora Maria Mécia de Freitas Lopes, Manuela de Sena, à data desta exposição no CCP tinha vivido e trabalhado maioritariamente fora de Portugal. No final da década de 1970, realiza várias mostras em Estrasburgo, França, cidade onde estudara e onde então habitava. Pouco depois, em 1981, candidata-se pela primeira vez a uma bolsa FCG, propondo-se a estudos de especialização em gravura, em Paris. A bolsa ser-lhe-ia concedida, mas, devido a compromissos profissionais entretanto assumidos em Estrasburgo, a autora ver-se-ia obrigada a prescindir dessa primeira atribuição, acabando por só usufruir do apoio, após nova candidatura, no ano letivo de 1983/84.

Enquanto bolseira em Paris, Manuela de Sena frequentaria cursos no Atelier Desjobert e no Atelier 17 de S. W. Hayter, trabalhando ainda no Atelier 63. Durante o usufruto da bolsa, realiza a exposição «Manuela de Sena. Gravures et Dessins au Pastel», na Galerie van Loo, Bruxelas, em junho de 1984 (Arquivos Gulbenkian, SBA 03887). Desse mesmo ano, há notícia de uma aquisição de quatro gravuras de sua autoria por parte da FCG – transação promovida pelo Serviço Internacional (Arquivos Gulbenkian, INT 02016).

No início de 1985, a Fundação concede-lhe um novo subsídio, permitindo-lhe continuar a sua prática da gravura na capital francesa, desta feita no Atelier Dalmas. Na sequência do trabalho desenvolvido surgiria, em maio desse ano, a exposição «L'Œil Observateur» na Galerie Tribune, Paris (Arquivos Gulbenkian, SBA 03317).

«The Harvest of the Quiet Eye», já em 1986, seria a sua primeira individual em Portugal, também apoiada pela FCG. Surge «na sequência de um contacto havido com a Alliance Française» e inauguraria a 4 de novembro de 1986, num espaço dessa organização em Lisboa (Carta de Manuela de Sena para a Fundação Calouste Gulbenkian, 24 set. 1986, Arquivos Gulbenkian, SBA 04113).

A escolha da artista para integrar o ciclo «L'Artiste du Mois», de 15 a 30 de julho de 1989, vinha, portanto, no seguimento de uma relação institucional já longa com a FCG e que, segundo o resumé da artista, terá também passado pela participação numa exposição coletiva no Centro de Arte Moderna da FCG, em 1985 (Arquivos Gulbenkian, PRS 05378).

Daniel Peres, 2018