Imagens do Sagrado

Colóquio «O Sagrado e as Culturas»

Exposição que integrou a programação paralela do colóquio «O Sagrado e as Culturas», ocorrido em abril de 1989. Organizado pelo Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte, esse ciclo mobilizou o pensamento contemporâneo para temas de espiritualidade e transcendência, recebendo forte adesão por parte do público.
Exhibition included in the programme complementing the colloquium “O Sagrado e as Culturas” (Cultures and the Sacred), held in April 1989. The series, organised by the Animation, Artistic Creation and Art Education Department, enjoyed a high level of public participation and inspired contemporary reflection on topics of spirituality and transcendence.

A exposição «Imagens do Sagrado» integrou o programa de atividades paralelas do colóquio «O Sagrado e as Culturas». Organizado pelo Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte da Fundação Calouste Gulbenkian (ACARTE – FCG), contou com mesas-redondas e conferências, que decorreram entre 18 e 22 e abril de 1989 na Sala Polivalente do Centro de Arte Moderna (CAM) da FCG, em Lisboa.

Nesse auditório, as atividades encerrariam a 23 de abril com o espetáculo musical …Para um Stabat Mater, composto especificamente para a ocasião por Constança Capdeville. Ela própria dirigiu a interpretação da peça a cargo do Grupo Colectiva. Por sua vez, a exposição «Imagens do Sagrado» inauguraria no primeiro dia do colóquio, a 18 de abril de 1989, na Sala de Exposições Temporárias do CAM (atual Espaço Projeto, adjacente à Sala Polivalente), onde ficaria patente até meados de maio de 1989. A iniciativa do colóquio partiu de Maria de Lourdes Belchior, então docente na Universidade Nova de Lisboa e que se tornaria diretora do Centre Culturel Portugais, delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian, no mesmo mês de abril em que se realizaria esta programação.

A proposta do evento surge em finais de 1986, numa carta de Maria de Lourdes Belchior para Maria Madalena de Azeredo Perdigão, remetida do Centro de Estudos Portugueses Jorge de Sena – Universidade da Califórnia (Carta de Maria de Lourdes Belchior para Maria Madalena de Azeredo Perdigão, 8 dez. 1986, Arquivos Gulbenkian, ACARTE 00188).

A diretora do ACARTE acolheu prontamente a iniciativa, encetando um processo de produção que duraria três anos. Estabelecem-se vários contactos, começando a delinear-se a vontade natural de se incluir uma exposição. A pintora Emília Nadal (1938) seria então convocada para coordenar a produção da mostra «Imagens do Sagrado», em articulação com José Sommer Ribeiro, diretor do CAM. Além da curadoria, Nadal também exporia uma obra sua entre as 19 apresentadas.

Estiveram também representados Alberto Carneiro (1937-2017), António Dacosta (1914-1990), António Palolo (1946-2000), Carlos Calvet (1928-2014), Clara Menéres (1943-2018), Eurico Gonçalves (1932), Fernando de Azevedo (1923-2002), Fernando Lanhas (1923-2012), Graça Costa Cabral (1939-2016), Graça Morais (1948), Hein Semke (1899-1995), José Rodrigues (1936-2016), Lima de Freitas (1927-1998), Luiz Cunha (1933-2019), Maria Gabriel (1937), Menez (1926-1995), Nuno Siqueira (1929-2007) e Paula Rego (1935). Ao todo, a exposição apresentou 19 obras, uma por artista, sendo três delas pertencentes à coleção do CAM, designadamente Presépio (1982, Inv. 13E1747), de Graça Costa Cabral; Lapis Cognitionis (1987, Inv. 88E906), de Clara Menéres; e Pintura [Estou Vivo e Escrevo Sol] (1971, Inv. 83P540), de Eurico Gonçalves.

«Imagens do Sagrado» incluía uma grande heterogeneidade de abordagens da arte contemporânea à temática do sagrado, desde figurações mais mitológicas à espiritualização da natureza da land art de Alberto Carneiro ou à escultura de Menéres, tão iconoclasta quanto passível de questionamentos místicos.

O ensaísta Eduardo Lourenço, então adido cultural da Embaixada de Portugal em Roma, escreveria o texto de introdução ao catálogo da exposição (Imagens do Sagrado, 1989). Coube-lhe ainda a coordenação da mesa-redonda «O Sagrado e as Artes», uma das quatro a terem lugar no colóquio «O Sagrado e as Culturas». Além de Eduardo Lourenço, o colóquio contou com muitos outros protagonistas destacados do meio intelectual português, tais como José-Augusto França, Rui Mário Gonçalves, Natália Correia, Agustina Bessa-Luís, Agostinho da Silva ou a antiga primeira-ministra de Portugal Maria de Lourdes Pintasilgo (única mulher a ocupar o cargo até hoje), então deputada europeia (programa «O Sagrado e as Culturas», 1987). No espectro internacional, André Vauchez fecharia o dia 21 com a conferência «Le sacré et les lieux de mémoire. L'exemple des cathédrales». Também Paul Ricœur e Umberto Eco seriam convidados a participar, não se concretizando as suas colaborações por motivos de ordem diversa (Arquivos Gulbenkian, ACARTE 00188).

«O Sagrado e as Culturas» cumpria assim o seu desígnio de ser um evento multifacetado em torno de temas de transcendência e espiritualidade. Com entrada gratuita, a afluência terá rondado a lotação esgotada em muitas das sessões do colóquio. Essa indicação é dada na epistolografia interna da FCG e mereceu eco por parte da imprensa (Arquivos Gulbenkian, SEM 00188). Tecnicamente a organização do colóquio terá dado uma resposta muito qualificada, tanto a audientes como a oradores, que puderam contar com tradução simultânea português-francês e francês-português, bem como com os meios audiovisuais necessários a cada apresentação.

Com o infortúnio do falecimento de Maria Madalena de Azeredo Perdigão (a 5 de dezembro de 1989), José Sasportes assumiria a direção do ACARTE, empreendendo de imediato a missão de dar curso à edição das atas de vários colóquios realizados pelo serviço no final dos anos 80. Tendo sido uma das publicações que haviam ficado em suspenso à data da morte da diretora, o livro O Sagrado e as Culturas seria finalmente lançado em março de 1993 (ACARTE 00193). Colige textos de muitos dos intervenientes na iniciativa, entre eles Emília Nadal, com a sua descrição da exposição «Imagens do Sagrado», comentada peça a peça (O Sagrado e as Culturas, 1992, pp. 263-296). A capa dessa publicação apresenta uma reprodução fotográfica da pintura Procissão Corpus Christi, 1913 (Inv. 86P34), de Amadeo de Souza-Cardoso, que já tinha figurado nos convites, folhetos e cartazes do colóquio, bem como na capa do catálogo da exposição «Imagens do Sagrado».

Daniel Peres, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Lapis Cognitionis

Clara Menéres (1943-2018)

Lapis Cognitionis, 1987 / Inv. 88E906

Estou Vivo e Escrevo Sol

Eurico Gonçalves (1932-2022 )

Estou Vivo e Escrevo Sol, 1971 / Inv. 83P540

Presépio de Prata

Graça Costa Cabral (1939 - 2016)

Presépio de Prata, 1982? / Inv. 13E1747


Eventos Paralelos

Colóquio

O Sagrado e as Culturas

18 abr 1989 – 22 abr 1989
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Sala Polivalente
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Roberto Gulbenkian (à esq.) e Madalena de Azeredo Perdigão (ao centro)
Roberto Gulbenkian (ao centro)
José de Azeredo Perdigão (ao centro)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (ACARTE), Lisboa / ACARTE 00188

Pasta com documentação referente à produção da exposição e do ciclo de colóquios a que esteve associada. Contém convite para a inauguração, orçamentos e epistolografia diversa. 1986 – 1989

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00059

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite para a inauguração e programa do ciclo de conferências a que esteve associada, para além de orçamentos e epistolografia diversa. 1986 – 1989

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/004-D00491

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAM, Lisboa) 1989

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM-S005/01/01-P0068-D02543

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAM, Lisboa) 1989

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM-S005/01/01-P0068

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAM, Lisboa) 1989


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