Ernesto de Sousa. Revolution My Body

Exposição dedicada à obra de Ernesto de Sousa (1921-1988), comissariada por Helena de Freitas e Miguel Wandschneider. A exposição focou a produção multidisciplinar realizada entre 1942 e 1988, apresentando igualmente uma obra de João Paulo Feliciano realizada sobre o banco de imagens pertencente à viúva do artista.
Exhibition dedicated to the work of Ernesto de Sousa (1921-1988), curated by Helena de Freitas and Miguel Wandschneider. The show focused on the artist’s multidisciplinary work from 1942 to 1988 and included an artwork by João Paulo Feliciano on the image database belonging to the artist’s widow.

A exposição «Ernesto de Sousa. Revolution my Body» foi dedicada a José Ernesto de Sousa (1921-1988) e organizada pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), tendo ficado patente no piso 01 da Galeria de Exposições Temporárias da Sede, de 5 de março a 26 de abril de 1998. Foi comissariada por Maria Helena de Freitas e Miguel Wandschneider, que na altura se encontrava a realizar uma tese de doutoramento sobre o artista e a arte portuguesa dos anos 70.

O projeto da exposição focou-se na produção multidisciplinar de Ernesto de Sousa de 1942 a 1988, não pretendendo agrupar cronologicamente os núcleos expositivos, mas antes organizá-los por temas, de modo a conseguir transmitir de forma mais clara a personalidade complexa do artista. A exposição evocou os vários caminhos explorados por Ernesto de Sousa, em territórios tão vastos como a fotografia, o cinema, o teatro, a arte popular, a arte africana, a arte sacra, a arte clássica e as vanguardas.

Tal como referem Jorge Molder, diretor do CAMJAP, e Rui Sanches, diretor-adjunto, este encontro com as diferentes áreas não foi feito de uma única forma, tendo Ernesto de Sousa podido assumir-se como artista, crítico ou operador estético. Por vezes, o encontro com aqueles territórios era antes de mais o resultado de uma relação com outros artistas e outras pessoas para quem estas áreas tinham também interesse: «A sua experiência supõe um sentido de ligação entre pessoas e entre práticas, artísticas e não só. A sua acção supõe um entendimento correcto para a palavra animador, para além do que se possa referir-lhe enquanto artista. É este um aspecto particularmente importante que percorre a sua obra; para além do analista, do crítico e do polemista, José Ernesto de Sousa foi um artista que procurou estimular outros artistas.» (Ernesto de Sousa. Revolution My Body, 1998, p. 7)

Segundo Maria Helena de Freitas, «Ernesto de Sousa. Revolution My Body» não pretendeu ser nem uma retrospetiva do trabalho de Ernesto de Sousa, nem uma exposição antológica, mas antes a revisitação da sua carreira e a tentativa de leitura e compreensão de uma obra vasta e complexa, produzida por um artista pouco convencional. Outro dos motivos pelos quais esta exposição não pretendeu ser identificada como retrospetiva poderá estar relacionado com o facto de onze anos antes, em 1987, ter sido organizada uma grande retrospetiva da obra de Ernesto de Sousa, dividida entre a Galeria Almada Negreiros, o Museu Nacional de Arte Antiga, a Cooperativa Diferença e a Fundação de Serralves. Alguns dos trabalhos apresentados em 1987 foram expostos em «Ernesto de Sousa. Revolution My Body».

A vontade de integrar outros artistas, que estava sempre presente em Ernesto de Sousa, foi concretizada nesta exposição com a inclusão de João Paulo Feliciano, primeiro artista a receber a Bolsa Ernesto de Sousa, em 1993, ao qual foi dada a possibilidade de manipular e reconstituir o banco de imagens de Ernesto de Sousa e de, a partir dele, criar um trabalho da sua autoria. A instalação resultante deste convite, intitulada Evolution My Mind, foi apresentada no final do percurso expositivo, juntamente com o vídeo Onze Propostas para uma Exposição sobre Ernesto de Sousa.

Sobre aquilo que pretendia com a receção de Evolution My Mind, João Paulo Feliciano disse: «Interpelar o público, desafiar as pessoas com vista à sua participação, introduzir um sentido lúdico, tornar a arte um processo dinâmico e instável. Estes eram alguns dos aspectos importantes na maneira do Zé Ernesto pensar o seu trabalho. E foram igualmente aspectos que procurei recriar nesta instalação. Contrastando com a orientação essencialmente documental do resto da exposição, esta sala deveria permitir às pessoas viajarem pelas memórias do E. S. não de uma forma passiva, como meros espectadores, mas sim conduzindo elas próprias, em parte, essa viagem. [...] De uma forma física, envolvente, lúdica.» (E-mail de João Paulo Feliciano para Maria Helena de Freitas, 10 nov. 1997, Arquivos Gulbenkian, CAM 00396).

As obras cedidas para a exposição vieram essencialmente de dois polos: a Biblioteca Nacional de Portugal, onde se encontrava um importante espólio documental, e o acervo de Isabel Alves, viúva de Ernesto de Sousa, onde se encontrava uma numerosa coleção de diapositivos, fotografias e materiais diversos que, à época, ainda não haviam sido inventariados. A estes dois grandes núcleos, juntaram-se as contribuições de artistas e amigos próximos de Ernesto de Sousa, maioritariamente sob a forma de vídeos e material fotográfico inédito.

Foram contactados onze artistas afetiva e esteticamente próximos de Ernesto de Sousa, com o objetivo de darem uma perspetiva pessoal de como fariam uma mostra sobre a obra deste artista. Os contributos foram gravados num vídeo realizado pelos comissários da exposição, com imagem de Joana Gonçalves e pós-produção de Pedro Antunes. Foram eles: Alberto Carneiro, Pedro Proença, João Vieira, Fernando Calhau, Julião Sarmento, Pedro Cabrita Reis, José Barrias, Ana Hatherly, Helena Almeida, Ângelo de Sousa e Leonel Moura. Esta comunicação entre comissários e artistas encontrava-se em sintonia com a personalidade de Ernesto de Sousa e com uma das expressões mais recorrentes na sua prática artística, defensora da partilha e da ideia de coletivo, tão bem expressa na formulação: «O meu corpo é o teu corpo, o teu corpo é o meu corpo.» Segundo David Santos, foi comum a estes depoimentos a afirmação do caráter permanentemente aberto e multidisciplinar de Ernesto de Sousa.

A exposição desenvolveu-se tematicamente a partir de dois elementos conceptuais de grande importância para a obra de Ernesto de Sousa: acontecimento e valorização do efémero, e expressão dos conceitos de festa e de convívio. Estes dois elementos explicam a opção de reunir, através de fotografia e vídeo, eventos coletivos protagonizados pelo artista. Foram estes, aliás, o tema principal da mostra, tendo acabado por colocar os restantes trabalhos em segundo plano, pretendendo-se, nas palavras de Maria Helena de Freitas, «evidenciar o poder mediador da sua presença, do seu corpo ou dos seus afectos, na construção desses mesmos acontecimentos artísticos» (Ernesto de Sousa. Revolution My Body, 1998, p. 9).

O título da exposição – «Ernesto de Sousa. Revolution My Body» – integra o título de duas obras expostas, de 1979, e que funcionavam como exemplo sintético do modo como o artista pensava a sua prática artística, consistindo esta na estetização da pesquisa autobiográfica. Para a definição dos critérios de seleção das obras apresentadas, foi ainda englobada a ideia de obra não acabada ou de work in progress, conceito sistematicamente aplicado por Ernesto de Sousa.

A primeira das sete salas da exposição foi dedicada à apresentação de trabalhos inéditos de fotografia, realizados entre as décadas de 1950 e 1960. Não pretendendo fazer desta sala uma mera miniexposição de fotografia, o objetivo foi demonstrar como, nestes anos, a máquina fotográfica era o elemento mediador da relação do artista com os outros, presença constante de registo do seu quotidiano, sugerindo já uma inclinação para a imagem em movimento e para o cinema, que caracteriza a segunda sala da exposição. Nesta, pretendeu-se abordar o lado cinematográfico de Ernesto de Sousa, nomeadamente a sua referência a Almada Negreiros enquanto figura paradigmática de artista total, e o espetáculo multimédia Almada, um Nome de Guerra (1969-1979). Esta abordagem passou pela análise de 1969 como ano de passagem ou de rutura no percurso de Ernesto de Sousa, durante o qual as experiências tidas no campo do cinema foram cruzadas com outras práticas, na tentativa de criar um espetáculo total que englobasse várias disciplinas.

O ano de 1969 marcou também o começo de uma prática que ligava arte e vida e cultivava a oposição a uma arte individualizada e autoral, sob a influência do movimento Fluxus, nomeadamente de Robert Filliou e Wolf Vostell, com os quais Ernesto de Sousa mantinha um estreito contacto. Foi desejo dos comissários que esta relação entre arte e vida fosse transposta para o conceito expositivo, apresentando-se a dado momento um conjunto de filmes em 8 mm realizados por Manuel Torres, e fotografias de festas e momentos de convívio, na casa de Isabel Alves e Ernesto de Sousa em Janas, no Estoril e no Carrascal, e em casa de amigos, a par de trabalhos como O Encontro no Guincho (1969), gravado em filme de 8 mm por Joaquim Barata, e Aniversário da Arte (1974). Embora retirados de momentos cronológicos diferentes, a junção destes elementos e a apresentação dos trabalhos Este É o Meu Corpo n.º 2 e Este É o Meu Corpo n.º 3 pretendia a legitimação da biografia do artista enquanto obra de arte e o assumir do compromisso entre arte e vida.

No entanto, tal como demonstra o trabalho Revolution My Body (1978), não foi só a biografia do artista que foi elevada ao estatuto de obra de arte, mas também os acontecimentos de rua, as manifestações, as paredes pintadas e as ações dos trabalhadores, em consonância com o espírito revolucionário da época. Estes momentos e performances estiveram representados na exposição através dos filmes Exercícios de descontracção orientados por Ernesto de Sousa, com alunos do Curso de Formação artística da SNBA, em casa de Joaquim Barata no Carrascal (c. 1968), realizado por Manuel Torres, Encontro do Guincho (1969), realizado por Joaquim Barata, Um Dia no Guincho com Ernesto (1969), de Carlos Calvet, 1.º Acto-Algés 1969 (1969), de José Manuel Torres, e Nós Não Estamos Algures (1969), realizado por Jorge Silva.

O restante espaço expositivo é descrito por David Santos do seguinte modo: «Nas restantes salas, bem como ao longo da enorme parede que une os vários espaços, podemos ver uma selecção de trabalhos de Mail-Art, um conjunto de cartazes intervencionados, e ainda uma incessante e massiva projecção de slides, que faz jus à linguagem mais utilizada pelo próprio Ernesto, que vai tornando clara a estratégia de desocultação em torno dos seus momentos de acção mais decisivos.» (Santos, O Independente, 27 mar. 1998, p. 14)

A conclusão do percurso expositivo era feita através da suspensão de um ecrã de dupla projeção que mostrava uma sucessão cronológica de acontecimentos coletivos, nacionais e internacionais, em que Ernesto de Sousa surgia como figura-chave, assumindo-se como organizador ou protagonista. Foi também a solução encontrada para a evocação de certos eventos não explorados na exposição como as «Expo AICA SNBA» (1972-1974), «Luís Vaz 73» (1975), a «Alternativa Zero» (1977), a «Bienal de Veneza» (1980) e «Onze Artistas Portugueses em Milão» (1978).

Mais do que a documentação da exposição, o catálogo foi o resultado de uma grande investigação levada a cabo pelos comissários, funcionando como objeto autónomo da mostra. É a compilação de todos os trabalhos e ideias de José Ernesto de Sousa (incluindo aquelas que não foram concretizadas), aos quais se juntou uma antologia de textos escritos pelo próprio que permite uma maior compreensão dos conceitos que guiaram seu o pensamento e prática artística.

A receção da exposição pela imprensa nacional dividiu opiniões. João Pinharanda considerou-a «uma das mais interessantes experiências de comissariado dos tempos recentes. [...] Sem nostalgia, sem pasmo e sem reducionismo histórico». O único reparo do crítico foi para o atraso da publicação do catálogo «que não chegou a sair em todo o tempo de exibição» (Pinharanda, Público, 24 abr. 1998).

Celso Martins foi talvez o crítico mais acérrimo da exposição, apontando o dedo a vários aspetos. Se, por um lado, diz que dificilmente a exposição seria retrospetiva «dada a sua natureza desmaterializada», por outro lado também não poderá ser considerada uma mostra documental «na medida em que não intenta uma leitura clarificadora de toda a sua trajectória, buscando-lhe os pontos de partida e estabelecendo nexos de inteligibilidade com cada momento do seu percurso» (Martins, Expresso. Cartaz, 31 mar. 1998). Ainda no artigo que dedicou à exposição, intitulado «Aventura em segunda mão», Celso Martins afirmava que, em vez de se verem obras criadas para serem expostas, «muito pouco do que podemos ver nela quis ser exposição inicialmente»; afirmava que se trabalhou num sentido de fetichizar a personalidade de Ernesto de Sousa, evocando a crítica de Alexandre Pomar, em 1997, à reposição da «Alternativa Zero», em Serralves.

O comissário da exposição, Miguel Wandschneider, respondeu à crítica de Celso Martins afirmando que nunca foi intenção dos comissários da exposição provocar uma mitificação da figura de Ernesto de Sousa, podendo esta ter sido construída de forma involuntária. Sobre a ausência de objetividade inerente a uma exposição de natureza documental, Wandschneider defendeu que todos os objetos expostos, incluindo as obras, foram tratados como documentos, o que contribuiu para o caráter claramente documental da mostra, e termina classificando a análise de Celso Martins de confusa e pouco atenta.

Carolina Gouveia Matias, 2019

The exhibition “Ernesto de Sousa. Revolution my Body” was dedicated to José Ernesto de Sousa (1921-1988) and organised by the Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) [José de Azeredo Perdigão Modern Art Centre (CAMJAP)], where it occupied the lower ground floor of the Temporary Exhibitions Gallery in the Main Building from 5 March to 26 April 1998. It was curated by Maria Helena de Freitas and Miguel Wandschneider, who was writing a doctoral thesis on the artist and Portuguese art in the 1970s at the time.

The exhibition focused on the multidisciplinary output of Ernesto de Sousa between 1942 and 1988, organising exhibition areas thematically rather than chronologically, in order to clearly convey the artist’s complex character. The exhibition evoked the various avenues explored by Ernesto de Sousa, in disciplines as wide-ranging as photography, cinema, theatre, folk art, African art, religious art, classical art and the avant-garde.

As Jorge Molder, director of the CAMJAP, and deputy director Rui Sanches explain, these encounters with different disciplines did not always take the same form, Ernesto de Sousa in turns playing the role of artist, critic and aestheticist. At times, his contact with these fields resulted primarily from his relationships with other artists and people who shared similar interests: “His experience is underpinned by a sense of connectedness between people and practices, artistic and otherwise. Rather than defining him as an artist, his actions should really be described as those of a promotor or instigator. This is a key theme throughout his work; as well as an analyst, critic and polemicist, José Ernesto de Sousa was an artist that sought to encourage other artists. (Ernesto de Sousa. Revolution My Body, 1998, p. 7)

According to Maria Helena de Freitas, “Ernesto de Sousa. Revolution My Body” was not intended to be a retrospective of the works of Ernesto de Sousa or an anthological exhibition, but rather a revisitation of his career and an attempt to interpret and understand a vast and complex body of work, produced by an unconventional artist. Another reason this exhibition did not define itself as a retrospective is, perhaps, the fact that eleven years previously, in 1987, a major retrospective of the works of Ernesto de Sousa took place, spanning Galeria Almada Negreiros, the Museu Nacional de Arte Antiga, Cooperativa Diferença and the Fundação de Serralves. Some of the pieces displayed in 1987 were again exhibited in “Ernesto de Sousa. Revolution My Body”.

The desire to involve other artists, a constant feature of the work of Ernesto de Sousa, was reflected in this exhibition through the participation of João Paulo Feliciano, the first artist to receive the Ernesto de Sousa Scholarship in 1993, who was given the opportunity to manipulate and reshape the Ernesto de Sousa picture library to create a piece of his own. The installation resulting from this invitation, entitled Evolution My Mind, appeared at the end of the exhibition, alongside the video Onze Propostas para uma Exposição sobre Ernesto de Sousa.

When asked how he hoped Evolution My Mind would be received, João Paulo Feliciano said he wanted to “Ask questions of the audience, challenge people to encourage them to participate, introduce an element of playfulness, make art a dynamic, unstable process. These were also among the most important facets of how Zé Ernesto viewed his own work. And they were the aspects I attempted to recreate in this installation. In contrast with the essentially documentary focus of the rest of the exhibition, this room aimed to take people on a journey through the E. S.’ memories, not as passive spectators, but as active participants, steering their own journey. [...] In a physical, immersive, playful way.” (email from João Paulo Feliciano to Maria Helena de Freitas, 10 Nov. 1997, Gulbenkian Archives, CAM 00396).

The works exhibited were loaned from two main sources: the Biblioteca Nacional de Portugal [Portuguese National Library], which possessed a significant archive of documents, and the collection of Isabel Alves, Ernesto de Sousa’s widow, including a large quantity of slides, photographs and other materials, yet to be catalogued at the time. In addition to these two main sources, contributions were made by artists and close friends of Ernesto de Sousa, mainly in the form of videos and previously unpublished photographic materials.

Eleven artists with close personal and aesthetic ties to Ernesto de Sousa were invited to give their personal view on how they would create an exhibition of the artist’s works. Their contributions were recorded in a video produced by the exhibition curators, with visuals by Joana Gonçalves and post-production by Pedro Antunes. The artists featured were: Alberto Carneiro, Pedro Proença, João Vieira, Fernando Calhau, Julião Sarmento, Pedro Cabrita Reis, José Barrias, Ana Hatherly, Helena Almeida, Ângelo de Sousa and Leonel Moura. This dialogue between curators and artists reflected Ernesto de Sousa’s personality and one of the most frequently recurring themes in an artistic practice that prioritised sharing and the idea of the collective, expressed so succinctly in the phrase: “My body is your body, your body is my body.” According to David Santos, such statements exemplify Ernesto de Sousa’s open and multidisciplinary character.

Thematically, the exhibition drew on two key concepts in the works of Ernesto de Sousa: happenings and the importance of the ephemeral, and the notion of celebration and social interaction. These two elements justify the decision to gather photographic and video records of group events organised by the artist. These became the central theme of the exhibition, other works occupying a background role, aiming, in the words of Maria Helena de Freitas, to “foreground the power of his presence, his body and his affections as a mediating force in the creation of these artistic happenings” (Ernesto de Sousa. Revolution My Body, 1998, p. 9).

The exhibition takes its title – “Ernesto de Sousa. Revolution My Body” – from two of the works exhibited, dating from 1979, which encapsulate how the artist viewed his own artistic practice, which consisted of aestheticizing autobiographical study. When establishing the criteria for selecting works to display, the idea of unfinished work, or work in progress – an idea often referenced by Ernesto de Sousa himself - was also embraced.

The first of the seven exhibition rooms was devoted to unpublished photographic works, dating from the 1950s and 1960s. Rather than becoming a conventional small photographic exhibition, the room instead aimed to demonstrate how, during this period, the camera came to mediate the relationship between the artist and those around him, a constant presence recording his everyday life, already hinting at an affinity for the moving image and cinema, the focus of the second room of the exhibition. This room sought to reflect on Ernesto de Sousa’s interest in film, in particular his reference to Almada Negreiros as the archetypal complete artist, and the multimedia piece Almada, um Nome de Guerra (1969-1979). This reflection also identified 1969 as a year of transition or rupture in Ernesto de Sousa’s career, during which his experiences in the world of cinema combined with other practices in an attempt to create a complete spectacle, encompassing multiple disciplines.

The year 1969 also marked the beginning of a practise that connected art and life, a rebellion against individualism and authorial intent in art, influenced by the Fluxus movement pioneered by Robert Filliou and Wolf Vostell, with whom Ernesto de Sousa was in close contact. The exhibition curators wanted the interconnectedness between art and life to be apparent in the exhibition design, which incorporated a series of 8 mm films by Manuel Torres and photographs of parties and social gatherings at the house Isabel Alves and Ernesto de Sousa shared in Janas, Estoril and Carrascal, as well as friends’ houses, alongside works such as O Encontro no Guincho (1969), filmed in 8 mm by Joaquim Barata, and Aniversário da Arte (1974). Though produced at different moments in time, the combination of these pieces and the exhibition of the works Este É o Meu Corpo n.º 2 and Este É o Meu Corpo n.º 3 aimed to assert the artist’s life as a work of art in its own right and recognise a life committed to art.

However, as illustrated by Revolution My Body (1978), it was not just the life of the artist that was elevated to the status of artwork, but also happenings in the street, protests, graffitied walls and workers movements, reflecting the revolutionary spirit of the times. These moments and performances were represented in the exhibition through the films Exercícios de descontracção orientados por Ernesto de Sousa, com alunos do Curso de Formação artística da SNBA, em casa de Joaquim Barata no Carrascal (c. 1968), produced by Manuel Torres, Encontro do Guincho (1969), produced by Joaquim Barata, Um Dia no Guincho com Ernesto (1969), by Carlos Calvet, 1.º Acto-Algés 1969 (1969), by José Manuel Torres, and Nós Não Estamos Algures (1969), produced by Jorge Silva.

The remainder of the exhibition space is described by David Santos in the following terms: “In the remaining rooms, as well as the length of the vast wall that connects the various spaces, we see a selection of works of Mail-Art, a series of altered posters, as well as a massive, never-ending projection of slides, which faithfully represents the type of language Ernesto often used himself, evidencing a clear strategy of revealing his most decisive moments of action.” (Santos, O Independente, 27 Mar 1998, p. 14)

The exhibition ended with a hanging dual projection screen showing a chronological sequence of collective happenings in Portugal and abroad, in which Ernesto de Sousa played a pivotal role, either as organiser or protagonist. This also presented an opportunity to include certain events not explored by the exhibition, such as “Expo AICA SNBA” (1972-1974), “Luís Vaz 73” (1975), “Alternativa Zero” (1977), the Venice Biennale (1980) and “Onze Artistas Portugueses em Milão” (1978).

More than a document of the exhibition, the catalogue was the outcome of a major research project undertaken by the curators, functioning as an object in its own right, independently of the exhibition. It is a collection of the complete works and ideas of José Ernesto de Sousa (including those that never came to fruition), as well as an anthology of writings by the artist himself that enable us to better understand the concepts that guided his artistic thought and practice.

The exhibition received a mixed reception in the Portuguese press. João Pinharanda considered it “one of the most interesting curatorial experiences of recent years. [...] Free from nostalgia, reverence and historical reductionism”. His only criticism was that the exhibition catalogue “was not published in time for the exhibition” (Pinharanda, Público, 24 Apr. 1998).

Celso Martins, on the other hand, was perhaps the harshest critic of the exhibition, pointing the finger at various aspects. While, on one hand, he said that the exhibition could not really be considered a retrospective, “given its intangible nature”, neither could it be called a documentary exhibition, “insofar as it does not attempt to shed light on his whole career, seeking points of departure and establishing connections that offer an understanding of the different points on his journey” (Martins, Expresso. Poster, 31 Mar 1998). In the article he wrote on the exhibition, entitled “Aventura em segunda mão”, Celso Martins also stated that rather than items created to be exhibited, “very little of what we see was initially intended to be displayed”. He claimed that the approach fetishized the personality of Ernesto de Sousa, echoing criticism by Alexandre Pomar of the rerun of “Alternativo Zero” in Serralves in 1997.

The exhibition curator, Miguel Wandschneider, responded to Celso Martins’ review by stating that the curators of the exhibition never intended to mythologise the figure of Ernesto de Sousa, and any such interpretation was unintentional. On the claim that it lacked the objectivity intrinsic to a documentary exhibition, Wandschneider argued that all of the items on display, including artworks, were treated as documents, which contributed to the clear documentary nature of the exhibition. He concluded by characterising Celso Martins’ analysis as confused and superficial.


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[Ernesto de Sousa. Revolution my Body]

8 mar 1998 – 28 mar 1998
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria de Exposições Temporárias (piso 01)
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Helena de Freitas (à esq.), Pedro Tamen (ao centro) e Miguel Wandschneider (à dir.)
Helena de Freitas (ao centro.) e Pedro Tamen (à dir.)
Miguel Wandschneider (à dir.)

Multimédia


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00396

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite, catálogo da exposição «Esse Ouro Dantes», lista de convidados, projetos de Ernesto de Sousa, apólices de seguro, textos de Ernesto de Sousa, esquema de classificação do espólio de Ernesto de Sousa, correspondência interna e externa, formulários de empréstimo, recortes de imprensa e material para o catálogo. 1990 – 1998

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 132927

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 1998

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 109458

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 1998


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