António Sena. Obras sobre Papel

Exposição retrospetiva do artista português António Sena (1941), comissariada pelo crítico de arte António Rodrigues e organizada pelo Centro de arte Moderna. A mostra apresentou um conjunto de desenhos e aguarelas, caracterizados pelo uso de suportes pouco convencionais e pelo recurso à escrita, presente em muitos dos trabalhos.
Retrospective exhibition of Portuguese artist António Sena (1941) curated by art critic António Rodrigues and organised by the Modern Art Centre. The show presented a set of drawings and watercolours which were characterised by their unusual formats and by the presence of writing in many of the works.

A exposição retrospetiva da obra de António Sena (1941) compreendeu trabalhos realizados sobre papel entre 1964 e 1989. Inaugurada a 18 de outubro de 1990, esteve patente na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (piso 01) até 11 de novembro. Foi comissariada por António Rodrigues, crítico de arte, organizada por José Sommer Ribeiro, diretor do Serviço de Exposições e Museografia e do Centro de Arte Moderna, e assessorada por Jorge Molder.

Esta exposição foi realizada na sequência das exposições «Jorge Martins, 1957-1987» (1988) e «Álvaro Lapa. Obras sobre Papel» (1989), partilhando com elas a temática: obras sobre papel.

A mostra reuniu quase 200 trabalhos inéditos de pintura e desenho, realizados a partir de 1964, «momento inaugural desta antologia, porque significa a consciencialização de uma linguagem pessoal, em dívida para com o expressionismo americano (Pollock, Kline ou De Kooning) mas autonomizando-se através de uma influência criativa orientalizante e de uma forte preocupação de organização formal e compositiva através de uma estrutura de manchas articuladas» (Pinharanda, Público, 19 out. 1990).

O conjunto das obras selecionadas de António Sena pretendia ser esclarecedor «do seu percurso, em que a escrita, os números, os graffiti, são uma constante, e em que o suporte – papel pautado ou quadriculado, folhas e música ou de escrita comercial, etc. – tem um papel de relevo, sendo por vezes realçado com colagens» (António Sena. Obras sobre Papel, 1990).

O trabalho exposto exprimia a importância do automatismo na obra de António Sena, enquanto forma de «desaprendizagem do desenho e da escrita», modo de recuperar «algo como um impulso primitivo, de uma intencionalidade mínima e da expressão infantil» («António Sena. Gulbenkian», Expresso, 10 nov. 1990).

Além da utilização de suportes pouco convencionais, como folhas quadriculadas e pautas de música, a escrita é um elemento que ocupa uma grande presença nos trabalhos expostos, podendo essa presença ser ocasional e aleatória ou ter uma intenção estética e decorativa, legitimada pela criação de um vocabulário pessoal e constante. Tal como afirma Leonor Nazaré, «os sinais que se aparentam a letras ou, ocasionalmente, o são de facto, são distribuídos num processo supostamente aleatório e desconexo de preenchimento decorativo do suporte e/ou das linhas semiestruturantes do desenho» (Nazaré, Expresso, 10 nov. 1990).

A exposição foi vista como «um interminável exercício formalista» por Carlos Vidal, que qualificou o trabalho de Sena como uma «caligrafia pictórica academicista» (Vidal, Público, 2 nov. 1990).

O catálogo da exposição apresenta ensaios de Maria Filomena Molder e Sílvia Chicó.

A retrospetiva percorria várias fases do trabalho de António Sena, que começa com as garatujas dos anos 60, em que o artista explorou alguns conceitos típicos do surrealismo, como as formas para-ideográficas esvaziadas de sentido e os anti-ideogramas, sendo mais tarde influenciado pela arte conceptual, que o levou a inserir nos desenhos mensagens «que quase descrevem projectos, mas negam essas mesmas determinações, continuando um jogo de palavras que já havia estabelecido nos anos 60» (António Sena. Obras sobre Papel, 1990).

Os últimos anos da década de 80 são marcados pela libertação da forma, «em que o espaço e o desenho vivem num clima de liberdade, como que rompendo os seus enquadramentos». Sílvia Chicó refere-se-lhes como «auto-citação autorizada […] numa atitude lúdica de quem afinal vai ainda só a meio do caminho» (António Sena. Obras sobre Papel, 1990).

Simultaneamente, e a completar esta retrospetiva, esteve patente na Galeria EMI Valentim de Carvalho uma exposição de pintura (1987-1990) de António Sena, onde se reuniam trabalhos mais recentes.

Carolina Gouveia Matias, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

José Sommer Ribeiro (ao centro)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM 00441

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite, orçamentos, correspondência interna e externa e recortes de imprensa. 1990 – 1991

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D02258

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 1990

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-D00697

Coleção fotográfica: aspetos (FCG, Lisboa) 1990

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0265-D00844

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 1990

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0265-D00845

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 1990

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0265-D00846

Coleção fotográfica p.b.: aspetos (FCG, Lisboa) 1990


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