Exposição individual da artista portuguesa Graça Pereira Coutinho (1949), radicada em Londres. Esteve patente na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (piso 01), onde foram expostas várias séries de pinturas e desenhos, produzidos entre 1986 e 1989, nas quais a artista explorava diferentes texturas e materiais.

Com um percurso internacional que José Sommer Ribeiro caracteriza como «seguro, profundamente meditado mas simultaneamente poético», a artista propôs apresentar na Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) uma seleção de trabalhos recentes.

A única peça tridimensional incluída na mostra consistia em quatro caixas de vidro contendo materiais diversos (5 Caixas, s.d.). Estes materiais, em bruto (palha, fibras, vime) ou manufaturados (têxteis), remetiam para o ponto de partida e o destino da sua criação artística.

Ao percorrer o espaço, o espectador era confrontado com diferentes ambiências, ora terrosas ora etéreas, que o transportavam para um universo de sonhos e memórias. Nas pinturas de Graça Pereira Coutinho, o natural funde-se com o sintético (tinta acrílica, colas), e o real com o imaginário, numa sobreposição de camadas, todas elas percetíveis. Este processo cumulativo reflete o funcionamento da memória. Por outro lado, uma alusão à ação retrospetiva pode ser encontrada nas frases escritas em sentido inverso (da direita para a esquerda) que habitam algumas destas pinturas.

As séries expostas – Letter to My Mother (1986-1987), Chairs (1987), Loop (1988), Etruscan Door (1989), entre outras – são reveladoras do modus operandi da artista. Cada nova série contém elementos da série anterior, que progressivamente vão sendo substituídos por outros. O uso da caligrafia, por exemplo, é transversal às séries que se seguiram a Letter to My Mother (1986-1987); do mesmo modo, o elemento da cadeira que surge numa das pinturas desta série é o mote da série seguinte, Chairs (1987).

Na sequência desta exposição, o Centro de Arte Moderna adquiriu para a sua coleção uma pintura da série Etruscan Door (1989).

Mariana Roquette Teixeira, 2018