Hannah Höch (1889 – 1978). Colagens

Exposição individual e itinerante da artista alemã Hannah Höch (1889-1978), que resultou da iniciativa do Instituto de Relações Culturais com o Exterior de Estugarda, em colaboração com o Goethe-Institut de Lisboa. Esta exposição centrava-se nas colagens da artista alemã, prática pela qual foi reconhecida nacional e internacionalmente.
Individual travelling exhibition of the work of German artist Hannah Höch (1889-1978) resulting from an initiative of the Institute for Foreign Cultural Relations, Stuttgart, and with collaboration from the Goethe-Institut in Lisbon. The exhibition centred on the artist's collage work, for which she is known in Germany and the world.

Exposição itinerante da obra de Hannah Höch (1889-1978), organizada pelo Instituto de Relações Culturais com o Exterior (Estugarda, Alemanha), em colaboração com o Goethe-Institut de Lisboa. Esta mostra estava integrada num programa de exposições da responsabilidade do referido instituto, que tinha como objetivo «mostrar no estrangeiro a arte alemã do século XX sob aspectos muito específicos da História da Arte através de personalidades artísticas importantes» (Hannah Höch, 1889-1978. Colagens, 1989, p. 7). Duas outras exposições pertencentes a esse programa já haviam sido apresentadas na Fundação Calouste Gulbenkian: «Artes Gráficas e Design na República Federal da Alemanha» (1978) e «Max Ernst. Obra Gráfica e Livros» (1987).

Como o título desde logo indica, esta exposição centrava-se nas colagens de Hannah Höch, prática pela qual a artista foi reconhecida, nacional e internacionalmente. A par da seleção de colagens, foram apresentados nove painéis com documentação fotográfica, que davam conta do seu percurso artístico, mostrando reproduções das suas primeiras colagens, registos fotográficos do seu círculo de amigos, dos grupos que integrou, das exposições em que participou e de algumas viagens que realizou.

Segundo Eberhard Roters, a obra completa de Höch permanecia então «praticamente desconhecida do grande público, e o conhecimento e as ideias acerca dela limitam-se, geralmente, a pequenas parcelas» (Hannah Höch, 1889-1978. Colagens, 1989, p. 8). A primeira grande exposição que procurou contribuir para um olhar mais abrangente sobre a obra de Hannah Höch foi «Hannah Höch: Fotomontagen, Gemälde, Aquarelle», apresentada em 1980 na Kunsthalle Tübingen. Através desta última, em particular da sua secção de fotomontagens, foi concebida uma exposição de menores dimensões, que mostraria ao público estrangeiro uma seleção de colagens não restrita ao período dadaísta da artista, incluindo outros momentos do seu trabalho.

As suas primeiras experiências com colagens foram representadas pela obra Chefes de Estado, uma composição cheia de ironia, datada de 1918-20, na qual a artista fez uso de uma fotografia, publicada na Berliner Illustrirte Zeitung, em que figuram Friedrich Ebert, presidente do Reichstag, e Gustav Noske, ministro da Defesa, a banharem-se no mar Báltico depois de uma visita de Estado. Se só por si esta imagem já tinha gerado polémica, ela torna-se ainda mais caricata ao ser conjugada com ilustrações infantis, às quais Höch sobrepõe as figuras recortadas de Ebert e Noske em fato de banho.

Seguem-se outras colagens marcadas pela ironia e pelo sarcasmo, como A Janota I (1923-25), O Mestiço (1924), O Equilíbrio (1925), Crianças (1925), entre outras. Estas revelam como Höch «gostava de falar por meio de insinuações e de codificar conteúdos» (Ibid., p. 92). Ao observar estes trabalhos, Peter Krieger refere-se ao modo como, «através de uma alquimia secreta, [a artista] conseguiu criar, ainda em pleno tumulto polémico, através de combinações cheias de espírito, novos mundos de formas e sentidos a partir de reproduções banalíssimas» (Ibid., p. 88).

Como a seleção de colagens mostra, ao longo do seu percurso Hannah Höch foi trabalhando novos temas e experimentando diferentes materiais e relações entre as imagens recortadas. Se nas primeiras colagens os recortes sobressaem do fundo mais ou menos liso, este vai ganhando outro impacto até se fundir com as formas, nos trabalhos mais recentes.

Os temas escolhidos pela artista estavam fortemente relacionados com os tempos que se viviam e com os locais onde a artista se encontrava. Isto explica a opção de incluir painéis documentais que acompanhassem os trabalhos expostos. Por exemplo, a dureza e a sobrevivência na cidade industrial estão presentes em A Obra (1930) e Dançarina Inglesa (1928); a guerra e a tentativa de esquecer por momentos o medo estão implícitos em Por Nada neste Mundo Assentar os Dois Pés no Chão (1940). Por outro lado, alguns ambientes surrealistas dos seus trabalhos da década de 1940, como Noite do Sonho (1943-46) e Vela da Luz (1943-46), refletem a sua mudança para Heiligensee, onde a casa e o jardim se tornaram o seu principal refúgio.

A partir de meados da década de 1950, as colagens passam a integrar elementos de revistas e brochuras publicitárias com cores intensas e brilhantes. Em Grotesco (1963), Homenagem a Riza Abbasi (1963), A Festa Pode Começar (1965) e Beleza Estrangeira II (1966) notam-se cruzamentos da leveza da pop art com o sonho, o absurdo, a ironia, o inesperado e a provocação provenientes do dadaísmo e do surrealismo. Do mesmo período data também a abstratizante Composição em Cinzento (1965), também patente na mostra.

Através da diversidade das colagens selecionadas, esta exposição procurava apresentar Hannah Höch como uma artista que «nunca se fixou só numa direcção, servindo-se de todas as possibilidades, que as várias tendências lhe ofereciam, misturando-as conforme necessitava» (Hannah Höch, 1889-1978. Colagens, 1989, p. 66). A própria artista afirmara: «Para mim é mais importante desenvolver de uma forma cada vez mais ampla o meu modo de vida e de trabalho, modificando-o e enriquecendo-o, mesmo que essa evolução interminável me tenha tornado impossível um êxito fácil.» (Ibid., p. 66)

Do catálogo produzido para a exposição, constam os textos que Götz Adriani, Eberhard Roters e Peter Krieger escreveram para a mostra retrospetiva Hannah Höch: Fotomontagen, Gemälde, Aquarelle (Kunsthalle Tübingen, 1980).

Depois de ter sido apresentada em Lisboa, a exposição integrou a programação da Fundação de Serralves, no Porto, entre 2 de março e 22 de abril de 1990.

Mariana Roquette Teixeira, 2018

The itinerant exhibition of artworks produced by Hannah Höch (1889 - 1978) was organized by the Institut für Auslandsbeziehungen (IfA) [Institute for Foreign Cultural Relations] (Stuttgart, Germany) in collaboration with the Goethe-Institut in Lisbon. This exhibition was part of the programme under the auspices of the IfA and aimed to “show the 20th century German Art abroad from a very specific perspective of the History of Art in connection with significant artists” (Hannah Höch. 1889-1978. Colagens, 1989, p. 7). Two other exhibitions held under this programme had already been presented at the Calouste Gulbenkian Foundation (FCG): Artes Gráficas e Design na República Federal da Alemanha [Graphic Art and Design in the Federal Republic of Germany] (1978) and Max Ernst: Livros e Obra Gráfica [Max Ernst: Books and Graphic Artworks] (1987).

As the title indicates, this exhibition focused on the collages made by the German artist, a technique for which she became recognized in her own country and abroad. In addition to the selected collages, nine panels with photos were presented showing her artistic development through reproductions of her first collages, photos of her circle of friends, groups she participated in, exhibitions in which her works were presented and some of the journeys she made.

According to Eberhard Roters, Höch’s complete work remained at the time “(…) virtually unknown to the general public, and knowledge and ideas about the artist are generally quite limited” (Hannah Höch. 1889-1978. Colagens, 1989, p. 8). The first major exhibition aimed at contributing to a more comprehensive new look at Hannah Höch’s work was Hannah Höch: Fotomontagen, Gemälde, Aquarelle [Hannah Höch: photomontages, paintings, watercolours] presented in 1980 at the Kunsthalle Tübingen. Based on this event, on its photomontages section specifically, a smaller exhibition was planned to show to the foreign public a selection of collages, including other periods of the artist’s work, in addition to those of the Dadaist period.

Her first experiences in collages included Staatshäupter [Heads of State], a composition full of irony dating back to 1918-20, in which the artist made use of a photograph published in the Berliner Illustriert Zeitung which displayed Friedrich Ebert, the first president of Germany, and Gustav Noske, Minister of Defence, bathing in the Baltic Sea after a state visit. This image had already generated a great controversy, but Höch ridiculed the situation even more by putting clipped figures of Ebert and Noske in bathing suits on a background with children’s illustrations.  

The artist’s strong irony and sarcasm remained in other collages, such as Die Kökette I [The Coquette I], (1923-25), Mischling [Half-Caste] (1924), Equilibre [Balance] (1925), Kinder [Children] (1925), among others. They reveal how Höch “(...) liked to speak through innuendo and to encode contents” (Hannah Höch. 1889-1978. Colagens, 1989, p. 92). Observing these works, Peter Krieger states: “As if through a secret alchemy, even in the midst of controversial turmoil, she was able to create through combinations full of spirit – new worlds of forms and senses from very banal reproductions” (Hannah Höch. 1889-1978. Colagens, 1989, p. 88).

As the selected collages show, Hannah Höch worked, over her artistic pathway, on new subjects and experimented different materials and relations between the cropped images. If in the first collages the clippings stand out from the more or less flat background, the latter is gaining another impact until it merges itself with the shapes.

The subjects chosen by the artist were strongly related to the times and to the places inhabited by her. That explains the option of including documental panels, which accompanied the exhibited works. For example, hardness and survival in the industrial city are represented in A obra (1930) and in Indische Tanzerin ([Indian Dancer], (1928), the war and the attempt to forget fear for a moment are implicit in Nur nicht mit beiden Beinen aufder Erde stehen ([Never Keep Both Feet on the Ground] (1940).  On the other hand, some surrealistic environments in her works of the 1940s, such as Traumnacht ([Dream Night] (1943-46) and Lichtsegel ([Light Sails], (1943-46) relate to her move to Heiligensee, where the house and the garden became her main refuge. 

Since the mid-1950s, elements from magazines and advertising brochures with intensive and bright colours become part of the collages. In Grotesk ([Grotesque], (1963), Hommage a Riza Abasi ([Homage to Riza Abasi], (1963), Das Fest kann beginnen ([On with the Party], (1965) and Fremde Schonheit II ([Strange Beauty II], (1966) we can see the intersection of the pop art’s lightness with the dream, the absurd, the irony, the unexpected and the teasing that comes from the Dadaism and the surrealism. Of the same period, an abstract Komposition in Grau [Composition in Gray], (1965) was also exhibited.

Through the diversity of the selected collages, this exhibition sought to show Hannah Höch as an artist who “(...) never set herself in just one direction but as someone who used all the possibilities provided by the diversity of styles at her disposal, mixing them as she needed.” (Hannah Höch. 1889-1978. Colagens, 1989, p. 66). The artist herself stated: “(...) it is more important for me to develop my way of life and work more and more broadly, modifying and enriching it, even though this endless evolution has made it impossible for me to succeed easily.” (Hannah Höch. 1889-1978. Colagens, 1989, p. 66)

A catalogue, which included texts written by Götz Adriani, Eberhard Roters and Peter Krieger for the Hannah Höch retrospective exhibition: Fotomontage, Gemälde, Aquarelle (Kunsthalle Tübinge, 1980), was published for this exhibition.

After being presented in Lisbon, the exhibition was part of the Serralves Foundation’s program, in Oporto, from March 2 to April 22, 1990.


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

José Sommer Ribeiro (à esq.)

Documentação


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00061

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência e material enviado pelo Instituto de Relações Culturais com o Exterior (Estugarda, Alemanha). 1988 – 1991

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/019-D02236

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 1989


Exposições Relacionadas

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.