Exposição organizada pela Fundação Japão, com o apoio da Embaixada do Japão em Portugal e da Fundação Calouste Gulbenkian. Ao longo de dezanove dias, a Zona de Congressos da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian foi ocupada por um conjunto significativo de figuras em madeira e cerâmica que retratavam inúmeros aspetos da cultura japonesa. Com uma longa tradição, a arte popular das bonecas japonesas, cujas origens remontam ao período Jomon (c. 3000 a.C.), mantinha-se fortemente presente no Japão do século XX, onde a profusão de bonecas gerava exposições-concurso.

Como explica Tetsuró Kitamura, no seu texto para o catálogo, foi a partir do período Edo que os artesãos começaram a desenvolver diferentes formas e a experimentar diversos materiais (madeira, papel, tecido, argila), criando técnicas novas. Enquanto na execução de modelos tradicionais eram seguidos preceitos rígidos, com vista a alcançar uma qualidade técnica superior; noutros casos, a liberdade criativa em termos formais era permitida, como nas «Bonecas Criativas Kokeshi», que haviam surgido após a Segunda Guerra Mundial.

Dispostas em vitrinas, as bonecas foram agrupadas segundo as técnicas de construção, as tipologias (Kokeshi, Gosho, Kimekomi, Oyama, Ichimatsu, Jidai Fuzoku), as características formais regionais (Quioto, Hakata) e as festividades do calendário japonês – festivais Hinamatsuri (dia das meninas) e Kodomo no Hi (festival das crianças ou dos rapazes) – ou os espetáculos (Noh, Kabuki) a que estavam associadas.

Assim, através destas bonecas, encaradas como formas de oração, personificação de espíritos, proteção, elevação de tradições antigas, adorno ou elementos de distração da mente, o visitante tomava conhecimento de uma série de costumes, rituais e práticas que se mantinham no Japão do século XX.

A sobriedade da museografia contribuiu para realçar os aspetos formais e cromáticos destes objetos tão particulares. A ausência de legendas e textos explicativos no espaço de exposição foi compensada pelo catálogo, que oferece descrições pormenorizadas das diversas bonecas expostas.

Mariana Roquette Teixeira, 2018