III Bienal Internacional de Gravura. Representação Portuguesa

Bienal Internacional de Gravura de Florença

Participação de Portugal na «III Bienal Internacional de Gravura», realizada no Palazzo Strozzi, em Florença. Autonomizando a gravura enquanto prática artística, apresentou uma seleção de cinco trabalhos de quatro artistas portugueses: Guilherme Parente (1940), Ilda Reis (1923-1998), João Hogan (1914-1988) e Vítor Fortes (1943).
Portugal's contribution to the 3rd International Print Biennale, held at the Palazzo Strozzi in Florence, an event validating printmaking as an art form in its own right. The display comprised a selection of five artworks from four Portuguese artists: Guilherme Parente (1940), Ilda Reis (1923-1998), João Hogan (1914-1988) and Vítor Fortes (1943).

Em 1972, teve lugar em Florença a «III Bienal Internacional de Gravura», presidida pelo professor Armando Nocentini, que, em outubro de 1971, solicitou à Fundação Calouste Gulbenkian a organização da representação portuguesa na Bienal, na secção contemporânea (Carta do Presidente da Bienal para José Azeredo Perdigão, 11 out. 1971, Arquivos Gulbenkian, SBA 15373).

Para participar na iniciativa foi nomeada uma comissão de seleção, que integraria representantes das principais instituições: a Secretaria de Estado da Informação e Turismo (SEIT), a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), a Gravura – Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses, a Sociedade Nacional de Belas-Artes (SNBA) e a Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA).

Como resultado da ponderação entre estas entidades, foram apresentados quatro nomes para a representação nacional no certame: Guilherme Parente (1940), Ilda Reis (1923-1998), João Hogan (1914-1988) e Vítor Fortes (1943). O número de participantes foi determinado pelos organizadores e, como condição de participação, cada um dos artistas apresentaria cinco obras destinadas à secção contemporânea, também estas selecionadas pela mesma comissão. A mostra consistiu na apresentação no Palazzo Strozzi, em Florença, destes cinco trabalhos de cada um dos artistas. Nas palavras do crítico Rui Mário Gonçalves, que assinaria o prefácio do catálogo: «O júri […] resolveu escolher, entre todos os que devem ser internacionalmente apresentados, um conjunto que demonstrasse a diversidade de concepções. Assim, quatro artistas, quatro tendências.» (Portogallo. III Biennale Internazionale della Grafica, 1972)

A seleção incidiu no trabalho realizado «nas oficinas portuguesas» e excluiu artistas que já tivessem participado em edições anteriores desta Bienal. Contudo, no texto de catálogo, o júri não deixaria de mencionar gravadores que não foram considerados por se encontrarem a trabalhar no estrangeiro, mas cujo trabalho era digno do maior mérito, tais como Bartolomeu Cid dos Santos, Lourdes Castro e António Costa Pinheiro. A representação contava assim com artistas de diferentes gerações, sendo João Hogan o que há mais tempo se dedicava à prática da gravura. Mais jovens que Hogan, os restantes três artistas eram bolseiros ou ex-bolseiros da FCG.

O catálogo da representação portuguesa, com um relevo na capa da autoria de Vítor Fortes, apresentava também breves biografias dos artistas e a reprodução das obras em exibição. Neste seria ainda destacado «o momento de excepcional importância» que a gravura tinha vivido nos últimos vinte anos em Portugal, principalmente desde 1956, com a criação de uma cooperativa de gravadores portugueses: a Gravura. Esta sociedade, composta e administrada por artistas, foi criada com o objetivo de apoiar a democratização no acesso à arte, bem como fomentar um ambiente de experimentação e convívio entre artistas. Rui Mário Gonçalves destacaria a importância dos subsídios concedidos pela FCG para a sobrevivência e atividade da cooperativa, os quais permitiram equipar as oficinas da cooperativa e promover cursos práticos de especialização.

Este período foi fundamental para que a gravura deixasse de ser entendida como suporte artístico subsidiário da pintura e da escultura e passasse a ser considerada pela sua originalidade e diversidade técnica. O convite para a participação portuguesa na «III Bienal Internacional de Gravura de Florença» comprova a repercussão internacional dos esforços empreendidos pelos gravadores portugueses, tendo mesmo sido atribuída a Ilda Reis, à data bolseira da FCG, a medalha de ouro da Bienal pela obra Génese I.

No âmbito da mostra, foram adquiridas em Florença duas gravuras de Ilda Reis (Génese I e Incidência II), uma obra de João Hogan (Naufrágio) e uma outra de Guilherme Parente (Sem título).

Filipa Coimbra, 2016


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

sem título

Guilherme Parente (1940- )

sem título, Inv. GP909

sem título

Guilherme Parente (1940- )

sem título, Inv. GP914

sem título

Guilherme Parente (1940- )

sem título, Inv. GP915

sem título

Guilherme Parente (1940- )

sem título, Inv. GP913

Asilado

João Navarro Hogan (1914-1988)

Asilado, Inv. GP1399

Aurora

João Navarro Hogan (1914-1988)

Aurora, Inv. GP1397

Ficção

João Navarro Hogan (1914-1988)

Ficção, Inv. GP325

Naufrágio

João Navarro Hogan (1914-1988)

Naufrágio, Inv. GP320

Poluição

João Navarro Hogan (1914-1988)

Poluição, Inv. GP339

Stable 2

Vitor Fortes (1943)

Stable 2, 1971 / Inv. GP888

Wrapper

Vitor Fortes (1943)

Wrapper, 1971 / Inv. GP1385

sem título

Guilherme Parente (1940- )

sem título, Inv. GP909

sem título

Guilherme Parente (1940- )

sem título, Inv. GP914

Naufrágio

João Navarro Hogan (1914-1988)

Naufrágio, Inv. GP588


Publicações


Documentação


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 15373

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência recebida e expedida, orçamento, lista de obras, manuscrito do prefácio do catálogo, da autoria de Rui Mário Gonçalves, e elementos para a elaboração do catálogo da representação portuguesa à Bienal. 1971 – 1972


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