Bartolomeu Cid dos Santos

Exposição retrospetiva da obra do artista português Bartolomeu Cid dos Santos (1931-2008). Esta mostra resultou de uma intensa colaboração entre o artista e José Sommer Ribeiro (1924-2006), e pretendeu oferecer um olhar abrangente sobre mais de três décadas de produção artística em gravura, entre os anos de 1956 e 1988.
Retrospective exhibition on the work of Portuguese artist Bartolomeu Cid dos Santos (1931-2008). The exhibition was the result of an intense collaboration between the artist and José Sommer Ribeiro, and sought to present a panoramic view of more than three decades of the artist's prints between 1956 and 1988.

Exposição retrospetiva da obra de Bartolomeu Cid dos Santos (1931-2008), artista português então radicado em Londres, onde dirigia o departamento de gravura da Slade School of Fine Art.

Apresentada na Galeria do Centro de Arte Moderna (piso 1), esta mostra resultava de uma intensa colaboração entre o artista e José Sommer Ribeiro, com vista a oferecer um olhar abrangente sobre mais de três décadas de produção artística (1956-1988) dedicadas à gravura.

Do período de estudante na Slade School of Fine Art, foram apresentadas, nomeadamente, Estudo para a Primeira Gravura (1956), Rapariga no Atelier (1956), Chaminés de Londres (1956), que revelavam as primeiras experiências do artista em gravura e as suas impressões da cidade, que então conhecia pela primeira vez. No catálogo da exposição, é citada uma entrevista de Cid dos Santos concedida a Inês Sarre, em 1988, na qual o artista relembra o seu primeiro contacto com a gravura: «No dia em que entrei no “atelier” de gravura da Slade encontrei a forma de arte que naturalmente me servia, e assim encontrei-me a mim mesmo.» (Bartolomeu Cid dos Santos, 1989)

A mostra segue um percurso cronológico, agrupando os trabalhos segundo séries ou «famílias», tendo por base as temáticas e técnicas de gravura exploradas.

Entre as séries expostas, destaca-se Sobre o Estado das Coisas (1974-1988), na qual surgem fortes referências ao Estado Novo, à PIDE, à guerra colonial, à Revolução dos Cravos e ao pós-25 de Abril de 1974. A forte componente crítica desta última era contrabalançada com o elogio, reconhecimento e tributo prestado a figuras preponderantes da cultura portuguesa, através das séries de gravuras dedicadas à poesia de Fernando Pessoa e seus heterónimos, bem como à de Cesário Verde. Nesta mesma linha, foram ainda apresentadas gravuras de homenagem às obras de Jorge Luis Borges, Franz Schubert e Andrei Tarkovski. Em todas estas, realizadas ao longo da década de 1980, Bartolomeu Cid dos Santos fez uso da ideia de colagem, apropriando-se de imagens e signos e sobrepondo-os. O efeito criado, dando a impressão de que as imagens se vão desvanecendo progressivamente, remete para o tempo e o seu poder transformador.

Como observa Edward Lucie-Smith no seu texto para o catálogo: «Não é um dos seus méritos menos importantes o que elas nos dizem sobre a Gravura propriamente dita – o que ela faz com facilidade, o que ela faz com dificuldade, mas com um efeito surpreendente, as coisas que ela comunica melhor do que qualquer outro “medium”.» (Bartolomeu Cid dos Santos, 1989)

Assim, esta mostra podia igualmente ser encarada sob o ponto de vista da constante reinvenção do medium levada a cabo pelo artista, consoante as necessidades dos temas de que se ocupava.

As gravuras fantasmagóricas da década de 1960 que foram selecionadas, principalmente a série dos Bispos, revelam reminiscências das gravuras em água-tinta e água-forte de Francisco Goya (1746-1828). A crítica social e política parece ter estado desde cedo presente no trabalho de Cid dos Santos. Como observara Hélder Macedo, num texto citado no catálogo: «Bartolomeu constrói um barroco mundo público de grandeza esvaziada [sic], onde os anacrónicos dignitários da nação se perpetuam nas formas decompostas da sua função social, como velhos actores duma peça que já foi e que continuam pregados ao palco, apodrecendo nas suas vestes.» (Ibid.)

Num outro núcleo foram agrupadas gravuras da década de 1970, nas quais se nota uma insistência quase obsessiva em certos signos, como o labirinto, inspirado na literatura de Jorge Luis Borges, a esfera, a pirâmide e o arco de volta perfeita, lembrando fortemente os desenhos e teorias do arquiteto visionário Étienne-Louis Boullée. Ao falar destes trabalhos o artista observa: «[…] por detrás desta fachada aparentemente racionalista, esconde-se uma atmosfera inquietante e perturbadora, que nos leva a fazer perguntas e interrogações. […] Assim, uma porta dá para uma sala na qual se encontra uma outra porta que dá para uma outra sala e assim sucessivamente. É a metáfora visual da pergunta que conduz a uma resposta, que por sua vez levanta outra pergunta. Para mim os labirintos de Borges são o equivalente latino dos meandros de Kafka. Com ambos se identifica o meu trabalho, bem como com as florestas de Grunewald e com os labirintos de Knossos, equivalentes mediterrânicos das florestas nórdicas.» (Bartolomeu Cid dos Santos, 1989)

Considerada pelo JL «a mais sólida e porventura mesmo a mais significativa obra de artista português nessa disciplina» («Bartolomeu, um estado de transe», JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias, 21 nov. 1989), esta exposição retrospetiva do percurso de Bartolomeu Cid dos Santos era acompanhada por um catálogo, que, além dos textos de Edward Lucie-Smith e de João Miguel Fernandes Jorge, apresentava uma detalhada fotobiografia, com excertos de outros textos críticos e entrevistas concedidas pelo artista.

Mariana Roquette Teixeira, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Atlantis

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

Atlantis, 1971 / Inv. GP2192

Atlantis Revisited

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

Atlantis Revisited, Inv. GP762

Chaminés de Londres

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

Chaminés de Londres, 1957 / Inv. GP1981

Ecce Homo

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

Ecce Homo, Inv. GP282

Forbiden Garden

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

Forbiden Garden, 1971 / Inv. GP760

Four Bishops

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

Four Bishops, 1962 / Inv. GP1346

Homenagem a Cesário

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

Homenagem a Cesário, 1985 / Inv. GP305

Homenagem a Cesário

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

Homenagem a Cesário, 1985 / Inv. 05GP1937

O Barco dos Doidos

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

O Barco dos Doidos, 1961 / Inv. GP115

O poeta Alberto Caeiro

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

O poeta Alberto Caeiro, 1984 / Inv. GP293

O poeta Fernando Pessoa

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

O poeta Fernando Pessoa, 1984 / Inv. GP284

One big mirror

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

One big mirror, Inv. GP2181

Para que não voltem é preciso não esquecer

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

Para que não voltem é preciso não esquecer, Inv. GP413

Portuguese men of war

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

Portuguese men of war, 1961 / Inv. GP1347

sem título

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

sem título, Inv. GP405

sem título

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

sem título, Inv. GP759

The explorers

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

The explorers, Inv. GP764

The secret place

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

The secret place, Inv. GP2178

The visitor

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

The visitor, Inv. GP761

Um amante, o zolofo da Pátria...

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

Um amante, o zolofo da Pátria..., Inv. GP393

Vida Silenciosa

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

Vida Silenciosa, Inv. GP2177

Vida Silenciosa

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

Vida Silenciosa, 1964 / Inv. GP20


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Pedro Tamen (à esq.)
Pedro Tamen (à dir.)
Pedro Tamen (ao centro)
Madalena de Azeredo Perdigão (à esq.)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00052

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência, pedidos de empréstimo, lista de obras para efeitos de seguro, lista de convidados para a inauguração, textos para o catálogo e convite. 1988 – 1991

Biblioteca de Arte Gulbenkian, Lisboa / Dossiê BA/FCG

Coleção de dossiês com recortes de imprensa de eventos realizados nas décadas de 80 e 90 do século XX, organizados de forma temática e cronológica. 1984 – 1997

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/004-D00503

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 1989


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