No final de 1983, José Sommer Ribeiro, diretor do Centro de Arte Moderna (CAM), realizou uma viagem a Paris, onde teve a oportunidade de observar os primeiros estudos de Júlio Pomar (1926-2018) para a proposta de animação plástica de uma das nove novas estações do metropolitano de Lisboa. Meses mais tarde, sensivelmente em julho de 1984, Sommer Ribeiro voltou a apreciar os desenhos finais do artista e, em carta dirigida ao presidente da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), José de Azeredo Perdigão, confessaria que ficara «esmagado não só pela quantidade, mas pela qualidade dos desenhos», considerando que aquele material poderia dar origem a uma exposição «notável», que «teria o maior interesse» para o CAM. No entanto, a realização da exposição não seria decidida imediatamente, uma vez que o local de montagem foi sujeito a discussão (Apontamento do Centro de Arte Moderna, 11 jul. 1984, Arquivos Gulbenkian, CAM 00055).

No final de junho de 1984, o próprio Júlio Pomar escreveria a José de Azeredo Perdigão, não só mostrando interesse em expor os trabalhos que realizara ao longo de um ano no âmbito do projeto do metropolitano, mas também considerando ser o CAM «o local ideal para tal manifestação». Nessa mesma missiva, Pomar aludia à relevância da exposição: «Penso hoje que, independentemente das imagens que no local ficarão como resultado definitivo, e, nessa qualidade, por si só a elas lhes cumpre defenderem-se, seria curioso de trazer a público o que foi a sua gestação, de mostrar com o detalhe possível, a lenta elaboração de um trabalho deste âmbito. Antevejo pois a realização de uma exposição que reunisse não a totalidade (porque fatigante e portanto contraproducente) mas um conjunto suficientemente expressivo dos estudos preparatórios. E o eventual interesse estético de tal conjunto dobrar-se-ia de não menor interesse didático, como amostragem de como uma obra nasce e evolui no recato da oficina do pintor.» (Carta de Júlio Pomar para José de Azeredo Perdigão, 28 jun. 1984, Arquivos Gulbenkian, CAM 00055)

Pelo facto de se tratar de uma exposição temporária, o artista manifestou também, no mesmo documento, a intenção de doar algumas das obras expostas para a coleção do CAM.

No veredito final, em despacho datado de 17 de julho de 1984, Azeredo Perdigão viria finalmente a tomar uma decisão: «Concedo gostosamente a autorização pedida.» (Apontamento do Centro de Arte Moderna, 11 jul. 1984, Arquivos Gulbenkian, CAM 00055)

Após alguma ponderação, e uma vez que a Sala de Exposições Temporárias da Sede da FCG não estava disponível, José Sommer Ribeiro concluiu: «Resta-nos portanto, e dada a qualidade das obras, e por ser um artista dos nossos dias, o Centro de Arte Moderna», acrescentando que a apresentação de Júlio Pomar na galeria de arte estrangeira do CAM, «além de toda a vantagem de a podermos mostrar ao público português, permitirá um estudo reflectido da referida zona do Museu que, quanto a mim, a anterior apresentação [de Almada Negreiros] tinha deficiências» (Apontamento do Centro de Arte Moderna, 26 set. 1984, Arquivos Gulbenkian, CAM 00055).

A organização da exposição contou, numa primeira fase, com um processo de pré-seleção da responsabilidade de Sommer Ribeiro, Júlio Pomar e António Dacosta. Nesta fase foram selecionados 423 trabalhos. Posteriormente, e já sem a colaboração de António Dacosta, decidiu-se que a exposição apresentaria 250 desenhos, dos quais 50 seriam expostos em vitrinas e os restantes 200 sobre vidro. Júlio Pomar acompanhou de perto a montagem da exposição, passando mais de uma semana no espaço do CAM.

A exposição dos desenhos organizava-se em quatro setores: (1) «Camões», que incluía, «além da série de retratos […], itens ligados à sua obra, como cenas da Ilha dos Amores, sereias, guerreiros e alguns animais: girafas, elefantes, rinocerontes, etc.»; (2) «Bocage», «uma série de retratos, frades cúpidos, burros, etc.»; (3) «Fernando Pessoa», com «variados retratos do poeta, sentado à mesa do café, os heterónimos de Pessoa, Pessoa e Almada e ainda Pégaso, gaivotas, etc.»; e (4) «Almada», com «vários retratos do artista, arlequins, figuras de circo, cenas de ódio, etc.».

Além dos desenhos, foram ainda expostos quatro painéis de azulejos representando as figuras dos quatro poetas, concebidos por Pomar e realizados na Fábrica de Cerâmica da Viúva Lamego.

José Sommer Ribeiro considerava que esta seria uma exposição «com uma montagem muito especial», dado exigir a criação de «ritmos que correspondam à forma de concepção das obras, umas quase repetitivas, outras a serem francamente isoladas» (Ibid.).

No final, Júlio Pomar doou ao Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian seis obras de grandes dimensões.

No contexto desta exposição, Teresa Vaz da Silva foi convidada a realizar dois vídeos: um sobre a exposição «Júlio Pomar: 1 ano de desenho, 4 poetas no Metropolitano de Lisboa» (1984) (Biblioteca de Arte, VC581) e outro sobre o novo Centro de Arte Moderna da FCG, «Uma visita ao Centro de Arte Moderna» (1984-1985) (Biblioteca de Arte, VC491). A realizadora assinou sob o nome de Tereza Martha.

Ana Lúcia Luz, 2016