Ben Nicholson

Exposição retrospetiva do pintor vanguardista inglês Ben Nicholson (1894-1982), fruto da parceria entre o British Council, com o apoio da Fundación Juan March e da Fundação Calouste Gulbenkian. No âmbito da primeira mostra individual do pintor em Portugal, foram exibidas 64 obras, desde o desenho à pintura, oferecendo uma antologia muito abrangente do arco cronológico da sua obra.
Retrospective exhibition on avant-garde English painter Ben Nicholson (1894-1982) resulting from a collaboration between the British Council, the Fundación Juan March and the Calouste Gulbenkian Foundation. As part of the artist's first solo show staged in Portugal, a display of 64 works, from drawing to painting, provided a comprehensive chronological overview of Nicholson's work.

Em 1972, Naum Gabo (1890-1977) merecera uma mostra na Fundação Calouste Gulbenkian. Seguiu-se Leslie Martin (1908-2000), em 1986. Era agora a vez de Ben Nicholson (1894-1982), em 1987. Conforme refere José Sommer Ribeiro, diretor do Centro de Arte Moderna (CAM), na apresentação do catálogo, esta retrospetiva da obra do artista britânico, há muito ambicionada pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), vinha concretizar o desejo de realizar exposições individuais dos três principais fundadores da Circle: International Survey of Constructivist Art, revista de vanguarda londrina, de escopo modernista e internacional, cujo único número foi editado em 1937.

A exposição partiu da iniciativa do British Council, que, em articulação com diversas instituições internacionais, programou esta itinerância da obra de Ben Nicholson por Espanha e Portugal.

A circulação da mostra estava inicialmente prevista apenas para Espanha, entre a Fundación Juan March (Madrid) e a Fundació Joan Miró (Barcelona). É na sequência da desistência desta última que surge a proposta para a FCG apresentar o projeto nas suas instalações e garantir os demais apoios para a sua vinda a Portugal (Carta de Henry Meyric Hughes para José Sommer Ribeiro, 8 jul. 1986, Arquivos Gulbenkian, SEM 00360).

A iniciativa ganhava assim contornos ibéricos, com os custos totais de transporte e seguros a serem divididos equitativamente entre a FCG e a Fundación Juan March.

A exposição esteve patente em Madrid de 6 de fevereiro a 26 de março de 1987 e inauguraria na Galeria de Exposições Temporárias da FCG no dia 10 de abril do mesmo ano. Em Lisboa, apresentaram-se 64 obras (66 em Madrid), datadas de 1919 a 1981, oferecendo uma antologia muito abrangente do arco cronológico da obra do autor, através de trabalhos que iam do desenho à pintura, passando por sínteses modernistas que envolviam a colagem e as texturas, contando ainda com 18 dos seus característicos relevos geométricos e mais uma inesperada caixa pintada.

Merece destaque a produção das décadas de 1930 e 1940, em maior abundância na exposição. Trata-se, justamente, do período entre guerras, animado pela publicação de Circle, em 1937, e em que a arte de Ben Nicholson, então membro do grupo Abstraction-Création, se mostra mais apostada em refletir, de um modo muito próprio, sobre os programas estéticos do Construtivismo e do Neoplasticismo.

A exposição «Ben Nicholson» terá sido seguramente marcante para divulgar a vanguarda britânica entre o público e o meio artístico ibérico. Contribuiu para consolidar o conhecimento desse que, em boa medida, é considerado um Modernismo de periferia (como se poderá dizer daquele que aconteceu em Portugal e também em Espanha). A sensibilização para esse importante contexto histórico beneficiou ainda da participação de Leslie Martin, que assina um dos textos do catálogo e que marcou presença na inauguração da exposição na FCG e nos outros eventos programados para a ocasião.

Recorde-se que o arquiteto inglês tinha projetado o edifício do CAM com base no desenho prévio do próprio Sommer Ribeiro, então diretor do CAM. A relação entre os dois arquitetos é lembrada pela fotógrafa Felicitas Vogler, terceira e última esposa de Ben Nicholson, numa carta que dirige a Sommer Ribeiro por ocasião da exposição, onde deixa expresso o seu apoio e o de Leslie Martin à produção da mostra. Martin empresta inclusivamente uma das peças mais emblemáticas a ser exposta: Argolis (1959), uma grande tela de 122 × 230 cm, reproduzida no cartaz e na capa do catálogo da exposição.

Também Vogler esteve presente em Lisboa, trazendo consigo, por sugestão de Martin, algumas ampliações fotográficas de Ben Nicholson a trabalhar no seu ateliê – a documentação disponível não esclarece se foram ou não utilizadas, embora se reitere essa possibilidade quer numa carta de Ann Elliott para Sommer Ribeiro (Carta de Ann Elliott para José Sommer Ribeiro, 1 dez. 1987, Arquivos Gulbenkian, SEM 00360), quer na correspondência que este recebe de Vogler nas semanas que antecedem a inauguração (Carta de Felicitas Vogler para José Sommer Ribeiro, 15 mar. 1987, Arquivos Gulbenkian, SEM 00360).

Se a obra de Ben Nicholson era, à data, relativamente mal conhecida em Portugal, já Portugal não seria tão mal conhecido por Nicholson e pela sua obra. O artista dedica inclusivamente algumas peças a lugares portugueses, entre elas o relevo 1971 (Óbidos, Portugal 3) (1971), presente nesta exposição.

Relembre-se que a FCG assumiu, desde cedo, um compromisso destacado perante a arte britânica moderna. O arranque mais declarado dessa aposta dá-se com a exposição «Arte Britânica do Século XX», logo em 1962. Essa mostra, que esteve em itinerância por Lisboa, Coimbra e Porto, foi também ela decorrente de uma parceria com o British Council. É ainda na década de 1960, e fruto dessa colaboração continuada entre as duas instituições, que a FCG começa a reunir a sua coleção de arte britânica do século XX, um acervo que ocupa atualmente um lugar de relevo no panorama internacional.

Daniel Peres, 2017

Naum Gabo (Briansk, Russia, 1890 Waterbury, USA, 1977) was given an exhibition at the Calouste Gulbenkian Foundation (FCG) in 1972. He was followed by Leslie Martin (Manchester, United Kingdom, 1908-2000) in 1986. It was now time for Ben Nicholson (Denham, United Kingdom, 1894 - London, United Kingdom, 1982) in 1987. As mentioned by José Sommer Ribeiro, director of the Modern Art Centre (CAM), at the catalogue launch, this retrospective of the British artist's work had been desired by the FCG for a long time, to meet their goal of holding individual exhibitions for each of the three main founders of Circle: International Survey of Constructivist Art, an avant-garde London-based journal with a modernist and international scope, the sole edition of which was published in 1937.
The exhibition was born out of a British Council initiative in cooperation with several international institutions, and it planned this journey for Ben Nicholson's work through Spain and Portugal.
The exhibition's travels were originally due to include only Spain: the Fundación Juan March (Madrid) and the Fundació Juan Miró (Barcelona). After the latter pulled out, the FCG suggested exhibiting the pieces on its premises and said that it could provide other support for them to come to Portugal (Letter from Henry Meyric Hughes to José Sommer Ribeiro, 8 Jul. 1986, Gulbenkian Archives, SEM 00360).
The initiative therefore took on an Iberian scope, with the total transport and insurance costs to be split equally between the FCG and the Fundación Juan March.
The exhibition was open in Madrid from 6 February to 26 March 1987 and opened at the FCG Temporary Exhibitions Gallery on 10 April of the same year. Sixty-four pieces were shown in Lisbon (66 in Madrid), dating from 1919 to 1981, providing a very broad chronological anthology of the artist's work using pieces ranging from drawing to painting, passing through modernist ideas that involved collage and textures and further including 18 of his characteristic geometric reliefs and an unexpected painted box.
His production from the 1930s and 1940s was particularly prevalent in the exhibition. It was, in fact, during the interwar period enlivened by the publication of Circle in 1937 that Ben Nicholson, then a member of the Abstraction-Création group, appeared to be most invested in reflecting, in a very particular way, on the aesthetic lines of constructivism and neo-plasticism.
The Ben Nicholson exhibition was definitely in important moment to spread the British avant-garde among the Iberian public and artistic world. It helped reinforce knowledge about what was, to a great extent, considered a modernism of the periphery (and the same could be said about what happened in Portugal and Spain as well). Raising awareness of that important historical context also benefited from the participation of Leslie Martin, who wrote one of the texts in the catalogue and attended the exhibition opening at the FCG and other events set up for the occasion.
The English architect had drawn up the project for the CAM building based on a previous design by Sommer Ribeiro, CAM director at the time. The relationship between the two architects was remembered by photographer Felicitas Vogler (1922-2006), Ben Nicholson's third and last wife, in a letter she wrote to Sommer Ribeiro around the exhibition in which she expressed her and Leslie Martin's (1908-1999) support for the exhibition. Martin even loaned one of the exhibition's most emblematic pieces: Argolis, 1959, a large 122x230 cm canvas reproduced on the exhibition poster and the cover of the catalogue.
Vogler was also present in Lisbon and, as suggested by Martin, brought with her some enlarged photographs of Ben Nicholson working in his studio (the documents available do not make it clear whether or not they were used, although the possibility to do so is also mentioned in a letter from Ann Elliott to Sommer Ribeiro (Letter from Ann Elliot to José Sommer Ribeiro, 1 Dec. 1987, Gulbenkian Archives, SEM 00360) and in correspondence Sommer Ribeiro received from Vogler in the weeks leading up to the opening (Letter from Felicitas Vogler to José Sommer Ribeiro, 15 Mar. 1987, Gulbenkian Archives, SEM 00360).
While Ben Nicholson's work was, at the time, relatively unknown in Portugal, Portugal was not as unknown to Nicholson or as absent from his work. The artist even dedicates some of his pieces to places in Portugal, including the relief 1971 (Óbidos, Portugal 3), 1971, which was included in the exhibition.
We must remember that very early on, FCG made a special commitment to modern British art. The clearest sign of that commitment took the form of the exhibition Arte Britânica do Século XX [British Art of the 20th Century] in 1962. That exhibition, which travelled through Lisbon, Coimbra and Porto, also arose from a partnership with the British Council. Even in the 1960s, a result of that continuing cooperation between the two institutions, the FCG began to gather its collection of 20th-century British art, a collection that currently has an important place in the international landscape.

Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Conferência / Palestra

[Ben Nicholson]

10 abr 1987
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 3
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM 00360

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência, convite para a inauguração, maquete do catálogo, orçamentos e relatórios de contas, documentação referente ao empréstimo de obras vindas de instituições parceiras, recortes de imprensa, reproduções fotográficas de algumas obras. 1986 – 1987

Biblioteca de Arte Gulbenkian, Lisboa / Dossiê BA/FCG

Coleção de dossiês com recortes de imprensa de eventos realizados nas décadas de 80 e 90 do século XX, organizados de forma temática e cronológica. 1984 – 1997

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0203-D00614

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 1987

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0203-D00615

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 1987

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM-S007-P0203-D00616

Coleção fotográfica, p.b.: aspetos (FCG, Lisboa) 1987


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