A exposição «Obra Gráfica de Miró», organizada pelo Museu de Arte Moderna da Cidade de Paris, onde esteve patente em setembro de 1974, pretendeu assinalar o 80.º aniversário do artista Joan Miró (1893-1983), iniciativa à qual a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) se associou.

Esta exposição de gravura em Portugal era oportuna a vários títulos, como refere o crítico Rui Mário Gonçalves na Revista Colóquio/Artes: «Em primeiro lugar, Joan Miró conta-se entre um dos artistas vivos mais importantes, marcando profundamente o século vinte no que há de mais inovador, não tendo porém até agora a sua obra tido praticamente nenhum contacto com o público português. Em segundo lugar, o carácter ibérico da sua arte é descoberto simultaneamente com a conquista da universalidade da linguagem plástica. Acresce ainda que a gravura, sendo uma arte de vocação essencialmente democrática, necessita porém entre nós de ser evidenciada em exposições prestigiantes como esta, cuja montagem inteligentemente responde ao desafio da quantidade grande de obras que apresenta.» (Gonçalves, Colóquio/Artes, n.º 20, dez. 1974, p. 80)

A exposição na Fundação Calouste Gulbenkian reuniu o mesmo conjunto de obras apresentado em Paris, ou seja, cerca de 400 peças (entre gravuras, litografias, cartazes e livros ilustrados pelo artista). Ainda assim, e segundo proposta da Fundação Maeght, que colaborou na produção da exposição, foram executadas pelo pintor Miró, propositadamente para Lisboa, 75 litografias destinadas à venda direta.

O catálogo da exposição, editado em francês, foi o mesmo utilizado para a mostra em Paris, tendo sido somente acrescentado na primeira página «Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris / Fondation Calouste Gulbenkian / 1974». A monografia constituiu-se como um importante elemento de trabalho sobre a obra gráfica de Miró, reunindo fichas técnicas de cerca de 750 obras do pintor, reproduções das obras expostas e ainda um estudo de Alexandre Cirici (1914-1983), intitulado «Une lecture de l’œuvre graphique de Miró». Os conteúdos textuais do catálogo foram reproduzidos, numa tiragem de menor dimensão, em língua portuguesa. Além desta brochura, a FCG publicou o Jornal da Exposição Miró.

No âmbito das atividades culturais da exposição, realizou-se uma série de eventos paralelos: uma mesa-redonda sobre a produção artística de Joan Miró, na qual intervieram os comissários Jacques Lassaigne, Jacques Dupin e os críticos de arte, María Luisa Borràs, José-Augusto França e Rui Mário Gonçalves; um ciclo de conferências, assegurado por José-Augusto França e subordinado ao tema «Miró e a pintura entre as duas guerras»; e cinco sessões de filmes sobre o artista, disponibilizados pela Fundação Maeght.

Foram ainda realizadas diversas visitas-guiadas para o público em geral e inúmeras visitas de estudo (entre alunos do ensino pré-escolar, primário particular, primário oficial, ciclo preparatório, ensino secundário e ensino técnico), contabilizando-se um total de 46 visitas asseguradas pelo Serviço Educativo da FCG.

Coincidindo propositadamente com a exposição da obra gráfica de Miró, a Fundação Calouste Gulbenkian apresentou em simultâneo, na área de reservas, um outro certame, promovido pelo comité executivo do Patronat Premi Internacional Dibuix Joan Miró, onde foram exibidos os desenhos premiados no contexto do evento anual «XIII Prémio Internacional de Desenho Joan Miró».

As duas exposições dedicadas ao artista catalão alcançaram um enorme êxito junto do público, registando cerca de 20 mil visitantes durante o período de exibição (Diário Popular, 9 jan. 1975).

Dado o evidente interesse pelas exposições de Miró, as datas de encerramento dos certames foram prolongadas até 12 de janeiro 1975 (mais 12 dias além da data fixada).

A imprensa nacional, tanto a especializada como a de divulgação, cobriu intensamente estas exposições. A título de exemplo, transcrevemos um excerto do artigo redigido pelo artista Eduardo Batarda: «É uma exposição enorme, daquelas susceptíveis de nos dar das mais diversas alegrias, dos mais desencontrados prazeres, embora o seja, enfim, em termos de “obra” que, tal como nos é mostrada, a podemos receber.» (Batarda, Diário de Notícias, 7 dez. 1974)

Porém, acerca da exposição do «Prémio de Desenho Joan Miró», o artista não expressa a mesma opinião, afirmando: «A Fundação Calouste Gulbenkian não pode perder tempo com coisas deste género (nem dinheiro, se calhar). […] se a exposição lá foi posta para (por contraste) valorizar o Miró, ele não precisa de ajudas. Que assim são golpes baixos. Não há bela sem senão. Façam por esquecer, e todos à Gulbenkian a ver o Miró.» (Ibid.)

Joana Brito, 2016