António Sena. Pintura

Exposição individual de pintura de António Sena (1941), comissariada por Jorge Molder e Leonor Nazaré. Foram expostos 34 trabalhos realizados entre 1990 e 2002, reveladores de uma linguagem associada à escrita, típica da obra deste artista.
Solo exhibition of paintings by António Sena (1941), curated by Jorge Molder and Leonor Nazaré. The show presented 34 works produced between 1990 and 2002, revealing a visual language reminiscent of written language, a regular characteristic of the artist’s work.

Exposição dedicada à obra de António Sena (1941), organizada pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) e comissariada por Jorge Molder e Leonor Nazaré. A inauguração contou com a presença de Emílio Rui Vilar, presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG).

A mostra, que esteve patente ao público de 4 de outubro de 2002 a 10 de janeiro de 2003 no piso 01 da Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG, incidiu sobre a obra realizada entre 1990 e 2002, antecedendo a exposição antológica apresentada no Museu de Arte Contemporânea de Serralves entre 22 de julho e 26 de outubro de 2003.

Em 1990, o Centro de Arte Moderna (CAM) organizara uma grande exposição retrospetiva do autor, intitulada «António Sena. Obras sobre Papel», comissariada pelo crítico de arte António Rodrigues e organizada por José Sommer Ribeiro (à época diretor do CAM) e Jorge Molder. Esta retrospetiva compreendeu obras realizadas sobre papel, desenho e pintura, produzidas entre 1964 e 1990, reunindo quase 200 trabalhos inéditos. «António Sena. Pintura» foi, em 2002, uma continuação desta retrospetiva, apresentando os trabalhos produzidos no período cronológico que lhe deu seguimento.

A obra de António Sena caracteriza-se por um conjunto de elementos que a tornam facilmente reconhecível – refira-se, a título de exemplo, a constante presença de folhas de desenho, pautas de música ou ardósia –, não obstante a ocorrência de símbolos que surpreendem por não corresponderem a uma afinidade expectável. Tal como afirma Jorge Molder, o trabalho de António Sena é detentor de particularidades que por vezes parecem escapar à compreensão das obras, perturbando aquilo que o leitor pensa já ter percebido: «Podemos apontar-lhe afinidades (ou familiaridades) e adivinhar-lhe alguns procedimentos de construção; porém o que lhe é essencial parece escapar aos nossos expedientes de referência. Como se o artista nos quisesse fugir, ou fugir mesmo ao mundo, através dessa teia de visibilidades que vai urdindo.» (António Sena. Pintura, 2002, p. 5)

A utilização de suportes pouco convencionais, aliada a uma similitude de processos construtivos, é base para uma pintura que se assemelha à escrita e que parte de um vocabulário pessoal e permanente, utilizado, por vezes, com um mero sentido decorativo ou evocando a história icónica e linguística das figuras da escrita. Tal como afirmou Leonor Nazaré: «Não há lógicas de sentido nesse cruzamento, apenas o fascínio por uma amálgama de raízes e corpos de palavras num espaço multidireccional e não linear.» (António Sena. Pintura, 2002, p. 7)

Neste sentido, as frases são construídas aleatoriamente sobre estruturas que não as linhas convencionais, mas antes sobre grelhas ou espaços quadriculados, estabelecendo relações sem significado, justificadas em função do seu valor visual. As palavras escritas são quase sempre em alemão, língua com a qual o artista assume uma relação de estranheza, sendo a sua presença justificada já não apenas pelo valor plástico, mas também como forma de expressar uma interrogação relativamente ao significado das palavras, sua origem e tradução. Na obra de António Sena, o gestualismo automático alia-se a uma vontade de expressar os conceitos de ilegibilidade e ausência de comunicação.

O conjunto pictórico apresentado tinha em comum o fundo em tons térreos e argilosos das telas, sobre o qual foram inscritas palavras e símbolos recorrentes, como a ampulheta. Relativamente aos trabalhos anteriores, estas inscrições aparentavam um maior investimento no esforço manual e relacionavam-se, de uma forma geral, com a morte e a arqueologia do saber e da linguagem.

A disposição das obras nos sete espaços do piso 01 da Galeria de Exposições Temporárias da Sede permitiu ao mesmo tempo uma leitura isolada de cada trabalho e uma leitura de conjunto, possibilitando uma «percepção dos sentidos e matérias que os unem a todos» (Comunicado de imprensa, 2002, Arquivos Gulbenkian, ID: 251627).

No âmbito da exposição, foi realizado um programa de visitas guiadas por Emília Ferreira.

Na sequência da exposição, foram adquiridas as obras PK-ST-01 (1980; Inv. 02P1244) e sem título (2000; Inv. 02P1245), para, parafraseando o diretor do CAMJAP, serem preenchidas lacunas existentes na coleção do Centro de Arte Moderna. Apesar de ter sido adquirida na sequência da exposição, a obra PK-ST-01 não esteve exposta.

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

PK-ST- 01

António Sena (1941- )

PK-ST- 01, 1980 / Inv. 02P1244

sem título

António Sena (1941- )

sem título, 2000 / Inv. 02P1245

sem título

António Sena (1941- )

sem título, 2000 / Inv. 02P1245

PK-ST- 01

António Sena (1941- )

PK-ST- 01, 1980 / Inv. 02P1244

sem título

António Sena (1941- )

sem título, 2000 / Inv. 02P1245


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[António Sena. Pintura]

4 out 2002 – 19 jan 2003
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria de Exposições Temporárias (piso 01)
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Jorge Molder e António Sena (à esq.), Isabel Alçada (ao centro) e Emílio Rui Vilar (à dir.)
Emílio Rui Vilar e António Sena (ao centro)
Alexandre Pomar (à esq.)

Multimédia


Documentação


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00985

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém pedido assinado por Jorge Molder de aquisição de duas obras de António Sena: «PK-ST-01» (1980) e «S/Título» (2000). 2002 – 2002

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 01009

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém processo de aquisição de obras. 2002 – 2002

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 132830

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 2002


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