Inaugurada a 23 de setembro de 2021 e patente ao público nas Galerias de Exposição Permanente do MCG (Artes do Renascimento), entre 24 de setembro e 29 de novembro daquele ano, a exposição «Visões de Dante. O Inferno segundo Botticelli» integrou as comemorações dos 700 anos da morte de Dante Alighieri (1265-1321). A sua organização esteve a cargo do Museu Calouste Gulbenkian (MCG), em colaboração com o Programa Gulbenkian Cultura. O projeto envolveu ainda um grupo de instituições parceiras, como o Instituto Italiano de Cultura, em Lisboa, a Universidade Católica Portuguesa, a Embaixada de Itália e um conjunto de emprestadores, entre os quais se destacam a Biblioteca Apostólica Vaticana, a Biblioteca Nacional de Portugal e a Faculdade de Letras de Lisboa.

A exposição, com comissariado científico de João Carvalho Dias e Maria Helena Melim Borges, construía-se em torno do legado literário, filosófico e cultural da Divina Comédia de Dante, tomando como ponto de partida dois desenhos de Sandro Botticelli (1445-1510) pertencentes à Biblioteca Apostólica Vaticana, alusivos a dois cantos da primeira parte da trilogia dantesca, o Inferno (cantos XII e XIII).

A par dos desenhos de Sandro Botticelli, a mostra reunia um conjunto de obras literárias – manuscritos, livros iluminados e gravuras – do período tardo-medieval e da Renascença Italiana, provenientes dos acervos da Biblioteca Apostólica Vaticana, da Biblioteca Nacional de Portugal e da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa – nomeadamente obras da autoria de Jacopo della Lana (1290-1365), Francesco Petrarca (1304-1374), Giovanni Boccaccio (1313-1375) e Antonio Manetti (1423-1497). Estavam igualmente presentes duas obras da Coleção Gulbenkian, A Eterna Primavera, 1884 (Inv. 28), de Auguste Rodin (1840-1917), e Faca para Papel, 1900 (Inv. 1158), de René Lalique (1860-1945); e ainda desenhos e uma escultura, da autoria de Rui Chafes (1966). A mostra percorria, assim, diferentes períodos históricos até à contemporaneidade, construindo um percurso em que as obras se relacionavam com o poema de Dante, quer pela temática abordada, quer pelo imaginário iconográfico plasmado nas composições.

O catálogo, bilingue, com coordenação editorial de Carla Paulino e Rosário Azevedo, inclui a reprodução e a listagem das obras expostas, textos de Luísa Sampaio e Teresa Bartolomei, apresentação de Isabel Mota (à data, presidente da Fundação Calouste Gulbenkian) e ensaios de Guilherme d’Oliveira Martins, António Filipe Pimentel, José Tolentino Mendonça, Alberto Manguel, João R. Figueiredo, Lucia Battaglia Ricci, Paulo Pires do Vale, bem como do curador da exposição, João Carvalho Dias, que fundamenta a perspetiva explorada na mostra: a construção de «uma viagem pelos livros, pelas leituras e pelos objetos que convocámos em torno das “Visões de Dante”. Uma viagem que será renovada a cada leitura, a cada objeto revisitado, a que é preciso regressar» (Visões de Dante. O Inferno segundo Botticelli, 2021, p. 90).

Na programação associada, destacam-se as diversas visitas com o curador João Carvalho Dias, nos meses de outubro e dezembro, bem como o concerto intitulado «Dante e a Música», pelo grupo italiano de música medieval Ensemble Micrologus, realizado no dia 10 de novembro de 2021, no Auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian, e o ciclo de conferências, «Conversas em torno de Dante», organizado entre os dias 23 de setembro e 24 de novembro de 2021 no Auditório 2 e com transmissão em direto no website da FCG, tendo contado com a participação de José Tolentino Mendonça, José Meirinhos, Armando Norte, Henrique Leitão, António M. Feijó, Teresa Bartolomei, Rui Chafes, Joaquim Sapinho, Paulo Pires do Vale e Alberto Manguel.

A exposição foi alvo de significativo interesse nos meios de comunicação social, comprovado pela profusão de notícias sobre o projeto curatorial e sobre as diversas iniciativas da programação associada. De entre os mais de sessenta artigos (de imprensa e digital) referenciados no dossiê de imprensa da exposição (Arquivos Gulbenkian, ID: 442220), destacam-se: «Dante. O eterno peregrino», de Luís Ricardo Duarte (Visão, 16 set. 2021); «Uma visão menos negra do Inferno», de José Cabrita Saraiva (Sol, 24 out. 2021); e, no semanário Expresso, «Uma vida dantesca», de Luís M. Faria, e «Os dias de Dante», de José Tolentino Mendonça (Expresso, 24 set. 2021). Além destes, assinalam-se igualmente os artigos «Ver Dante e Botticelli», assinado por José Luís Porfírio (Expresso, 16 out. 2021); «Na Gulbenkian há agora dois desenhos de Botticelli que nos levam ao inferno», por Lucinda Canelas (Público, 23 set. 2021); e «Dante Alighieri: da paixão exacerbada aos 9 anos ao exílio perpétuo, a herança do homem que foi ao inferno e abriu a porta ao Humanismo», por Alexandra Carita (Observador, 19 set. 2021).

A mostra recebeu também uma ampla cobertura televisiva e radiofónica, tendo sido divulgada regularmente nos canais da RTP, da SIC Notícias e da TVI, e em diversas estações de rádio (Antena 1, Antena 2), nos quais foi integrada na programação diária, nomeadamente em notícias e reportagens, ou marcando presença em programas temáticos, entre os quais se destaca o magazine cultural As Horas Extraordinárias, da RTP3.

Isabel Falcão, 2023