Rui Chafes et Alberto Giacometti. Gris, Vide, Cris

Exposição que reuniu obras de Alberto Giacometti (1901-1966) e de Rui Chafes (1956), organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian – Délégation en France, em parceria com a Fondation Giacometti de Paris. Apresentou no espaço parisiense da Gulbenkian trabalhos inéditos do escultor português, incluindo esculturas que integram peças de Giacometti, de quem foram apresentados igualmente alguns trabalhos inéditos.
An exhibition that brought together works by Alberto Giacometti (1901–1966) and Rui Chafes (1956), organised by the Calouste Gulbenkian Foundation – Délégation en France in partnership with Fondation Giacometti de Paris. Held in the Paris Gulbenkian, it featured new work by the Portuguese sculptor, including sculptures that contain Giacometti pieces, as well as never-before-seen work by the latter.

Em 2018, a Délégation en France da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) levou a cabo um projeto expositivo que juntou obras de Alberto Giacometti (1901-1966) e de Rui Chafes (1956) – uma reunião que muitos considerariam improvável.

Apresentada no n.º 39 do Boulevard de La Tour-Maubourg, onde então estava instalada a Gulbenkian de Paris, «Rui Chafes et Alberto Giacometti. Gris, Vide, Cris» inaugurou a 2 de outubro de 2018, ficando patente até dia 16 de dezembro do mesmo ano. A iniciativa foi organizada em parceria com a parisiense Fondation Giacometti, que, além de um apoio geral à produção, agilizou a seleção de obras de Giacometti do seu acervo e as cedeu para serem expostas.

A curadoria esteve a cargo de Helena de Freitas, que, no seu texto curatorial, começa por informar que as três palavras contidas no nome da exposição – «Gris, Vide, Cris» – foram colhidas de um verso do próprio Giacometti. À semelhança do título, muitos outros contornos do projeto passaram por ir ao encontro do histórico artista suíço. Contudo, bastará uma breve consulta da documentação disponível para perceber que Giacometti e a sua obra nunca seriam simplesmente homenageados na relação com a escultura de Chafes. O escultor português estudou as peças de Giacometti, contemplou-as, e perante elas propôs desafios, perspetivas, interrogações, pensamento.

A montagem da exposição foi naturalmente crucial para articular este «encontro» – termo preferencial de Chafes para designar a dinâmica subjacente a esta exposição (Rosendo, Contemporânea, ed. 11, 2018). Relembre-se que a Délégation en France ocupava então um edifício oitocentista, que, apesar de remodelado para presentes funções museológicas, oferece alguns meandros arquitetónicos que permitem explorar orgânicas espaciais menos padronizadas. Os aspetos fotográficos de «Gris, Vide, Cris» possibilitam vislumbrar como as relações entre obras passaram por aproximações e afastamentos tensos; apresentações mais isoladas de peças; interações agudas entre obras dos dois artistas, com Chafes a conceber várias esculturas que albergaram obras de Giacometti, formando um único dispositivo. Deste modo, à vertente curatorial e museológica aliou-se uma montagem ela própria artística, especialmente evidente nos casos em que a escultura de Chafes se torna mais «arquitetónica», habitáculo de peças de Giacometti e habitável pelo público.

A consulta do catálogo indica que, de Giacometti, terão sido expostas 15 obras, com datações compreendidas entre 1934 e 1962. Trata-se nomeadamente de 11 esculturas (em materiais que incluíram a terracota, o gesso, o bronze) e quatro desenhos (três a lápis e um a esferográfica). Os desenhos têm no motivo da cabeça o seu campo exploratório. Uma das pesquisas fundamentais e de maior longevidade no percurso do artista, a cabeça, no caso desta exposição, estabelecia também vários eixos comuns entre algumas das peças apresentadas. Mencionem-se especificamente uma pequena Tête de Diego, em terracota, e um desenho a esferográfica representando igualmente Diego, irmão do artista e seu modelo recorrente. Ambas as obras eram então inéditas, segundo o catálogo de exposição (Gris, Vide, Cris, p. 15). Nas restantes esculturas de Giacometti selecionadas para este projeto contam-se mais duas cabeças em terracota, um busto, de crânio afilado, rarefazendo-se, um dos inquietantes Le Nez, e cinco figuras humanas hirtas, estas provenientes de linhas de trabalho que estarão entre as mais icónicas da escultura do autor, juntamente com as figurações de caminhantes. Curiosamente, na mesma altura Paris recebia no Musée Maillol a exposição «Giacometti. Entre tradition et avant-garde», percorrendo alguns desses caminhos mais notabilizados da sua obra (Musée Maillol. Expositions).

De Chafes, foram instaladas sete peças, todas de 2018, excetuando Larme, de 2015. À exceção desta última, todas as peças foram criadas para a exposição e são indissociáveis das pesquisas em torno de Giacometti, quer do ponto de vista conceptual, quer numa perspetiva física, quando envolvem diretamente peças suas. Entre as propostas de maior arrojo, encontramos La Nuit, complexo escultórico em que do ferro de Chafes se suspende um gesso de Giacometti, nomeadamente a versão muito particular de Le Nez, incluída nesta exposição. As várias versões de Le Nez pertencem a uma parte talvez particularmente nebulosa do percurso do artista. São figuras pensadas para serem suspensas e, talvez com a morte em pano de fundo, apresentam um rosto terrificante, distorcido e magro, de boca aberta, com um longo nariz pontiagudo que, no caso da versão em causa, fora cerrado. Num equilíbrio aparentemente periclitante entre si, é como se a opacidade preta do ferro pintado de Chafes distendesse o gesso da figura de Giacometti, como se lhe servisse de máscara, prolongando «ameaçadoramente» no espaço o seu amputado nariz.

Entre as outras criações de Chafes que mais firmam vínculos de génese com peças de Alberto Giacometti – sem as quais não poderão existir publicamente – estão Lumière e Au-delà des yeux. São esculturas penetráveis, que albergam obras de Giacometti observáveis através de orifícios, pequenas vitrinas, fendas, ranhuras, como se de filtros se tratasse, mas construídos para permitir uma rara proximidade com as obras que medeiam. Podendo à primeira vista insinuar barreiras, os filtros de Chafes logo se reiteram portais de acesso aprofundado, inclusive implicando que o ato de observar se dinamize, se intensifique e que, nalguns casos, o observador busque o todo das peças de Giacometti através de uma fragmentação da visão, estimulando um trabalho, exigindo tempo, atenção. Este jogo de relação é comentado numa entrevista de Catarina Rosendo a Rui Chafes sobre esta exposição, e em que a historiadora de arte se dirige a estas peças apelidando-as de «câmaras», termo que se revelaria fértil no artigo em causa (Rosendo, Contemporânea, ed. 11, 2018). A ideia de «câmara», de resto, ecoa também no texto de Doris von Drathen publicado no catálogo de exposição, «La chambre noir de sculpture», em que o conceito é operado para caracterizar instâncias, ora físicas, ora metafísicas, da escultura de Chafes (Rui Chafes et Alberto Giacometti. Gris, Vide, Cris, 2018, pp. 22-29).

«Alberto Giacometti et Rui Chafes. Gris, Vide, Cris» seria sempre uma exposição de contrastes: entre texturas (a lisura preta e opaca do ferro de Chafes medindo-se com as irregularidades manuais e turbulentas dos gessos, terracotas e bronzes de Giacometti); entre escalas (as figurines de Giacometti e a grande amplitude de algumas das superfícies de Chafes); entre idades e tempos (de um artista vivo e de um artista morto). Mas apesar das ostensivas diferenças, haverá, intensamente, pulsões universais entre ambos na sua demanda artística, nos cruzamentos entre matérias e imatérias, nas trocas recíprocas entre visibilidade e invisibilidade (paradoxos destacados em diversos momentos da imprensa e da fortuna crítica associada a este projeto de Paris), e pelo modo como a arte, por caminhos tão diversos, pode manifestar um humanismo trágico, cujo dilacerar é por vezes tão presente quanto inefável.

Quando poéticas tão distintas se reúnem num mesmo espaço, as interações figuram um «encontro», mas poderão também configurar algo que Maria Filomena Molder designaria por «combate». Foi assim que a filósofa portuguesa caracterizou esta proposta expositiva numa conferência paralela à exposição. A sua comunicação teve lugar no dia 6 de novembro de 2018, recebendo o título «Un trou dans la neige», inspirado numa imagem de infância narrada pelo próprio Giacometti. Antes de Molder, a 18 de outubro de 2018, também Federico Nicolao participara como conferencista neste programa paralelo, com «La main dans le vide». Gravações áudio das duas conferências foram disponibilizadas online na Soundcloud da Gulbenkian de Paris (Conférence, 2018, Arquivos Gulbenkian, ID: 103717 e ID: 103710).

Ainda dentro da programação paralela, há notícia da calendarização de visitas orientadas pela curadora Helena de Freitas às quartas-feiras (Fondation Calouste Gulbenkian. Délegation en France).

Uma nota é devida ao catálogo de exposição. As apresentações de Guilherme d’Oliveira Martins, enquanto administrador da FCG, e de Miguel Magalhães, então diretor da Délégation en France, são sucedidas pelo ensaio da curadora Helena de Freitas, ao qual se juntam o texto «Rui Chafes – Alberto Giacometti. Former des fantômes», de Christian Alandete, responsável de exposições e publicações da Fondation Giacometti, e a já referida contribuição da historiadora e crítica de arte Doris von Drathen – igualmente autora de uma recensão sobre a exposição, publicada na revista alemã Kunstforum. Segue-se-lhes uma tradução francesa de «Talvez», um escrito de Chafes de 1998, em que pensa Giacometti, Bruce Nauman (1941), Samuel Beckett (1906-1989), Joseph Beuys (1921-1986), publicado pela primeira vez em 2006 no volume O Silêncio de…, editado pela Assírio e Alvim.

Fechando os conteúdos mais literários do catálogo, surge uma compilação de excertos de entrevistas e conversas com Rui Chafes, publicadas entre 2000 e 2016. Os trechos foram selecionados pela curadora Helena de Freitas, formando uma breve antologia que seria mesmo intitulada «Glossaire». Está organizada em 20 secções de «títulos-conceitos» – entre eles, «Ascension», «Beauté», «Mort», «Temps», «Vide»… –, que aparecem por ordem alfabética, e perante os quais as citações das entrevistas de Chafes abrem linhas de reflexão.

Entre as imagens do catálogo (todas elas a preto-e-branco) encontramos fotografias individualizadas das peças expostas, aspetos fotográficos da exposição montada e registos fotográficos dos ateliês dos artistas (especialmente do de Chafes, acompanhando processos de trabalho para esta ocasião). De notar que, apesar de tão bem nutrido, o catálogo não terá merecido uma versão portuguesa, algo que, de resto, tem acontecido amiúde no contexto das exposições da FCG – Délégation en France. Neste caso, o livro foi editado somente em francês; outras publicações há que mereceram edições nas línguas francesa e inglesa, prescindindo-se de versões em língua portuguesa (exemplos disso são os catálogos Alexandre Estrela. MétalHurlant, 2019, ou Julião Sarmento. La Chose Même, 2016, entre outros).

A cobertura da exposição foi profusa na comunicação social, quer na francesa, quer especialmente na portuguesa, de onde nos chegam os artigos mais aprofundados, registando-se ainda referências noutros meios internacionais (Dossiê de imprensa, ID: 116210). Dos muitos artigos que se ocuparam da iniciativa, destaquemos as várias entrevistas com Rui Chafes em periódicos nacionais. À já referida entrevista conduzida por Catarina Rosendo para a revista Contemporânea (Ed. 11, 2018), juntam-se a de Alexandra Carita para a Revista E do semanário Expresso (20 out. 2018), a de Maria Leonor Antunes para o JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias (10 out. 2018), a de Elsa Garcia para a revista Umbigo (#66, set. 2018). Nestas duas últimas, além dos incisivos testemunhos do artista, é também abordado um aspeto mais conjuntural que ladeou a ocorrência desta exposição na Gulbenkian de Paris, e que diz respeito ao fortalecimento da representação da obra de Chafes no meio artístico francês. É lembrado que, concomitantemente a «Gris, Vide, Cris», duas obras do artista passaram a integrar a coleção do Centre Georges Pompidou. A incorporação mereceu uma apresentação a 1 de outubro de 2018, e não deixaria de ser referida no contexto da exposição da Délégation en France (FCG). As esculturas em causa são Carne Invisível e Carne Misteriosa, ambas de 2013. Atualmente, estão também listadas no website do Pompidou as peças Fina Camada de Gelo III (2021), Corpo Final (2022), As Tuas Mãos (1988-2015) e Sem Voz (2022), como obras hors collection (Centre Pompidou).

A exposição seria ainda mencionada mais colateralmente nos media devido a ter estado patente aquando da comemoração dos cem anos do Armistício de 11 de novembro de 1918, considerado o termo da Primeira Guerra Mundial. A efeméride desse centenário conduz a Paris o presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, que durante essa visita de Estado marcaria presença nesta e noutras exposições, nomeadamente a 10 de novembro de 2018, um dia antes das celebrações solenes (Lusojornal, 14 nov. 2018, pp. 3-4).

De salientar também, no cômputo do panorama expositivo internacional, a coincidência temporal entre «Gris, Vide, Cris» e uma retrospetiva de Giacometti no Guggenheim de Bilbao, que acabou por incrementar algumas chamadas à exposição de Paris por via mais indireta na comunicação social.

No final de 2020, as pesquisas de Chafes em torno de Giacometti teriam mais um desfecho, com uma escultura do artista português a integrar os jardins da Fondazione Centro Giacometti em Stampa, Suíça (sua terra natal). A peça intitula-se Occhi che non dormono e é reminiscente da obra La Nuit – conjunto escultórico que inclui, suspensa, uma das versões de Le Nez, de Giacometti –, que fora apresentada no espaço da FCG – Délégation en France em 2018 (Público, 7 dez. 2020).

Daniel Peres, 2022

In 2018, the Calouste Gulbenkian Foundation (FCG) Délégation en France staged an exhibition project that brought together works by Alberto Giacometti (1901–1966) and Rui Chafes (1956) — a pairing many initially considered improbable.

Taking place at n.º 39 Boulevard de La Tour-Maubourg, then home to the Gulbenkian in Paris, “Rui Chafes et Alberto Giacometti. Gris, Vide, Cris” opened on 2 October 2018 and remained on display until 16 December that year. The project was organised in partnership with the Parisian Fondation Giacometti which, as well as generally supporting the production, helped select Giacometti pieces from their archives, which they loaned for the exhibition.

The exhibition was curated by Helena de Freitas, who began her curator’s introduction by explaining that the three words of the exhibition title— Gris, Vide, Cris — were taken from a poem by Giacometti himself. Like the title, many other facets of the project were a response to the renowned Swiss artist. However, the most cursory of glances at the available documentation shows that Chafes’ sculptures were not a mere homage to Giacometti and his work. The Portuguese sculptor studied and reflected on Giacometti’s pieces, challenging and interrogating them and presenting new perspectives and thoughts.

Naturally, the exhibition layout was key to staging this encounter —Chafes’ preferred term for the underlying dynamic of the exhibition (Contemporânea, Ed. 11/2018). We must not forget that at the time the Délégation en France was housed in a nineteenth century building which, despite having been remodelled and updated to fulfil its modern purpose as a museum, still imbued the space occupied by each exhibition with architectural quirks. Photographic records of “Gris, Vide, Cris” offer a glimpse of how the artworks interact with one another through the tension of proximity and separation. At times, pieces are displayed at a distance from one another, while at others, there is acute interaction between the two artists, Chafes designing several sculptures to contain pieces by Giacometti, forming a single whole. As such, the curatorial and museological approach was reflected in a layout that was artistic in its own right, particularly where Chafes’ sculptures take on a more “architectural” character, habitats for Giacometti pieces, inhabitable by the public.

The catalogue states that the exhibition included 15 Giacometti pieces dating from between 1934 and 1962. These include 11 sculptures (in materials including terracotta, plaster and bronze) and four drawings (three in pencil and one in ballpoint pen). The drawings explore the subject of the head. A recurring theme in the artist’s oeuvre, the head is also the common thread between several of the pieces exhibited. The catalogue lists a small terracotta Tête de Diego and a ballpoint pen drawing also depicting Diego, the artist’s brother and regular model. According to the exhibition catalogue, neither work had been exhibited previously (Gris, Vide, Cris, p. 15). The remaining Giacometti sculptures selected for this project include two further terracotta heads, a bust with a tapered skull, a piece from the disquieting Le Nez series, and five stiff human figures, the latter part of one of the artist’s most iconic groups of sculptural works, along with his walking figures. Interestingly, this exhibition coincided with another at Musée Maillol in Paris, entitled “Giacometti. Entre tradition et avant-garde”, which explored some of these more recognisable facets of the artist’s career (Musée Maillol. Exhibitions).

Seven pieces by Chafes were displayed, all dating from 2018, except Larme from 2015. The latter was the only piece not created specifically for the exhibition, the remainder being inseparable from their exploration of Giacometti, both conceptually and, at times, even physically, designed to contain his works. One of the boldest pieces is La Nuit, a sculpture group in which a plaster piece by Giacometti, the very unique version of Le Nez featured in this exhibition, is suspended from Chafes’ iron structure. The various versions of Le Nez date from what could be considered a particularly dark period of the artist’s career. They are figures designed to be suspended which, perhaps pursued by death, depict terrifying, gaunt faces, distorted, open-mouthed, with long pointed noses - in the example here, partially concealed. A precarious balance exists between the two, as if the black opacity of Chafes’ painted iron is pulling on the plaster of the Giacometti figure, acting as a mask, extending its truncated nose “threateningly” into space.

The other Chafes creations originating directly from pieces by Alberto Giacometti — without which they could not exist publicly — are Lumiére and Au-delà des yeux. These are penetrable sculptures that enclose works by Giacometti, visible through orifices, small windows, cracks and slots, acting almost like filters but designed to create an unusual proximity with the works they mediate. Though at first glance they may appear to be barriers, Chafes’s filters rapidly become portals to deeper access, making the act of looking more dynamic, more intense. In some cases, the viewer searches for a whole Giacometti piece through a fragment of vision, requiring effort, demanding time, attention. In an interview about the exhibition with Catarina Rosendo, Rui Chafes comments on this interplay of relations. The art historian calls the pieces “chambers”, a term used to great effect in the article in question (“Entrevista a Rui Chafes”. Contemporânea, Ed. 11/2018). The idea of the “chamber” also appears in an essay by Doris Von Drathren published in the exhibition catalogue, “La chambre noir de sculpture”, in which the concept is used to describe examples of Chafes’ sculpture, in both physical and metaphysical terms (Rui Chafes et Alberto Giacometti. Gris, Vide, Cris, 2018, pp. 22–29).

“Alberto Giacometti et Rui Chafes. Gris, Vide, Cris” was always bound to be an exhibition of contrasts: between textures (the opaque, black smoothness of Chafes’ iron measured against the bumpy, handcrafted irregularity of Giacometti’s plaster, terracotta and bronze); between scales (Giacometti’s figurines against the imposing planes of Chafes’ work); between ages and eras (one living artist and one dead). Yet despite the ostensive differences, the work of the two artists resonates intensely in terms of its examination of the intersection of material and immaterial, the interplay between visibility and invisibility (paradoxes often highlighted by the press and positive reviews of the project in Paris), and how, despite contrasting approaches, their art is capable of embodying a tragic humanism whose emotional impact is as real as it is indescribable.

When contrasting poetics are united in one space, the interaction between them becomes an encounter, but they can also create what Maria Filomena Molder would refer to as a combat. This is how the Portuguese philosopher characterised the exhibition’s premise in her accompanying lecture. This talk took place on 6 November 2018, under the title “Un trou dans la neige”, inspired by a childhood memory recalled by Giacometti himself. Molder was preceded by Federico Nicolao, who also delivered a talk in parallel with the exhibition on 18 October 2018, entitled “La main dans le vide”. Audio recordings of both lectures are available online via the Gulbenkian Paris Soundcloud page (Lecture, 2018, Gulbenkian Archives, ID: 103717 and ID: 103710).

As part of the programme of events accompanying the exhibition, records indicate that curator Helena de Freitas led guided tours on Wednesdays (Calouste Gulbenkian Foundation. Délegation en France).

Mention must also be made of the exhibition catalogue. The introductions by Guilherme d’Oliveira Martins, a member of the FCG board at the time, and Miguel Magalhães, then director of the Délégation en France, are followed by an essay by curator Helena de Freitas. These are joined by the essay “Rui Chafes–Alberto Giacometti. Former dês fantômes”, by Christian Alandete, head of exhibitions and publications at Fondation Giacometti and the aforementioned contribution from art historian and critic Doris von Drathen — who also wrote a review of the exhibition for the German magazine Kunstforum. These are followed by a French translation of “Talvez”, a piece written by Chafes in 1998, which originally appeared in the 2006 volume O Silêncio de…, published by Assírio e Alvim, in which he reflects on Giacometti, Bruce Nauman, Beckett, and Bueys. This more literary section of the catalogue closes with a selection of excerpts from interviews and conversations with Rui Chafes, published between 2000 and 2016. The passages were selected by Helena de Freitas, forming a brief anthology entitled “Glossaire”. It is organised into twenty sections, referred to as “titles/concepts” — including, “Ascension”, “Beauté”, “Mort”, “Temps” and “Vide — which appear in alphabetical order, featuring quotes from interviews with Chafes as a starting point for discussion of these themes. The images in the catalogue (all in black and white) include individual photographs of the pieces displayed, views of the completed exhibition and photographs of the ateliers of both artists (in particular that of Chafes, showing his working processes in preparation for the exhibition). It is worth noting that, though fairly comprehensive, no Portuguese version of the catalogue was ever produced, as has often been the case for exhibitions held at the FCG – Délégation en France. On this occasion, the book was only published in French, while other publications have been available in French and English, but lacked a Portuguese version (examples include the catalogue for Alexandre Estrela. Métal Hurlant, 2019 and Julião Sarmento. La Chose Même, 2016, among others).

The exhibition received extensive press coverage in France and, notably, Portugal, the source of the most detailed articles, and was also covered by the international media (Press dossier, ID: 116210). Of the many articles about the project, highlights include several interviews with Rui Chafes in Portuguese newspapers. The interview with Catarina Rosendo for the magazine Contemporânea (Ed.11/2018), mentioned above, is joined by interviews with Alexandra Carita for Revista E, a supplement of weekly paper Expresso (20 October 2018), Maria Leonor Antunes for Jornal de Letras, Artes e Ideias (10 October 2018) and Elsa Garcia for the magazine Umbigo (#66, September 2018). In addition to illuminating insights from the artist, the latter two also referred to the wider context of this exhibition at the Gulbenkian in Paris at a time when Chafes’ work was gaining recognition in France. At the time of the exhibition “Gris, Vide, Cris”, two works by the artist were acquired by the Centre Georges Pompidou collection. A presentation was held on 1 October 2018 and was frequently referenced in relation to the exhibition taking place at the Gulbenkian Délégation en France (FCG website). The sculptures in question are Carne invisível and Carne Misteriosa, both from 2013. They are now joined on the Pompidou website by Fina camada de gelo III (2021), Corpo Final (2022), As tuas mãos (1988–2015) and Sem Voz (2022), as hors Collection works (Centre Pompidou website).

The exhibition was also received more passing mentions in the press due to the fact it was on display at the time of the 100th anniversary of the Armistice of 11 November 1918, considered the end of the First World War. Celebrations to mark this centenary saw Portuguese President Marcelo Rebelo de Sousa visit Paris. During this state visit, he appeared at various exhibitions including this one, on 10 November 2018, the day before the remembrance ceremony (Lusojornal, 14 Nov 2018, pp. 3–4).

On the international level, it is also worth noting that “Gris, Vide, Cris” coincided with a Giacometti retrospective at the Guggenheim in Bilbao, which gave the Paris exhibition additional indirect media exposure.

In late 2020, Chafes’ work again drew on his study of Giacometti. On this occasion, the Portuguese artist created a sculpture for the gardens of the Fondazione Centro Giacometti in his birthplace of Stampa, Switzerland. The piece, entitled Occhi Che Non Dormono, is reminiscent of La Nuit— a sculpture group that features a piece from Giacometti’s Le Nez series, suspended —  part of the FCG – Délégation en France exhibition in 2018 (Público, 7 Dec 2020).


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Conferência / Palestra

Federico Nicolao. La Main dans le Vide

10 out 2018
Fundação Calouste Gulbenkian / Delegação em França – Fondation Calouste Gulbenkian – Délégation en France
Paris, França
Conferência / Palestra

Maria Filomena Molder. Un Trou dans la Neige

6 nov 2018
Fundação Calouste Gulbenkian / Delegação em França – Fondation Calouste Gulbenkian – Délégation en France
Paris, França

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Conferência «La Main dans le Vide». Federico Nicolao
Conferência «La Main dans le Vide». Federico Nicolao

Multimédia


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa

Conjunto de documentos referentes à exposição. Contém materiais gráficos, caderno de exposição e dossiê de imprensa. 2018

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 116215

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG – Délégation en France, Paris) 2018

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 117151

Coleção fotográfica, cor: Conférence de Federico Nicolao «La Main dans Le Vide» (FCG - Délégation en France, Paris) 2018


Exposições Relacionadas

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