Rui Chafes. Würzburg Bolton Landing

Exposição individual de Rui Chafes (1966), organizada pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão e comissariada por Jorge Molder. Sob o título «Würzburg Bolton Landing», foram apresentadas sete esculturas em ferro soldado, isolado a tinta cinzento-escura, numa montagem que foi elogiada pela crítica de arte portuguesa.
Solo exhibition of the work of Rui Chafes (1966) organised by the José de Azeredo Perdigão Modern Art Centre and curated by Jorge Molder. The show featured seven welded-metal sculptures, sealed with a dark-grey paint, titled the “Würzburg Bolton Landing”, in a display praised by Portuguese art critics.

Exposição de escultura do artista português Rui Chafes (1966), patente na Sala de Exposições Temporárias do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) de 16 de maio a 9 de julho de 1995. No âmbito da exposição, foi realizado um encontro entre o escultor e o público, a 18 de maio de 1995.

Würzburg Bolton Landing, o título da exposição, é também o nome do conjunto de sete esculturas que Rui Chafes apresentou no CAMJAP e que remete para uma dupla de referências, homenageando-as: Würzburg é o nome da cidade da Baviera (Alemanha) onde trabalhou e morreu Tilman Riemenschneider (1460-1531), último grande representante da escultura medieval alemã, e Bolton Landing é o nome de um terreno de grande extensão em Nova Iorque, onde David Smith (1906-1965), escultor americano e expressionista abstrato, ergueu o seu ateliê. Estas referências fornecem pistas sobre o pensamento artístico de Chafes e sobre o modo como o artista encara a sua obra. Ao associar os dois locais, Chafes estabelece uma ponte simbólica não só entre dois tempos, como entre dois modelos de autonomia, sugerindo afinidades entre a resistência cultural de Riemenschneider – figura tutelar do Romantismo que rejeitou qualquer influência do Renascimento italiano – e a liberdade artística de David Smith – caso paradigmático da autonomia associada à escultura norte-americana.

Esta dualidade entre romantismo alemão e modernidade escultórica era algo que já vinha sendo trabalhado na obra de Chafes, que com esta exposição, como refere Leonor Nazaré, teve o momento legitimador de uma «progressão na lógica do seu trabalho, não apenas formal mas também vivencial» (Nazaré, Expresso, 1 jul. 1995). Desta forma, Chafes fez coexistir, no mesmo local, antigo e contemporâneo, parte do conjunto de dualidades que caracterizam a sua obra e para o qual contribui a utilização de rede de ferro, matéria que o escultor utilizou para construir estas formas, que enclausuravam e simultaneamente se deixavam trespassar pela luz.

Como lembra Isabel Carlos: «Esta interpenetração é reforçada por uma série de binómios – peso e leveza, alto e baixo, duro e mole, interior e exterior, cheio e vazio – que reforçam a matriz da obra: tornar um material tão pesado e bruto como o ferro em algo de orgânico e frágil, que, inclusivamente na sua forma, pode remeter para a sexualidade como algo que simultaneamente liberta e condiciona.» (Carlos, «Rui Chafes. Würzburg Bolton Landing I», mai. 2010)

As esculturas apresentadas surgiram na sequência dos trabalhos anteriormente realizados, aludindo a partes do corpo humano ou de animais, instrumentos de tortura e próteses. Todas são constituídas por duas partes: uma parte superior, constituída por fitas de ferro soldado, e uma parte inferior de rede de ferro, ambas isoladas por uma camada de tinta cinzento-escura, como era já sua marca autoral e que pretendia anular o ferro enquanto matéria.

São esculturas que, apesar de coexistirem no espaço do visitante, ao serem postas em suspensão adquirem um duplo estatuto, ou seja, estão fisicamente presentes no espaço, mas, «como se se transformassem em sombras, parecem anular a sua própria existência material» (Chafes, Würzburg, Bolton, Landing, 1995).

A montagem da exposição foi elogiada na imprensa portuguesa, nomeadamente por Isabel Carlos, que, na crítica que assinou para o jornal Expresso, assinalou a «montagem eficaz que resolve, aliás, algumas das dificuldades do espaço. O facto de serem peças que partem do texto, dispostas informalmente, contraria o efeito caixote da sala e o baixo pé-direito, o que desde logo revela uma inteligência contextual face ao espaço expositivo disponível» (Carlos, Expresso, 17 jun. 1995).

Uma das esculturas expostas foi oferecida por Rui Chafes ao CAMJAP, como agradecimento pelo apoio concedido na produção das mesmas.

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Würzburg Bolton Landing I

Rui Chafes (1966-)

Würzburg Bolton Landing I, Inv. 95E355

Würzburg Bolton Landing I

Rui Chafes (1966-)

Würzburg Bolton Landing I, Inv. 95E355


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

Encontro com Rui Chafes

18 mai 1995
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Sala de Exposições Temporárias
Lisboa, Portugal

Publicações


Fotografias

Rui Chafes (à esq.)
Jorge Molder (à dir.)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00367

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém desdobráveis, listas de convidados e correspondência externa e interna. 1995 – 1995

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 115820

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAMJAP, Lisboa) 1995

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / COM-S001/044-D02921

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAMJAP, Lisboa) 1995


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