9.ª Edição dos Encontros de Fotografia de Bamako

Programa Gulbenkian Próximo Futuro

Exposição coletiva que trouxe a Lisboa uma seleção de obras da 9.ª Edição dos Encontros de Fotografia de Bamako (Mali, 2011), integrada no Programa Gulbenkian «Próximo Futuro». Sob o tema «Para um mundo sustentável», foram selecionadas 281 fotografias e 10 vídeos, da autoria de 46 fotógrafos e videastas, oriundos de 23 países africanos.
Collective exhibition staged in Lisbon featuring works from the 9th Bamako Photography Encounters (Mali, 2011). The show, which was organised under the theme “For a sustainable world” and included in the Gulbenkian Next Future Programme, featured a selection of 281 photographs and 10 videos by 46 photographers and video artists from 23 African countries.

Exposição fotográfica de trabalhos apresentados na 9.ª edição da bienal «Les Rencontres de Bamako», realizada na capital do Mali em 2011/2012. A mostra foi inserida na programação do Programa «Próximo Futuro» de 2013, repartido nesta edição pelos espaços da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), do Teatro São Luiz e do Teatro do Bairro, em Lisboa.

Com o título «Para um Mundo Sustentável», foi proposto aos artistas refletirem sobre a temática ambiental. A exposição abarcou 281 fotografias e 10 vídeos, da autoria de 46 fotógrafos e videastas, oriundos de 23 nacionalidades africanas: trabalhos que revelaram as idiossincrasias dos países que compõem o continente africano, com olhares muito diversos sobre realidades também elas muito distintas. 

Segundo as curadoras Michket Krifa e Laura Serani, o objetivo nesta edição era transmitir um aviso: «Ecological concerns, formerly limited to a restricted circle of alert visionaries, are now part of our everyday life and at the heart of all debates. Global warming, the exhaustion of mineral and food resources, deforestation, water shortages are today at the centre of all planetary issues and balances. Economic liberalism based on the consumer society has improved productivity and development, but it has also reinforced profit and inequality at the expense of basic respect for people and their environment.» (Ecofund, 2011)

Com um tom marcado pelo ativismo político, a exposição procurava não só dar a conhecer o trabalho de artistas africanos, como passar uma mensagem forte para o exterior do seu núcleo primário, através da denúncia de ações contra o ambiente. Ambicionava-se a descentralização e a procura de soluções ao alertar para realidades que urge conhecer noutras geografias que não a do continente de partida das obras.

«Um tema desta natureza, com as implicações que tem em termos de política ambiental, decisões económicas, defesa do ambiente, regulamentação agrícola, piscatória e industrial, num continente onde, em muitos países, se está longe de atingir os mínimos exigíveis pelo acordo de Quioto, é uma proposta, no mínimo, revolucionária.» (Programa Gulbenkian «Próximo Futuro». «Os "Encontros de Bamako 2011" já começaram!», 2011)

Apesar de a programação do «Próximo Futuro» de 2013 estar focada essencialmente em 14 países do sul de África, a exposição «Para um Mundo Sustentável» retratava as realidades de outras zonas de norte a sul do continente africano.

Como António Pinto Ribeiro, programador e coordenador da exposição, lembrava numa entrevista ao Jornal i: «Em África, muitos dos países têm problemas graves para resolver, alguns por responsabilidade própria, outros por responsabilidade dos europeus, que enviam para lá muito lixo, nomeadamente tecnológico, para ser sepultado.» (Falcão, Jornal i, 19 jun. 2013, pp. 34-35)

André Delgado sublinhava, por seu turno, o «carácter de urgência [do tema] devido à escassez de recursos e à diversidade presente nas diferenças entre o norte, profundamente muçulmano, e a chamada África subsariana, profundamente negra» (Delgado, Jornal Hardmusica, 21 jun. 2013).

As imagens expostas mostram a relação entre a terra e os seres vivos, os animais (como protagonistas), as tradições, a poluição e os cemitérios tecnológicos, os confrontos entre natureza e construção, os regimes totalitários, a Primavera Árabe… E revelam-no quer na forma ficcionada, quer como documento das «estruturas económicas, relações sociais, convulsões políticas, histórias e personagens», refletidas sob a forma de «nostalgia, perda, sustentabilidade da natureza, desequilíbrio social, resistência ambiental, esperança e caos político (principalmente do Norte de África), tensão religiosa, consumismo, modelos de beleza – moda e design» (Martins, Expresso, 6 jul. 2013, p. 38).

Em alguns casos, são «abordagens pessimistas, apocalípticas sobre o estado atual do mundo africano com responsabilidades para muitos governos que, em África, não cuidam das questões ambientais, mas também de muitos governos e empresas europeias, que fazem de muitos territórios africanos depósitos dos seus lixos, muitas vezes os mais tóxicos» («9.ª Edição dos Encontros de Fotografia de Bamako», 2013).

A propósito da 9.ª edição dos Encontros, as curadoras da exposição referiram que 2010 foi o ano em que se celebrou o quinquagésimo aniversário da independência em muitos países africanos, pelo que foi um momento especial de balanço e de reflexão, «não só sobre as estruturas políticas e sociais, como também sobre a distribuição de riqueza» (Ibid.).

Na bienal de 2011/2012, foram convidados fotógrafos e videógrafos com o objetivo, segundo Laura Serani e Michket Krifa, «de testemunharem e identificarem áreas de acção e de resistência, tal como áreas impeditivas da construção de um mundo sustentável. Os diferentes trabalhos apresentados abordam o tema através de registos jornalísticos e documentais, bem como histórias ficcionadas ou metafóricas. A variedade de temas e de linguagens escolhidos pelos artistas permite fazer o balanço da produção artística actual, tanto no continente como na diáspora. E dá-nos a dimensão da efervescência e da renovação permanente da cena fotográfica africana, com destaque para a emergência de uma nova geração que inventa os seus próprios códigos expressivos» (Ibid.).

Essa emergência é referida num artigo publicado no Diário de Notícias, no qual António Pinto Ribeiro salienta as diferenças geracionais nos trabalhos apresentados, com os fotógrafos mais jovens a trabalhar novas expressões como o vídeo. «Este é um campo completamente novo na maior parte dos países em África. […] Ousar outras coisas, outros enquadramentos e utilizar trabalho de pós-produção nas fotografias é algo muito recente nesta geração», observava o coordenador da exposição (Curado, Diário de Notícias, 21 jun. 2013, p. 49).

No mesmo sentido, o jornalista André Delgado salientava na sua crónica que «as diferenças de personalidade entre os fotógrafos também se fazem sentir, os mais velhos rejeitam o uso da cor, os mais novos derrubam todos as fronteiras da ousadia» (Delgado, Hardmusica – Jornal de Cultura e Lazer, 21 jun. 2013).

A exposição foi por isso um «espelho da diversidade de entendimentos fotográficos que atravessa a enorme vitalidade da prática fotográfica africana» (Martins, Expresso, 6 jul. 2013, p. 38). Para que essa diversidade tivesse maior expressão, a Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG foi completamente alterada, com as janelas da galeria transformadas num elemento importante: «A arte, sendo uma representação do mundo, e o jardim, uma construção cultural, podem nesta exposição dialogar na transparência da sua construção cenográfica.» («9.ª Edição dos Encontros de Fotografia de Bamako», 2013)

As janelas faziam a ponte entre interior e exterior, contribuindo para uma quebra de fronteira e permitindo uma ideia de continuidade da exposição. Nas palavras de António Pinto Ribeiro: «Não queríamos que a exposição estivesse fechada por muros. Propusemos que as fotografias fossem colocadas como folhas brancas sem o peso do espaço. Felizmente conseguiu-se uma relação muito feliz entre o espaço interior e exterior com os jardins.» (Delgado, Hardmusica – Jornal de Cultura e Lazer, 21 jun. 2013)

Estas diretrizes estavam muito presentes na museografia da exposição, concebida e materializada pela equipa da FCG numa organização diagonal, aberta e luminosa, que permitia visualizar vários painéis em simultâneo, num olhar múltiplo e de exaltação da diversidade no continente africano.

Além dos trabalhos fotográficos e videgráficos dos 46 artistas participantes, no Jardim da Fundação foram mostradas peças de arte pública de artistas convidados: Catarina Branco, Luís Nobre e Nicholas Hlobo. Estas obras acompanhavam a Rulote de Fátima Mendonça e a Cabana de Catarina Pinto. Ao mesmo tempo, decorria uma outra apresentação de fotografia africana, intitulada Present Tense.

Ao contrário do que aconteceu com a programação de arte pública presente no Jardim por ocasião do «Próximo Futuro» 2013, a visita à exposição «Para Um Mundo Sustentável» exigia a compra de bilhete de ingresso.

Foi disponibilizado um catálogo da mostra, já existente em versão inglesa e francesa, coeditado pelo Institut Français e pela Actes Sud, e realizadas visitas guiadas com o fim de «explorar as questões da sustentabilidade pelo lado mais belo e positivo: desde a própria cenografia da exposição até às obras de artistas que reflectem as suas preocupações ambientais em torno da salvaguarda da vida, dos lugares e da beleza» (Programa Gulbenkian «Próximo Futuro», «Visitas guiadas à exposição de Bamako», 2013).

É a segunda vez que o público português tem a possibilidade de ver as fotografias produzidas para os «Encontros de Bamako». Em 2011, estiveram já expostos, também no espaço Sede da FCG em Lisboa, os trabalhos incluídos na 8.ª edição destes encontros, com o título «Fronteiras».

Os Encontros Africanos da Fotografia de Bamako foram criados em 1994 por iniciativa da associação Afrique en Créations, com o apoio de Alpha Ouma Konaré, presidente do Mali entre 1992 e 2002, para promover a fotografia no e do continente africano. 

Os Encontros de Bamako estão entre os mais importantes festivais de fotografia realizados em África. Organizada pelo Ministério da Cultura do Mali, com o apoio do Instituto Francês, «la Biennale est la première et principale manifestation internationale consacrée à la photographie contemporaine et aux nouvelles images en Afrique. D’envergure internationale, les Rencontres de Bamako sont une plateforme de découvertes, d’échanges et de visibilité, elles s’inscrivent comme un lieu incontournable de révélation des photographes africains et de la diaspora, un temps d’échange avec le public malien et les professionnels du monde entier», de acordo com o site oficial (Rencontres de Bamako. Biennale Africaine de la Photographie. À Propos, 2021).

Após a primeira edição, este evento realizou-se sempre de dois em dois anos, à exceção de 2013, ano em que não foi possível a sua realização devido ao estado de guerra civil vivido no país.

«A itinerância das edições, apresentadas sob a forma de exposição em museus e centros de arte internacionais, tem contribuído para a influência dos Encontros e para a promoção de artistas africanos e suas diásporas pelo mundo.» (Comunicado de imprensa, 2013, Arquivos Gulbenkian, ID: 251636)

Ana Lúcia Luz, 2020


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Lisboa, 21 jun 2013


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