Nuits Claire. La Photographie de Thomas Weinberger

Exposição individual do artista alemão Thomas Weinberger (1964), comissariada por Jorge Calado. O fotógrafo apresentou 28 impactantes paisagens, criadas com dupla exposição. Três delas foram captadas em Lisboa, inclusive nos espaços da Fundação Gulbenkian, que guarda edições dessas imagens na coleção do Centro de Arte Moderna.
Solo exhibition of work by German artist Thomas Weinberger (1964) curated by Jorge Calado. The photographer presented 28 striking landscapes created using a double exposure technique. Three of the landscapes were captured in Lisbon, including in spaces at the Gulbenkian Foundation. The Museum’s Modern Collection includes copies of the images.

Thomas Weinberger (1964) notabilizou-se no processo de sintetizar, numa única imagem, várias exposições fotográficas do mesmo motivo. Circulou por vários países do mundo captando vistas exteriores em diferentes fases do dia e da noite, montando-as e editando-as num processo laboratorial minucioso. Após essa fase de pós-produção, as fotografias finais aliam a altíssima definição à estranheza que advém da aglutinação desses momentos díspares num único enquadramento rigorosamente calibrado.

A 20 de outubro de 2008, o Centre Culturel Calouste Gulbenkian (CCCG) inaugurou uma exposição com 28 dessas obras. A mostra ficou patente ao público entre 21 de outubro e 19 de dezembro de 2008 e teve curadoria de Jorge Calado, crítico de arte português que foi trabalhando assiduamente com a delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG). Calado mediou os primeiros contactos com o artista e encarregou-se da museologia da exposição. A coordenação da produção coube a Maria do Carmo Vasconcellos, assessora de João Pedro Garcia, então diretor do CCCG.

Entre a documentação arquivada, encontra-se um esquema de montagem, gizado à mão levantada, que nos dá a perceção da distribuição das peças no espaço expositivo (Projeto, 2008, Arquivos Gulbenkian, PRS 05372). Consta também uma entrevista em vídeo em que o artista apresenta alguns dos fundamentos basilares da sua relação com o medium fotográfico e em que surgem imagens da exposição montada (Interview de Thomas Weinberger à l'occasion de son exposition Nuits Claires..., 2008, Arquivos Gulbenkian, CDVD 1234).

Nesse testemunho, Weinberger comenta as captações que tinha feito em Lisboa nesse mesmo ano de 2008 – três delas expostas nesta ocasião. As sessões fotográficas que desenvolveu na capital portuguesa passaram pelos espaços da FCG, donde resultou uma dessas três imagens: Museu Gulbenkian, 2008. A peça mostra a entrada principal do Museu Calouste Gulbenkian, na luz híbrida e tensa que caracteriza esta linha de trabalho do autor. Essa imagem faz capa no Relatório Balanço e Contas da FCG para o ano de 2008 e a coleção do Centro de Arte Moderna guarda a única ampliação editada dessa tiragem (Inv. FE95), somando-se-lhe apenas uma prova de autor. Esse acervo conserva também as provas 1/5 das outras duas fotografias de Lisboa expostas em Paris: Al Kantara (Inv. FE96) e West (Inv. FE97) – doadas pelo artista no âmbito desta mostra no CCCG (Arquivos Gulbenkian, CAM 01064).

Por ocasião desta individual de Weinberger, a FCG publicou um catálogo trilingue, com design de Inês Pais, e com o texto curatorial de Jorge Calado entre os conteúdos. É curioso verificar que o título dessa publicação sugere três significações diferentes para o nome da exposição, que variam consoante o idioma. Se na língua francesa se adotou Nuits Claires [Noites Claras], já o inglês preferiu Condensed Light [Luz Condensada], enquanto no alemão se optou por Zwielicht [traduzível como penumbra, crepúsculo, ou lusco-fusco]. Colocando as três expressões em diálogo, elas concorrem para caracterizar, com bastante eficácia, as realizações que o autor expôs em Paris. Cada uma destas fotografias de Weinberger condensa variações da luz captadas a diferentes horas. Fruto disso, as ocasiões noturnas aparecem estranhamente banhadas pelo sol, enquanto as diurnas absorvem contrastes mais penumbrosos. O resultado, acaba por ser a imersão dos referentes numa atmosfera crepuscular, num lusco-fusco que não passa, mas é antes estático e perene.

Assim, estas imagens são como maratonas entre o dia e a noite, ciclo de transitoriedade imparável, que catalisam e explicitam na fixidez da imagem fotográfica. No passar de uma jornada, vão variando as gradações de luminosidade (natural e artificial) bem como a posição dos astros visíveis da Terra. Mudam também os objetos (quer os visivelmente móveis, quer os ilusoriamente imóveis), os seres, os comportamentos, o pulsar da vida. Daí que o mais impactante nestas fotos de Weinberger seja a imutabilidade com que surge todo esse «composto de mudança». Especialmente quando sabemos que a feitura destas imagens compactuou deliberadamente com as imparáveis regras do tempo e que tudo o que é mutável aconteceu diante da câmara em exposições prolongadas. A sensação que oferecem é a de um instante que carrega uma súmula de instantâneos, e em que muito do que deviam ser arrastamentos e fantasmas do que passa, ou se diluíram totalmente ou se fincaram num estatismo anormal e, digamos, monumentalizado.

Estamos, por isso, perante «instantâneos impossíveis», mas que somente a realidade possibilitou, através da penetração aguda e lenta do olho mecânico na superfície do visível. Elevando o real à potência de um hiper-realismo, o autor traz-nos zonas citadinas e arrabaldes urbanos, regiões campestres e complexos industriais, em que a arquitetura (área de formação do artista) protagoniza a sua inevitabilidade de fazer de cada lugar uma paisagem civilizacional e social.

Todos estes contornos do trabalho de Weinberger o enraizaram, em parte, na mais recente tradição da fotografia alemã contemporânea. Esse legado afirmou-se não tanto a partir de Munique (cidade de onde este fotógrafo é natural e onde estabeleceu o seu estúdio) mas antes de Düsseldorf, na orla do casal Hilla Becher (1934-2015) e Bernd Becher (1931-2007). O trabalho de Weinberger dialoga com o de antigos alunos dos Becher, nomeadamente Axel Hütte (1951), Candida Höfer (1944) ou, em especial, Andreas Gursky (1955).

O CCCG foi diligente na divulgação da mostra junto dos órgãos de comunicação social, o que resultou numa atenção bastante pronunciada por parte da imprensa francesa. Entre os vários artigos na imprensa dedicada à fotografia, refira-se, por exemplo, «Et la lumière fut!», de Sophie Tomte, para a revista Azart Photo (jan.-mar. 2009), publicada já no mês seguinte ao fecho da mostra, e expandindo o seu efeito no tempo. Foi igualmente relevante a atenção conferida por periódicos dedicados à arquitetura – aspeto central da imagética do fotógrafo e arquiteto Thomas Weinberger.

Daniel Peres, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Al Kantara

Thomas Weinberger (1964-)

Al Kantara, 2008 / Inv. FE96

Museu Gulbenkian

Thomas Weinberger (1964-)

Museu Gulbenkian, 2008 / Inv. FE95

West

Thomas Weinberger (1964-)

West, 2008 / Inv. FE97

Al Kantara

Thomas Weinberger (1964-)

Al Kantara, 2008 / Inv. FE96

Museu Gulbenkian

Thomas Weinberger (1964-)

Museu Gulbenkian, 2008 / Inv. FE95

West

Thomas Weinberger (1964-)

West, 2008 / Inv. FE97


Publicações


Material Gráfico


Multimédia


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05372

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém catálogo de exposição e documentação associada à sua edição e tradução; documento da doação de obras pelo artista à FCG; material gráfico, documentos curatoriais e correspondência diversa trocada com o artista e entidades emprestadoras; informações de seguros e orçamentos. 2007 – 2009

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 01064

Pasta com fotocópia de certificado assinado pelo artista Thomas Weinberger referente à doação de duas fotografias de sua autoria à Fundação Calouste Gulbenkian. Trata-se de «West» (Inv. FE97) e «Al Kantara» (Inv. FE96), ambas de 2008, e incorporadas atualmente na coleção do Centro de Arte Moderna. 2008 – 2008


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