Patrick Faigenbaum. Fotografias, 1973 – 2006

Exposição individual de fotografias do fotógrafo francês Patrick Faigenbaum (1954), com a curadoria de Jorge Molder. Apesar de se tratar de uma mostra que apresentou um período de mais de trinta anos de trabalhos, a exposição não pretendeu ser uma retrospetiva.
Solo photographic exhibition of French photographer Patrick Faigenbaum (1954). Although the exhibition presented works covering a period of more than three decades, it was not designed as a retrospective, despite being identified as such in the media.

A exposição de Patrick Faigenbaum (1954) esteve patente na Sala de Exposições Temporárias do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), sob a orientação de Jorge Molder. Apresentou um conjunto de 42 trabalhos, cobrindo mais de trinta anos da vida do artista. Esta foi a primeira vez que a obra de Patrick Faigenbaum foi apresentada em Portugal.

Sem se focar em nenhum tema específico, o trabalho de Patrick Faigenbaum parte do registo do tempo através da imagem, considerando-a um modo contemplativo e não uma forma de comentário. Este registo, no entanto, nunca teve o objetivo de traçar um percurso histórico através da fotografia, procurando apenas ser a captação simples de cada momento e o prolongamento da sua duração. Assim, tanto as datas como os títulos de cada trabalho são assumidos como meros elementos descritivos, e afastam-se da intenção de contribuir para a sua leitura.

Ainda que as fotografias por vezes mostrem uma ou mais figuras em contexto, a mensagem pretendida vai para além do objeto fotografado. A este propósito, Jorge Molder dirá que estas fotografias não se podem limitar à simples catalogação de retratos, apesar de se servirem dele: «Passe a vulgaridade da metáfora, mas parece natural a seu respeito poder dizer-se: isto não são retratos, mesmo sabendo que o são, mas que o são de outro modo.» (Patrick Faigenbaum. Fotografias, 1973-2006, 2007, p. 5)

Já para Jean-François Chevrier, Faigenbaum foi sempre um retratista, pelo menos até 1996-1997, altura em que começou a incluir a paisagem e alguns objetos no seu trabalho e a fotografar espaços domésticos de passagem, em locais habitados; fê-lo sem nunca deixar de trabalhar o retrato.

Assim, corpo e espaço tornam-se interdependentes e encenados pelo fotógrafo com o objetivo de dar a cada personagem um enquadramento estável. É por este motivo que Faigenbaum evita as representações a meio corpo ou os cortes inesperados. A exceção é um conjunto de fotografias cujo caráter cinematográfico emerge da sequenciação de instantâneos que realizou durante uma reunião de família. O artista evita, por outro lado, a construção de narrativas, preferindo-lhes a sua sugestão.

O retrato das figuras de Faigenbaum não é psicológico, no sentido em que nada diz sobre elas. Em vez disso, «os modelos transformam-se nas suas próprias efígies, numa composição severa, rígida até, que replica o enquadramento do cenário. Os retratos pintados, omnipresentes no segundo plano, estão lá para nos recordar esse facto. Tudo se constitui corpo, mas toda a presença é espectral» (Ibid., p. 62).

O enquadramento define características das personagens e revela pistas como a sua realidade social e o tipo de experiências vividas, funcionando também como modo de abordar grandes temas contemporâneos, como os fluxos migratórios e as populações desenraizadas. No entanto, são os temas mais mundanos do dia-a-dia que lhe servem maioritariamente de inspiração. Talvez por isso, o ambiente urbano e, nomeadamente a esquina entre ruas, é o espaço mais representado na obra de Faigenbaum, que se apropria dos lugares atribuindo-lhes uma atmosfera de intimidade doméstica, e tanta importância quanto a figura que neles se encontra.

Na exposição, foram apresentadas fotografias a cores e a preto-e-branco, revelando-se o modo como estas duas opções coexistem no seu trabalho. Se a cor se relaciona com o interesse pela atualidade contemporânea, ela comporta-se do mesmo modo que o preto-e-branco, no sentido em que a sua dinâmica de valores e de modelação das figuras persiste semelhante àquela que esta segunda opção cromática realiza. Segundo Jean-François Chevrier, «é o domínio e a fonte do claro-escuro, a condição da apreensão dos corpos no volume atmosférico. Dá ao ar aquele peso de cinzas que favorece a modulação da luz e o modelado das formas. Mais abstracto que a cor, introduz discretamente o fantástico na imagem verosímil, verídica até, do quotidiano» (Ibid., p. 64).

O programa que acompanhou a exposição foi extenso e diverso. Tirando partido da época natalícia e das férias escolares, foram criadas visitas guiadas, realizadas por Sílvia Almeida, encontros à hora de almoço e um conjunto de oficinas para crianças, famílias e jovens orientadas por Mário Rainha Campos, Susana Anágua, Adriana Pardal e Vera Alvelos.

A exposição foi divulgada na revista Sábado e num pequeno artigo da revista Time Out, com a indicação de não se tratar de uma súmula retrospetiva, uma vez que teria havido menos preocupação com o acompanhamento de uma evolução do que com «a reconstituição de um mundo íntimo de imagens simultâneas, formado por temas obcecantes, recuperações e analogias» («Patrick Faigenbaum», Time Out Lisboa, 19 dez. 2007, p. 37).

A divulgação internacional da exposição passou pela revista espanhola Arte y Parte, que qualificou a iniciativa como «importante» e descreveu o trabalho de Patrick Faigenbaum do seguinte modo: «Heredero de la fotografía documental, Faigenbaum opta predominantemente por el retrato, encuadrando personajes en los contextos ciudadanos en los que se insertan. Crea atmósferas plenas de intimidad, enigma y dramatismo.» (Arte y Parte, dez. 2007, p. 132)

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[Patrick Faigenbaum. Fotografias, 1973 – 2006]

18 nov 2007 – 23 fev 2008
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

Encontros Imediatos

21 dez 2007
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Sala de Exposições Temporárias
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Domingos Rego (ao centro), Leonor Nazaré e Rita Fabiana (atrás)
Helena de Freitas
Manuel da Costa Cabral, Sergio Mah, Rita Fabiana (esq. para dir.) e Leonor Nazaré (dir.)
Miguel Telles da Gama e Rita Mendes Pinto

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00557

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa, faturas e orçamentos, listas de obras expostas, apólices de seguro e reprodução das obras expostas. 2007 – 2008

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 11735

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2007

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 11734

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2007


Exposições Relacionadas

Definição de Cookies

Definição de Cookies

Este website usa cookies para melhorar a sua experiência de navegação, a segurança e o desempenho do website. Podendo também utilizar cookies para partilha de informação em redes sociais e para apresentar mensagens e anúncios publicitários, à medida dos seus interesses, tanto na nossa página como noutras.