Manuel Botelho. Desenho e Pintura, 1984 – 2004

Exposição de desenhos e pinturas do artista Manuel Botelho (1950). A curadoria foi assegurada pelo crítico de arte João Pinharanda, que pretendeu relacionar a intensa produção desenhista de Manuel Botelho com a sua produção pictórica.
Solo exhibition of drawings and paintings by artist Manuel Botelho (1950). Art critic João Pinharanda curated the show, which sought to link the artist’s intense drawing output and his pictorial work.

Em fevereiro de 2005, por iniciativa do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), foi organizada a exposição dedicada ao artista português Manuel Botelho (1950), sob a programação do então diretor do CAMJAP, Jorge Molder (1947). A curadoria da exposição foi assegurada pelo crítico de arte João Pinharanda.

Formado em arquitetura, mas ligado por via familiar à pintura e à ilustração, Manuel Botelho, «começou» – nas palavras de Ana Ruivo – «por ter aulas de desenho, com Rolando Sá Nogueira, e rumou a Londres para estudar pintura, mas a sua obra ainda teria espaço para as recentes práticas da instalação e da fotografia. Com preocupações formais neo-expressionistas, o seu percurso encontra unidade na permanente abordagem de temáticas sociais e autobiográficas» (Ruivo, «Manuel Botelho», jan. 2011). Ainda segundo Ana Ruivo: «Botelho assumiu cedo o compromisso artístico de dar a ver os seus terrores pessoais, sem nunca perder o sentido ético da intervenção política.» (Ibid.) De acordo com o curador, «fê-lo por formação familiar juvenil, na oposição à política nacional (Estado Novo, Guerra Colonial) e na precoce atenção à situação internacional (Maio de 68, Guerra do Vietname...); e também por necessidade individual de ligar os acontecimentos da sua vida privada (mortes, separações) ao evoluir temático e até estilístico do seu trabalho plástico» (Manuel Botelho, 2005, p. 8).

Assinalando aquela que foi somente a terceira mostra individual em contexto de museu de Manuel Botelho, a exposição no CAMJAP visou dar conta de uma obra plástica particularmente singular, densa e coerente em termos temáticos e de evolução formal. Para isso, foram selecionados cerca de 130 trabalhos de desenho e de pintura, muitos deles inéditos, produzidos entre 1984 e 2004. Três destes trabalhos pertenciam ao acervo da FCG, aos quais, na sequência da mostra, se viriam a juntar mais seis (desenhos e pinturas), atualmente na coleção do Centro de Arte Moderna.

Pensada segundo uma perspetiva antológica, a exposição apresentou blocos coerentes e articulados de pinturas e desenhos de Botelho, não esgotando o conjunto de séries em que habitualmente o trabalho do artista se organiza e desenvolve. Nesse sentido, a opção de montagem da exposição pretendeu relacionar a intensa produção desenhista de Manuel Botelho com a sua produção pictórica.

João Pinharanda concretizou o projeto expositivo partindo das experiências subjetivas e da sua confrontação com situações históricas precisas da obra de Manuel Botelho, articulando autorretratos, desenhos de modelo, imagens de situações geradas e veiculadas pelos órgãos de comunicação social, formas arquitetónicas clássicas e modernas, imagens renascentistas ou maneiristas e barrocas.

A distribuição dos desenhos e pinturas ocupou todo o espaço expositivo do CAM (hall e piso 1). Dessa forma, para o primeiro espaço expositivo (piso 0) foram escolhidos os trabalhos então mais recentes e outros inéditos (pinturas e desenhos de 2002-2004), onde eram enunciados temas estruturantes da obra de Botelho. Como descrito na folha de sala: «Em cinco telas intensamente figurativas, sucedem-se, num ritmo sufocante, raptos, rendições, crianças armadas, figuras alegóricas de citação clássica, arquitecturas modernistas, discursos em cenários parlamentares, incêndios, invasões de insectos e pássaros, aviões em queda… Em contraste, em dez desenhos quase esvaziados de cor, vemos uma galeria de figuras masculinas isoladas.» (Exposição Manuel Botelho [Folha de sala], 2005).

Com efeito, esta introdução à retrospetiva sublinhava uma série de representações de acontecimentos mediatizados, que o artista transpõe como comentário crítico ao quotidiano político, social e cultural e como meio de autoconhecimento e autorreflexão. No mesmo texto, Pinharanda refere: «O presente é revelado pelo recurso a imagens dos meios de comunicação de massas (jornais e televisões). O que o presente repete do passado é acentuado pelo recurso a imagens e paradigmas representativos da tradição artística (renascimento e barroco) e cultural (iconografia católica) ocidental.» (Ibid.)

Prosseguindo até ao piso 01 do CAMJAP, na vasta sala e no longo corredor figuravam desenhos e pinturas (1999-2004) cronologicamente coincidentes ou imediatamente anteriores às obras com que se iniciava a visita. As grandes telas e os desenhos exploravam os mesmos temas, através de um diversificado leque de soluções. Neste momento da exposição, «a força dos temas e a imposição das figuras supera o quase desaparecimento da cor: estranhas madonas ou pietàs masculinas de auto-referência retratística (1999-2001) confrontam cenas de violência política e social (2001-2003); a banalidade do quotidiano […] supera-se quando percebemos que repete o paradigma formal de cenas religiosas (Visitações)» (Ibid.).

Nos espaços da sala e corredor seguintes (com obras de 1995-1999), o contraste cromático com as obras mais recentes era evidente. As pinturas eram fortemente coloridas, e as figuras tinham linhas de contorno carregadas. Algumas pinturas daquela zona referiam ainda a pesquisa de Manuel Botelho em torno do cubismo.

Publicado pela Fundação Calouste Gulbenkian em edição bilingue (português/inglês), o catálogo da exposição inclui um prefácio de Jorge Molder, o texto crítico de João Pinharanda e uma antologia de textos de Manuel Botelho sobre a sua própria obra. A monografia inclui ainda a reprodução da totalidade das obras apresentadas na exposição, a biografia do artista e a ficha técnica da exposição. Foi igualmente disponibilizada uma folha de sala, contendo o já referido texto do curador, alusivo ao percurso expositivo e respetivas obras.

A inauguração da exposição, a 24 de fevereiro, foi bastante concorrida, como parecem revelar as fotografias do evento. Durante o período em que esteve patente, foram organizadas três visitas guiadas à exposição.

O acolhimento por parte da crítica especializada foi positivo, tendo sido possível reunir alguns artigos dedicados ao trabalho do artista na sequência da exposição. A título exemplificativo, destacamos o artigo assinado por Vanessa Rato, em que esta, registando o facto de se mostrarem «muitas obras nunca vistas do pintor», dá notícia da exposição pela voz do curador: «Há pintores malditos. Depois há aqueles para quem, simplesmente, parece não se ter encontrado um lugar. "Manuel Botelho – Desenho e Pintura 1984-2004" […] fala de um caso desses, diz o comissário da exposição, João Pinharanda. “Isso fascina-me, esses artistas que ficam fora dos circuitos de consagração, que estão sempre no limite. O que acontece com o Manuel Botelho é que ele está mal integrado na história da arte das últimas décadas” […].» (Rato, Público, 24 fev. 2005)

Joana Brito, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

A Instituição

Manuel Botelho

A Instituição, 1985 / Inv. DP1534

Areia e Sal - Igrejas Silenciosas

Manuel Botelho

Areia e Sal - Igrejas Silenciosas, 1987 / Inv. 01P594

Pietá

Manuel Botelho

Pietá, 1999 / Inv. 01P1222

Rendição

Manuel Botelho

Rendição, 2003 / Inv. 05DP2425

Rendição - Hostage Crisis

Manuel Botelho

Rendição - Hostage Crisis, 2002-2003 / Inv. 05P1366

S/ Título

Manuel Botelho

S/ Título, 2000 / Inv. 05DP2424

S/ Título

Manuel Botelho

S/ Título, 2001 / Inv. 05DP2426

Sufoco - White Dust

Manuel Botelho

Sufoco - White Dust, 2001 / Inv. 05P1367

Visita

Manuel Botelho

Visita, 2000-2002 / Inv. 05DP2423

Rendição

Manuel Botelho

Rendição, 2003 / Inv. 05DP2425

Rendição - Hostage Crisis

Manuel Botelho

Rendição - Hostage Crisis, 2002-2003 / Inv. 05P1366

S/ Título

Manuel Botelho

S/ Título, 2000 / Inv. 05DP2424

S/ Título

Manuel Botelho

S/ Título, 2001 / Inv. 05DP2426

Sufoco - White Dust

Manuel Botelho

Sufoco - White Dust, 2001 / Inv. 05P1367

Visita

Manuel Botelho

Visita, 2000-2002 / Inv. 05DP2423


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Emílio Rui Vila e João Pinharanda (à esq.), Teresa Gouveia e Manuel Botelho (ao centro) e Jorge Molder (à dir.)
Manuel Costa Cabral (ao centro)
Rui Sanches (à dir.)
Emílio Rui Vilar e Jorge Molder (à esq.) e Cristina Sena da Fonseca e Manuel Botelho (ao centro)
Jorge Molder e Manuel Botelho (atrás, à esq.), Teresa Gouveia (ao centro), e Emílio Rui Vilar (à dir.)
Nuno Vassallo e Silva (à esq.) e Jorge Molder (à dir.)
João Pinharanda (à esq.) Raquel Henriques da Silva (ao centro) e Emílio Rui Vilar (à dir.)
Emílio Rui Vilar (à esq.), João Pinharanda (ao centro) e Manuel Botelho (à dir.)
Manuel Botelho (atrás, à esq.), Teresa Gouveia (à esq.), Emílio Rui Vilar (ao centro) e João Pinharanda (à dir.)
Teresa Gouveia (à esq.), João Pinharanda (ao centro) e Manuel Botelho (à dir.)
Nuno Vassallo e Silva, Manuel Botelho, Jorge Molder, João Pinahranda, Teresa Gouveia e Emílio Rui Vilar (da esq. para a dir.)
Jorge Molder e Teresa Gouveia (à esq.)
Emílio Rui Vilar (à esq.), Teresa Gouveia e João Pinharanda (ao centro) e Jorge Molder (à dir.)
Emílio Rui Vilar (à esq.), Teresa Gouveia e Manuel Botelho (ao centro), João Pinharanda (à dir.) e Jorge Molder (atrás, à dir.)
Leonor Nazaré e Manuel Botelho (ao centro)

Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00536

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém documentos referentes à aquisição de obras de Manuel Botelho para a coleção do Centro de Arte Moderna da FCG. 2004 – 2007

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 113542

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2005

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 120049

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2005


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