Exposição individual do artista espanhol Jorge Barbi (1950), coorganizada pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) e pelo Museo de Arte Contemporánea de Vigo (MARCO) e com curadoria de Juan de Nieves, antigo diretor artístico no Espai d’Art Contemporani de Castelló.

A mostra esteve, num primeiro momento, patente em Vigo, entre 29 de outubro de 2009 e 14 de fevereiro de 2010, viajando depois para o Centro de Arte Moderna, em Lisboa, onde ocupou a nave e o piso 1 deste espaço, entre 7 de maio e 11 de julho de 2010.

Criando um diálogo singular com a arquitetura do local onde foi apresentada, a partir de soluções discretas, minimais e esparsas num grande espaço aberto, a exposição integrou um conjunto de fotografias, esculturas e instalações que refletiam sobre a passagem do tempo nos objetos: pedras, plantas, peças de madeira, algas, animais, excrementos, entre outros.

Inicialmente centrado na escultura e, mais tarde, dedicado à fotografia, Jorge Barbi, que trabalha com o tempo, distinguiu-se no panorama artístico «pela sua independência relativamente às regras do mercado e do sistema artístico em geral» (Newsletter. Fundação Calouste Gulbenkian, n.º 113, mai. 2010, p. 11).

A ideia das obras surgira durante os seus passeios ao longo do território localizado dentro das coordenadas que dão título à exposição – 41°52'59" latitude N / 8°51'12" longitude O – relativas a vinte quilómetros de costa que vão da foz do rio Minho ao cabo Silleiro. Foi ao longo deste percurso que Barbi captou um «extenso reportório de gestos escultóricos», transformando-os em novas imagens (Jorge Barbi. 41°52'59" latitude N / 8°51'12" longitude O [caderno de exposição], 2010).

O curador responsável pela exposição evitou, tanto quanto possível, uma apresentação de caráter retrospetivo, tendo como principal intuito oferecer aos espectadores novas leituras das obras a partir de uma montagem que combinava arquitetura, jogos de luz e recursos visuais variados, de modo a criar um diálogo contínuo entre todas as obras, antigas e recentes. Os passeios de Barbi «supõem uma experiência física e eminentemente visual que não ambiciona encontrar respostas, mas sim indícios, mínimos que sejam, sobre uma natureza em constante mutação», explicou Juan de Nieves (Ibid.).

A série fotográfica Antes/Después (2002-2009), uma das obras apresentadas na exposição, abordava a passagem do tempo na transformação de uma paisagem, no desaparecimento de uma árvore ou na alteração da arrumação de uma sala. No caso das imagens captadas junto ao mar, e não satisfeito com o simples acaso da natureza, Barbi manipulou-as, criando efeitos óticos a partir de um jogo de simetrias que apelam à imaginação do espectador. A fotografia Espumas (2007) é um exemplo de como o artista consegue descobrir «mistérios inesperados» – nela, a espuma do mar torna-se tão densa que «até podemos imaginar-nos a caminhar sobre ela» (Ibid.).

A instalação Esperanza de Vida Animal (2004-2009), reproduzida na capa do catálogo da exposição, foi uma das obras com mais impacto no público, por se estender em grande escala pelas paredes das instituições que receberam a exposição. A vida nela representada por uma seleção de espécies animais obrigava a uma reflexão profunda sobre «o tempo do futuro» e convidava, uma vez mais, a uma participação física do visitante.

Outra obra central de toda a mostra foi a instalação com nove projetores de vídeo intitulada Archivo de Imágenes (1976-2009), fundamental para a compreensão da prática artística de Barbi, apresentando um conjunto de fotografias que faziam referência a vários objetos, caminhos ou animais. Foi a primeira vez que este «arquivo emocional» foi exibido ao público, permitindo mergulhar no universo poético do artista de modo aprofundado. Outras peças estabeleciam diálogos particularmente felizes com as restantes, como Reconstrucción (1989), Little Bang (1993) e Solutio Perfecta (1997).

No âmbito da exposição no Museo de Arte Contemporánea de Vigo foi publicado um catálogo, editado em parceria pela Fundação Calouste Gulbenkian, pelo MARCO e pela Sociedad Estatal para la Acción Cultural Exterior (SEACEX), com apresentações da autoria de Abel Caballero, presidente da Fundación MARCO, de Charo Otegui Pascual, presidente da SEACEX, e das diretoras do museu de Vigo e do Centro de Arte Moderna da FCG, Iñaki Martínez Antelo e Isabel Carlos, respetivamente. Além dos textos introdutórios, a publicação inclui um ensaio de Juan de Nieves e notas críticas de Nacho Fernández, Luis Ortega e Xosé Lois Gutiérrez Faílde.

Po ocasião da apresentação da mostra em Lisboa, o CAMJAP publicou um caderno de exposição com coordenação e revisão de Patrícia Rosas, uma das curadoras da instituição, que incluía um breve texto do curador responsável e reproduções fotográficas de algumas das obras que estiveram expostas.

Joana Atalaia, 2019