A exposição «Auto-retratos da Colecção» surgiu de um acaso. Foi oferecido à coleção do Centro de Arte Moderna (CAM) um autorretrato de um artista, e nesse momento surgiram a vontade e a iniciativa de rever outras obras com o mesmo tema. Este momento marcou o ponto de partida e o início da organização da exposição, uma vez que, como Jorge Molder refere no texto do catálogo, a incorporação de uma nova obra desencadeia novos enfoques para pensar a coleção, uma «acção revigorante que […] a chegada de um novo [trabalho] sempre lhe empresta» (Auto-retratos da Colecção, 1999, pp. 7-9).

Os comissários Jorge Molder e Maria José Moniz Pereira decidiram expor 68 obras da coleção do CAM com foco no retrato, de estrutura bidimensional – sobre papel, cartão, tecido, platex e tela –, pertencentes a 39 artistas portugueses. Os autorretratos escolhidos variavam temporalmente entre o Primeiro Modernismo e a produção contemporânea. Procurava-se mostrar «ao público a “reserva” de auto-retratos angariada ao longo dos anos. [Uma] excelente oportunidade para [o público] travar conhecimento com o modo como os artistas se vêem a eles próprios» («Auto-retratos no CAM», Prestige, abr. 1999, p. 95).

A equipa do CAM considerava menos provável exibir estas obras na mostra permanente da coleção e, como tal, procurou apresentá-las em função de uma linha curatorial que permitiu salientá-las de outra forma. O pensamento curatorial procurava estabelecer novos e diferentes diálogos em relação aos habitualmente presentes nas exposições permanentes da coleção. Exemplo disto são as palavras do comissário da exposição no catálogo: «Mais do que um modo de completar exaustivamente um momento deste fazer artístico, de um tema ou de uma circunstância, elas [as exposições] valem pelo que mostram e pela forma como a colecção é revisitada como tarefa em continuação.» (Auto-retratos da Colecção, 1999, pp. 7-9). Desta forma, a coleção do CAM era assumida como algo sempre em processo de construção, sempre em aberto.

Das 68 obras da coleção do CAM selecionadas para a exposição, da autoria de 39 artistas, 38 portugueses e Ana Hatherly (1929-2015) – que expôs oito trabalhos, dois deles anteriormente doados à coleção do CAM (Inv. DP1717 e Inv. DP1718) –, somente uma das composições não foi apresentada na Galeria de Exposições Temporárias (piso 0) da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian: o Auto-retrato (Inv. 85P633) do pintor Adriano de Sousa Lopes (1879-1944), que por motivos de conservação só ficou referenciado com reprodução no catálogo.

No catálogo da exposição faz-se referência à exposição «O Rosto da Máscara» (1994), comissariada por António Rodrigues no CCB. Esta referência é feita no catálogo, de modo a marcar a diferença em relação ao propósito procurado nesta exposição.

Ana Lúcia Luz, 2019