Exposição coletiva de escultura, dedicada a artistas portugueses residentes em França, «Le Corps» foi organizada pelo Centre Calouste Gulbenkian, em Paris. A exposição inaugurou a 27 de novembro de 2001, ficando patente até 21 de dezembro. Foram apresentados trabalhos de Joaquim Baptista Antunes (1953), Sílvia Hestnes Ferreira (1961), Dimas Macedo (1928-2009), Mónica Machado (1966) e António Saint Silvestre (1946), permitindo o confronto entre diferentes técnicas e modos de entender a escultura.

O trabalho de Joaquim Baptista Antunes refletia a influência de Chagall e Picasso, ao mesmo tempo que mostrava traços que o ligavam à arte pré-colombiana e à arte bruta. As esculturas selecionadas apresentavam características surrealistas, de cores garridas e traços tribais, elementos também presentes na sua pintura.

O conjunto de Sílvia Hestnes Ferreira, acompanhado por seis guaches, reunia trabalhos que partiam de fragmentos de projetos e formas cilíndricas de arame, madeira e cartão. A pintura e a escultura apresentadas constituíram apenas um pequeno exemplo da exploração de meios de expressão artística característicos da obra de Hestnes Ferreira, que passa ainda pelo desenho e pela escrita. Parafraseando a artista, o seu processo de trabalho começa com «a recolha de materiais diversos e de cores – cores sob a forma de pigmentos puros espalhados sobre tiras de papel. […] Há uma ligação entre os objectos/esculturas e os desenhos-pinturas. Uma passagem que é feita pela fotografia e a memória. E então desencadeiam-se as coisas. Uma ideia que se exprime pode desenvolver-se, alastrar-se, crescer e materializar-se de todas as maneiras» («Sílvia Hestnes Ferreira, um mundo de abstracção», As Voltas do Vento, 2009).

Dimas Macedo esteve representado nesta exposição através de cinco esculturas de dimensões diversas: quatro de vulto (uma instalada no piso e três em plintos) e uma instalada junto à parede, de características semelhantes ao trabalho do escultor já integrado na coleção de arte moderna da Fundação Calouste Gulbenkian (Inv. CP19 e Inv. 82E884). São esculturas em grés/cerâmica policromada, que assumem formas antropomórficas, futurísticas e ao mesmo tempo tribais.

O trabalho de Mónica Machado passava pela recolha de objetos do quotidiano, considerados desperdício ou lixo, aos quais é dada uma nova vida enquanto objetos artísticos. Os fragmentos são revestidos a azulejo partido, tomando novas formas e novas apropriações plásticas, e as situações do dia-a-dia são revisitadas metamorfoseadas, com ironia. Em Le Corps, peças de roupa interior surgiam suspensas numa corda, como roupa posta a secar, num conjunto que chamou a atenção do público pela situação caricata que representava e pelo protagonismo que assumia no espaço da galeria do Centre Culturel Calouste Gulbenkian.

Por fim, as esculturas de António Saint Silvestre eram construídas a partir de materiais diversos, como o papel machê e a resina, e relatavam temas de revisitação da infância e dos problemas do mundo atual, trazidos diariamente pelos media.

Carolina Gouveia Matias, 2019