Museu Improvável. Imagem & Arte Contemporânea

Exposição individual do artista João Paulo Serafim (1974). Comissariada por António Pinto Ribeiro, esta mostra apresenta um projeto de um museu-ficção que, ao longo de três anos, foi ganhando novas camadas discursivas, refletindo sobre o poder ilusório da imagem e o conceito de museu.
Solo exhibition of work by French artist João Paulo Serafim. Curated by António Pinto Ribeiro, the show presented a project for a fictional museum that, over the course of three years, accumulated new layers of meaning, reflecting on the deceptive nature of the image and concept of the museum.

Exposição de fotografias de João Paulo Serafim (1974), apresentada no Centre Culturel Calouste Gulbenkian, em Paris. Comissariada por António Pinto Ribeiro, a mostra apresentou um projeto de grande envergadura nascido em 2005 com a série fotográfica Museu Improvável, apresentada na exposição final do Curso de Fotografia do Programa Gulbenkian Criatividade e Criação Artística, em que o artista participara. Ao longo de três anos, este projeto foi-se desenvolvendo e ganhou novas camadas discursivas, o que é percetível ao longo da exposição.

Num primeiro momento, foram questões de escala, que o artista trabalhara em séries anteriores, como Prowler (2000) e Home Sweet… (2002), que o levaram a desenvolver este projeto. Como o próprio conta: «Interessei-me pela questão da escala na fotografia e como hoje em dia é apresentada em galerias e museus. A tendência tem sido para os grandes formatos; então apeteceu-me brincar com este conceito, recriando situações de exposição onde as pessoas se relacionam com obras de grandes dimensões.» (Museu Improvável. Imagem & Arte Contemporânea, 2008, p. 6)

João Paulo Serafim segue então o processo ensaiado nas referidas séries, fotografando ambientes encenados em miniatura. Para a conceção da maqueta dos espaços do museu, o artista contou com a colaboração do arquiteto Iñaki Zoilo. O que diferencia este projeto dos anteriores é precisamente a natureza do espaço encenado e o seu poder legitimador, bem como os objetos dispostos, neste caso fotografias-registo sem pretensões artísticas.

A exposição começa no piso térreo do Centre Culturel Calouste Gulbenkian com uma série fotográfica intitulada Inauguração do Museu (2006-2008). Nesta, vemos salas do museu vazias, outras com um ou dois espectadores, um vigilante de sala que passa ou um funcionário da equipa de montagem a trabalhar. O tipo de iluminação salienta a solenidade daquele lugar. Nas imagens «habitadas» sobressai de imediato a relação espectador-obra, não só física, em termos de escala, mas principalmente emocional e intelectual. O visitante observa e observa-se perante imagens do que pensa serem visitantes de uma exposição a estabelecerem relações com as obras através da observação. Aqui está, portanto, subjacente uma reflexão sobre a fotografia enquanto mecanismo ilusório.

O que parecem ser fotografias em grande formato expostas em salas de museu são na realidade simulações de obras fotográficas, fotografias reduzidas e montadas numa maqueta. Por outro lado, a natureza e conteúdo das «obras» expostas remetem para questões sobre o conceito de museu e suas funções. «O que merece estar num museu?», questiona o artista (Ibid.). Neste primeiro conjunto, João Paulo Serafim apropria-se de álbuns de fotografias de pessoas anónimas, comprados em feiras ou oferecidos. Retratos, fotografias de viagens, paisagens, memórias de momentos e pessoas que podem despertar outras memórias. Nas palavras do artista: «Fazem todas parte de um arquivo geral e histórico e constituem uma memória colectiva na qual toda a gente se pode rever.» (Ibid., p. 12)

Numa primeira fase, este museu-ficção é descrito pelo seu criador do seguinte modo: «Museu vocacionado para a imagem com grande destaque para a fotografia e a imagem em movimento […]. O acervo é constituído por obras de vários artistas contemporâneos e uma vasta colecção de fotografias anónimas de várias épocas e muito diversas em géneros.» (Serafim, Memória descritiva, 2008, Arquivos Gulbenkian, PRS 05371)

Os espaços seguintes são dedicados à imagem em movimento, apresentando as instalações vídeo A Queda (2007) e Palas Atenea/Alexandre? (2005) e a série Turn in to bright light (2006-2008). No primeiro, o artista simula uma vez mais uma sala de exposição, desta vez com filme projetado. A ação de apropriação repete-se, sendo o filme retirado da Internet. Enquanto as ações deste decorrem, os espectadores «permanecem» estáticos, o que, se por um lado denuncia o embuste, por outro reforça a sua condição de espectadores, que apenas ilusoriamente vivem a queda.

Em Palas Atenea/Alexandre? (2005) o artifício consiste na transformação da imagem através da palavra. Neste caso, o artista faz acompanhar imagens da pintura Palas Atena (c. 1657), de Rembrandt, a ser observada ou vislumbrada por visitantes no Museu Gulbenkian, com falas do filme A Arca Russa (2002), de Alexander Sokurov, em forma de legendas. Estas devolvem-lhe o poder simbólico de outrora e reportam-no para o seu passado histórico, quando era parte integrante da coleção do Hermitage, entre o final do século XVIII e 1930. Segue-se a série Turn in to bright light (2006-2008), na qual, em vez de fotografias ou de um filme, as salas do museu apresentam ecrãs de luz. O plano de luz projetada na parede remete para a ausência, a ausência da imagem, mas também para a relevância da luz no processo de criação da imagem fotográfica ou fílmica.

Na última sala é apresentada a série inédita O meu pai tinha a mania de colocar os carros nas fotografias (2008), na qual o artista faz uso de retratos de família, expondo-os neste museu fictício. Nestas fotografias, os espectadores encontram-se na penumbra, estando apenas iluminadas as fotografias, como flashes de memória.

João Paulo Serafim parece ter criado um museu pessoal, à semelhança de tantos outros artistas contemporâneos. Se dúvidas houvesse, estas seriam desfeitas pela instalação apresentada no cimo da escadaria. Numa grande parede, é exposto, através de uma composição proposta pelo artista, um conjunto de trabalhos realizados entre 1997 e 2008, onde questões associadas à escala, ao artifício, à encenação, à perceção foram sendo trabalhadas. A esta seleção de trabalhos, o artista deu o nome de Acervo. Estes são, portanto, parte do acervo deste seu museu pessoal, ao qual se juntam as suas coleções de fotografias pessoais ou adquiridas.

Para acompanhar esta exposição foi produzido um catálogo, editado em português, francês e inglês, no qual são reproduzidas todas as obras expostas. Destacam-se ainda os textos do curador da exposição, António Pinto Ribeiro, e da curadora e crítica de arte Lúcia Marques.

Depois de Paris, esta mostra viajou para Montevideu, onde foi apresentada no Museo de Bellas Artes Juan Manuel Blanes, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.

Mariana Roquette Teixeira, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

João Pedro Garcia (à esq.)
João Pedro Garcia (ao centro)
João Pedro Garcia (à dir.)
João Pedro Garcia (ao centro, à dir.)
João Paulo Serafim (à dir.)
João Paulo Serafim (ao centro, à dir.)

Multimédia


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05371

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência, orçamentos para a impressão das fotografias, orçamento e material para o catálogo, apólices de seguro, dossiê de imprensa, convite, folha de sala, recortes de imprensa, exemplar do catálogo. 2007 – 2008

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / CDVD 1225

Coleção fotográfica, cor: inauguração (CCCG, Paris) 2008

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / CDVD 1226

Coleção fotográfica, cor: aspetos (CCCG, Paris) 2008


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