Exposição organizada no âmbito do colóquio «Labirintos da Adolescência. Roads to Whatever», do Fórum Gulbenkian de Saúde 2011, que tinha como objetivo «promover o conhecimento e o debate sobre os problemas que afectam a saúde, o desenvolvimento e o bem-estar na adolescência» (Labirintos. Obras da Colecção do CAM, 2011, s.p.).

Leonor Nazaré, curadora da exposição, construiu um discurso em torno desta temática, através de uma seleção de trabalhos pertencentes à coleção do Centro de Arte Moderna. Assim, à abordagem científica das diversas questões associadas ao tema, tratadas no colóquio, juntou-se um olhar com contornos poéticos e filosóficos, que aprofundava uma série de problemáticas existenciais, umas quase intemporais, outras fortemente desencadeadas pelos novos tempos, nos quais as novas tecnologias ocupavam um lugar preponderante.

No espaço da Galeria de Exposições Temporárias da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian, dividido em várias salas, a curadora fez corresponder a cada uma delas diferentes experiências e vivências que, de um modo geral, marcam a vida de qualquer ser humano, sublinhando de um modo mais expressivo o período da adolescência, pelas suas especificidades.

O labirinto, usado como metáfora para esta etapa do desenvolvimento humano, parece ter servido de base para a construção do espaço expositivo. O visitante era convidado a percorrer livremente a galeria e a aventurar-se pelos diferentes espaços, de maiores ou menores dimensões, luminosos ou escurecidos, onde obras com diferentes linguagens artísticas o transportavam para o universo da adolescência, quer de um modo mais literal – como em Historia de la Música Rock (2002), de Rui Valério (1969), Whatever (2003-2004), de Bruno Pacheco (1974), ou em obras de Teresa Magalhães (1944) –, quer de um modo metafórico, a que correspondia a maior parte das obras expostas. Este caminho, sem princípio nem fim, era marcado por momentos fortemente silenciosos, mas também por outros em que o som se impunha, não seguindo uma norma ou cadência, causando uma certa instabilidade e confusão, próprias dos «labirintos» da adolescência.

Are You Safe When You Are Dreaming (2001), de João Pedro Vale (1976), ocupava um desses espaços, levando o espectador a refletir sobre um lado obscuro do sonho e dos seus perigos. A submersão e alheamento, para que esta peça pode remeter, estão muitas vezes associados a cisões interiores, às quais The Rest Is Silence II (2003), de Noé Sendas (1972), parece também aludir. Os deslizamentos, desfragmentações ou desfigurações explorados por Rui Sanches (1954) foram lidos à luz das questões da identidade, nas quais se podem também enquadrar os transtornos de personalidade.

A partir de trabalhos de Susana Anágua (1976), Susanne Themlitz (1968), João Paulo Serafim (1963), entre outros, Leonor Nazaré aprofunda a problemática do desnorte ou da incapacidade de orientação.

Por fim, a atração pelo caos, pelo fugaz e vertiginoso, o amor e a sexualidade, temáticas habitualmente abordadas quando se fala da adolescência, tiveram também nesta mostra o seu lugar, num núcleo que inclui obras de Rui Valério (1969), Peter Blake (1932), Teresa Magalhães (1944), Julião Sarmento (1948), Ana Jotta (1946), entre outros.

Para acompanhar a exposição foi produzido um catálogo, onde se destaca o texto da curadora. Este é bastante esclarecedor das relações traçadas e reflete a complexidade dos temas abordados, apoiando-se em bibliografia de referência, de diferentes áreas do conhecimento. Paralelamente, a reprodução das obras é acompanhada por pequenos textos, nos quais predomina um discurso de natureza historiográfica. É ainda de salientar o elogio de Emílio Rui Vilar, então presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, ao trabalho desenvolvido por Leonor Nazaré: «Uma curadoria densa de investigação e estimulantemente propositiva.» (Labirintos. Obras da Colecção do CAM, 2011)

Mariana Roquette Teixeira, 2019