Exposição individual de Teresa Magalhães (1944) dedicada a nove pinturas de grande formato realizadas entre 1994 e 1995. A mostra apresentou estes trabalhos, em que a cor, a mancha e o gesto expressionista ensaiam continuidades e descontinuidades entre as diversas partes que compõem as peças.
Solo exhibition on Teresa Magalhães (1944) dedicated to nine large-scale paintings produced between 1994 and 1995. It included works in which colour, blocks and expressionist gestures explore the continuities and discontinuities between the different elements which make up the paintings.
Em 1999, Teresa Magalhães (1944) realiza a sua segunda exposição individual num espaço da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG). A mostra foi organizada pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) e inaugurou a 24 de agosto de 1999 na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG (piso 01). Reuniu nove pinturas de grande formato, a acrílico sobre tela, realizadas entre 1994 e 1995.
Cada trabalho acopla entre três e seis telas, de dimensões ora constantes, ora variáveis. São conjugadas segundo diferentes lógicas, mas sempre perfazendo um retângulo de 200 × 360 centímetros, de envergadura mural (José Luís Porfírio atribui-lhes mesmo o termo «pinturas-muro», numa elogiosa crítica publicada no jornal Expresso, a 4 de setembro de 1999). A cor, a mancha e o gesto expressionista ensaiam continuidades e descontinuidades entre essas diversas partes que compõem as enormes peças Sem Título. São como que falsos «módulos» (à falta de termo mais exato) e, curiosamente, há qualquer coisa na sua dinâmica de divisões e acoplagens que permite fantasiá-los como colossais azulejos – medium que, por altura da realização destas pinturas, estaria a ser abordado por Magalhães na conceção de um painel para o metropolitano de Sydney, em 1996 (Teresa Magalhães, 1999, p. 31).
Numa entrevista de 2004 para o programa televisivo Entre Nós, a pintora refere como esse jogo visual modular da sua pintura recente acarreta não apenas uma fragmentação percetiva do olhar, como também um outro tipo de faseamento do trabalho artístico, pois, dado o seu tamanho, algumas das telas, ou parte delas, podem até ser pintadas ainda isoladamente, e fisicamente dissociadas da totalidade que nascerá da sua posterior articulação. Tolera-se, assim, uma organização do trabalho em função do espaço físico disponível e manobrável para o exercício da pintura, algo que, de condicionamento ou adversidade, passa a destacar-se como processo que enfatiza a surpresa e a descoberta.
O resultado são pinturas que parecem situar-se numa encruzilhada de tradições da pintura moderna, em que ecos de formas geométricas e sugestões figurativas se transfiguram num informalismo de manchas mais impulsivas. São, no fundo, os polos de uma linguagem que Magalhães tem vindo a experimentar desde meados dos anos 70, após um arranque de carreira mais vinculado aos sucedâneos figurativos da Pop Art, na passagem da década de 1960 para 1970, e em que experimenta e mistura vários materiais e processos. Entre eles a colagem, que começa depois a incluir em explorações pictóricas atentas à abstração e cujas ênfases na espontaneidade foram amadurecendo até esta fase da década de 1990.
O catálogo desta exposição de 1999 na FCG reproduz fotograficamente cada uma das nove peças apresentadas. Entre os seus outros conteúdos, sobressai um texto de Luísa Soares de Oliveira, «Teresa Magalhães. O jogo da cabra-cega» (Teresa Magalhães, 1999, pp. 6-8), escrito a convite do CAMJAP por indicação da própria artista (Arquivos Gulbenkian, CAM 00347).
Além do catálogo, o CAMJAP editou a habitual tiragem de postais associada à exposição. É precisamente um deles que a artista endereça a Jorge Molder, então diretor do CAMJAP, denotando satisfação com a boa receção da mostra, quer por parte do público, quer por parte da crítica (Postal de Magalhães para Molder, 17 set. 1999, Arquivos Gulbenkian CAM 00437).
Os Arquivos Gulbenkian guardam documentação que confirma uma boa afluência de público, que terá ascendido a 3578 entradas na exposição (Registos de contagem diária de visitantes, Arquivos Gulbenkian, CAM 00437). De referir que esse número diz apenas respeito ao período em que esteve aberta ao público, de 25 de agosto a 3 de outubro de 1999, não contabilizando as presenças na inauguração. Inclui, sim, as visitas que ocorreram nos dias de espetáculo ocorridos em setembro (Ibid.), provavelmente fora do normal horário de abertura da mostra. Do lado da ação educativa, há a calendarização de duas visitas orientadas à exposição a cargo de Fernando Rosa Dias, uma a 4 e outra a 25 de setembro de 1999 (Relatório. Visitas guiadas, 3 out. 1999, Arquivos Gulbenkian, CAM 00437).
Poucos meses após o fecho da mostra, uma das pinturas apresentadas seria adquirida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, com o propósito de ser exposta numa embaixada portuguesa (Arquivos Gulbenkian, CAM 00437). Já em maio do ano 2000, por sugestão da artista, o CAMJAP contactaria diversas instituições estrangeiras – muitas delas habituais parceiras da Fundação – para a apresentação da exposição no estrangeiro, hipótese cuja concretização não foi verificada (Ibid.).
Membro do grupo de artistas 5+1, Teresa Magalhães foi estabelecendo relações assíduas com a FCG desde os anos 70. No final dessa década, obras suas são selecionadas para a mostra «Artistes Portugaises» (1977), no Centre Culturel Portugais, em Paris, e participa na «II Exposição Nacional de Gravura» da FCG (1979). A sua primeira individual nos espaços da Fundação acontece em 1980, sob o título «Gestos da Cor, Sinais da Terra» (Zona de Congressos da Sede da FCG, Sala 2), apresentando trabalho realizado com o apoio de uma bolsa de investigação artística concedida pelo Serviço de Belas-Artes da FCG (Arquivos Gulbenkian, SBA 02159). Em 1981, é premiada na 3.ª edição da Exposição Nacional de Gravura.
Já na segunda metade da década de 1980, participa na «III Exposição de Artes Plásticas da FCG», em 1986, e, no ano seguinte, volta a ser premiada na «IV Exposição Nacional de Gravura». Ainda em 1987, integra as exposições «10 Amad(e)ores. Desafio de Amadeo aos Artistas Contemporâneos» e «Azares da Expressão». À entrada dos anos 90, várias obras da artista já tinham sido incorporadas na coleção da FCG na sequência destas atividades. Outras peças da autora continuariam a dar entrada nos acervos até hoje, acompanhando o apoio que o Serviço de Belas-Artes continuou a prestar a atividades da artista de âmbito externo à FCG. Recentemente, algumas dessas peças integraram a exposição «Pós-pop. Fora do Lugar-comum» (Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG, piso 0).
Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00437
Pasta de arquivo com documentação referente à produção da exposição. Contém convite para a inauguração; epistolografia trocada com a artista; impressões do texto de apresentação de Jorge Molder (enquanto diretor do CAMJAP) e de um texto de Luísa Soares de Oliveira sobre a obra da artista, ambos publicados no catálogo de exposição; correspondência interna; calendarização de duas visitas orientadas, realizadas por Fernando Dias; informações sobre seguros; contactos estabelecidos pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo perdigão com entidades congéneres sondando a possibilidade de uma itinerância da mostra no estrangeiro; correspondência trocada com um dos emprestadores; indicações sobre a compra de uma das obras expostas por parte do Ministério dos Negócios Estrangeiros português.1999 2000
Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001-D02726