Au Féminin. Women Photographing Women, 1849 – 2009

Exposição integrada num programa dedicado à fotografia. Comissariada por Jorge Calado, esta mostra reúne trabalhos de uma centena de artistas-fotógrafas, de diferentes gerações e nacionalidades, que abordam temáticas associadas à mulher ou que podem ser encaradas sob essa perspetiva.
Exhibition included in a programme on the theme of photography. Curated by Jorge Calado, the show featured around 100 works by photographic artists of different generations and nationalities who deal with topics related to women.

Exposição temática apresentada no Centre Culturel Calouste Gulbenkian, em Paris, integrada numa linha programática desenvolvida a partir de 2005, que dá particular atenção à fotografia, procurando expô-la de um modo coerente e inovador (Vilar, Au Féminin. Women Photographing Women 1849-2009, 2009).

Comissariada por Jorge Calado, esta mostra reúne trabalhos de uma centena de artistas-fotógrafas, de diferentes gerações e nacionalidades, que abordam temáticas associadas à mulher ou que podem ser encaradas sob essa perspetiva. As obras selecionadas abrangem mais de um século e meio de história, sendo Cheilanthes radiata (1851-54), de Anna Atkins, o trabalho mais antigo aqui incluído, quando a fotografia dava ainda os primeiros passos, e em A Prayer for Obama (2009), de María Magdalena Campos-Pons, a fotografia mais recente, datada do ano da exposição.

No seu texto para o catálogo, Jorge Calado explica o motivo desta exposição nos seguintes termos: «[…] it has been conceived as a homage and a thank you to Maria do Carmo Vasconcellos who, after eighteen years of service at the Centre Culturel Calouste Gulbenkian, in Paris, retires this Summer as director of communications and exhibitions.» (Calado, Au Féminin…, 2009, p. 27) Por outro lado, torna-se evidente ao longo do texto o interesse do curador em mostrar o papel determinante de uma série de fotógrafas na história da fotografia, não só pelo modo como exploraram certos géneros, mas também pela descoberta e revisitação de certas técnicas, antecipando-se, em muitos casos, a outros artistas, cujo trabalho teve uma maior visibilidade e reconhecimento por serem homens.

A exposição divide-se em dez núcleos temáticos, abertos o suficiente para permitirem espaço a relações, diálogos, correspondências inesperadas. A abordagem proposta afasta-se intencionalmente, como explica o curador, de uma apresentação por género fotográfico, sem deixar, contudo, de aprofundar algumas problemáticas associadas ao medium e suas especificidades.

O primeiro núcleo «Les Âges de la femme» é inspirado nas «Sete idades do homem», conforme referidas por Jacques, personagem de As You Like It, de William Shakespeare. Assim, são reunidas imagens que retratam a infância (Rebecca Lepkoff, Enfant dans une rue du Lower East Side, 1948), a juventude (Lisette Model, Amour adolescente, 1942), o início da idade adulta (Lillian Bassman, Barbara Mullen, 1949), a maternidade (Maria Lamas, Sem título [Jovem mãe de Castanheira, Serra de Estrela], 1940), a idade adulta com as suas alegrias e reveses (Gillian Laub, Guy et Ranit, Tel-Aviv, Israel, 2003), a velhice (Shirley Baker, Salford, 2000) e a morte (Lola Álvarez Bravo, Le Lit de mort de Frida Kahlo, 1954). Realidades distintas, em épocas diferentes, são aqui representadas.

Segue-se o núcleo «Quelques femmes», que apresenta uma sucessão de retratos e autorretratos, pondo lado a lado mulheres anónimas (Doris Ullmann, Portrait d'une femme, c. 1925-34; Diane Arbus, Puerto Rican Woman with a Beauty Mark, 1965; Laura Gilpin, Navaho Portrait (Ethel Kellywood), 1934) e figuras proeminentes do mundo da literatura (Virgina Woolf, Edith Sitwell), do cinema (Imperio Argentina) e da fotografia (Dorothea Lange), quer em ambiente doméstico, quer captadas enquanto realizam a sua atividade profissional. São rostos de mulheres de diferentes nacionalidades, etnias, culturas, em distintas fases da vida.

«Maternité», condição exclusivamente feminina, é aqui representada através de registos captados em diferentes épocas e lugares. Desde o desenvolvimento no ventre materno (Ruth Bernhard, La Moisson, 1953), o momento do nascimento (Grace Robertson, Accouchement, Londres, 1955), a amamentação (Tina Modotti, Un bébé Aztèque, 1926-27), os cuidados (Moira Forjaz, Femme avec pagne, Île de Mozambique, 1982), o dia-a-dia (Rebecca Lepkoff, Femme et enfants sur un perron, 1947). Além de registos documentais, são igualmente expostas fotografias encenadas (Gail Albert Halaban, Sans titre, da série Le Stade de la maternité, 2006; Gao Yuan, L'année du Chien, 2008).

As secções «À la maison», «À l'extérieur», «Travail et loisir» são, na realidade, complementares, revelando uma série de transformações que foram ocorrendo ao longo dos tempos na vida das mulheres, em contexto doméstico e social, decorrentes de uma progressiva mudança de mentalidades. Contudo, em certos contextos há situações de domínio sobre as mulheres que se mantêm, como algumas das imagens denunciam. Estas três secções contrapõem a mulher subjugada à casa e ao serviço doméstico, em alguns casos acumulado com o trabalho no campo e em fábricas (Marion Post Wolcott, Femme faisant des biscuits, 1940; Maria Lamas, Sem título [A trabalhar na secagem do bacalhau], c. 1940), com a mulher emancipada, independente, com acesso à cultura e ao lazer (Esther Bubley, Adolescents prenant leur envol, c. 1957); a mulher como símbolo sexual, alvo de exploração (Mary Ellen Mark, Cages sur Falkland Road la nuit, 1978-79), com a mulher sensual, livre, que não depende da aprovação nem aceita comportamentos machistas (Pamela Hanson, Carla en train de fumer, c. 1994).

«Shopping et mode» e «Stars et déesses» mostram a transformação do corpo da mulher através de roupa, penteado, maquilhagem, rituais de beleza, aos quais se juntam ritos sagrados e cerimónias religiosas (Wynn Richards, Avant et après, c. 1932; Rosa Covarrubias, Sans titre, c. 1950). A fotografia enquanto documento, no sentido de prova da realidade, e simultaneamente ficção, é uma das questões levantadas em «Stars et déesses», tendo continuidade, ainda que de forma distinta, na secção que lhe sucede «Fiction et métaphores», que aprofunda o modo como a fotografia tem sido usada para transmitir determinadas ideias, através de um discurso simbólico, por vezes hermético.

Na zona final da exposição, surge «Nature», imagens que remetem para a ideia de natureza renovada a cada primavera, o ciclo da vida, e o papel do elemento feminino.

A encerrar a exposição, Cheilanthes radiata (1851-54), de Anna Attkins. Pela sua estrutura rizomática, o curador elege-a como símbolo das inúmeras relações possíveis que atravessam os diferentes núcleos, e que o visitante é convidado a explorar.

A maioria das artistas é representada por um único trabalho, salvo algumas exceções, como é o caso de Rebecca Lepkoff, Eve Arnold e Maria Lamas. Segundo o curador, foram as limitações espaciais que ditaram esta escolha (Calado, Au Féminin…, 2009, p. 31).

A exposição estende-se pelas diversas salas do Centre Culturel Calouste Gulbenkian, então situado na antiga residência de Calouste Gulbenkian, em Paris, um edifício projetado pelo arquiteto Paul-Ernest Sanson e construído no final do século XIX.

Pautando-se por uma cuidada sobriedade, o projeto museográfico é da responsabilidade da arquiteta Teresa Nunes da Ponte. Além das salas adaptadas e usadas como espaços expositivos, esta mostra ocupa alguns espaços mais intimistas, como a antiga sala de fumo, forrada a madeira. Nesta, com iluminação controlada, são expostas algumas das fotografias mais antigas e de menores dimensões. Enquanto em alguns casos se opta pela instalação direta na parede, noutros são incorporados painéis de cor cinzenta, criteriosamente posicionados. Esta solução museográfica é usada, por exemplo, em salas de planta oval com muitas janelas. Por outro lado, também algumas zonas de passagem, como a emblemática escadaria, se tornaram espaço de exposição. 

Para acompanhar esta mostra, foi produzida uma publicação da qual se destaca o texto do curador. Além da apresentação da exposição, Jorge Calado escreve um longo ensaio, intitulado «Le Sexe de la photographie», que, através das obras selecionadas para a exposição, percorre a história da fotografia. Nesse texto, salienta a importância das artistas selecionadas no desenvolvimento dos diferentes géneros fotográficos.

Mariana Roquette Teixeira, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Documentação


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