Intus. Helena Almeida

Exposição temporária de trabalhos de Helena Almeida (1934-2018), comissariada por Isabel Carlos. Foram apresentados os trabalhos que constituíram a representação oficial portuguesa na Bienal de Veneza de 2005: Eu Estou Aqui, A Experiência do Lugar II e Tela Habitada.
Temporary exhibition of works by Helena Almeida (1934-2018) curated by Isabel Carlos. The show featured works from the official Portuguese exhibit at the Venice Biennale of 2005: Eu Estou Aqui, A Experiência do Lugar II and Tela Habitada.

Exposição de trabalhos de Helena Almeida (1934-2018), patente ao público entre 21 de janeiro e 26 de março de 2006, na Sala de Exposições Temporárias do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), com o comissariado de Isabel Carlos.

Antes de ser apresentada no CAMJAP, «Intus» constituiu a representação oficial portuguesa na Bienal de Veneza de 2005, onde marcou a quinta presença consecutiva de Portugal na mostra, a qual, entre 9 de junho e 6 de novembro de 2005, foi vista por 24 mil visitantes. Nas edições anteriores, o país fez-se representar por Julião Sarmento, Jorge Molder, João Penalva e Pedro Cabrita Reis (Rato, Público, 9 jun. 2005). O ano de 2005 foi aquele em que a presença portuguesa na Bienal de Veneza teve maior expressão. Além de Helena Almeida, estiveram expostos trabalhos de Joana Vasconcelos, João Louro e Vasco Araújo, artistas convidados pelas comissárias-gerais María de Corral e Rosa Martínez.

A seleção de Helena Almeida para representar Portugal na Bienal de Veneza foi defendida por Isabel Pires de Lima, ministra da Cultura, no texto de apresentação do catálogo da exposição, publicado pelo Instituto das Artes: «Queremos afirmar a presença de Portugal no mundo, na especificidade da sua identidade, no esplendor da sua modernidade e na diversidade das suas manifestações. A obra de Helena Almeida, pelo seu carácter pioneiro e multidisciplinar, é já uma expressão paradigmática do dinamismo da criação artística em Portugal no dealbar do Século XXI.» (Lima, Intus. Helena Almeida, 2005)

Foram apresentados três trabalhos: Eu Estou Aqui, série fotográfica de 2005, A Experiência do Lugar II, vídeo de 2004, e Tela Habitada, de 1976. Todos eles paradigmáticos da experimentação do mundo, da arte e do corpo, estes trabalhos encontravam-se em consonância com as linhas basilares e estratégicas do Instituto das Artes, órgão do Ministério da Cultura responsável pela participação oficial portuguesa na Bienal de Veneza. Estes trabalhos foram organizados no espaço da Scoletta dei Tiraoro e Battioro, em San Stae, edifício onde, no rés-do-chão, foi instalada a obra Tela Habitada, introduzindo o caráter retrospetivo deste piso, que, numa outra sala, incluía a exibição de um DVD com o registo de cerca de 40 obras da artista. No andar superior, foi apresentada A Experiência do Lugar II, vídeo que atribuiu à artista o prémio BES Photo em 2004, que antecedia o conjunto fotográfico Eu Estou Aqui, criado propositadamente para a Bienal.

Na Sala de Exposições Temporárias do CAMJAP, a distribuição das obras teve de responder a uma ordem diferente, tendo sido excluído o DVD apresentado em Veneza, que fazia uma leitura retrospetiva das obras de Helena Almeida.

Comparativamente com o espaço da Bienal, críticos como Paula Lobo consideraram que a neutralidade característica da Sala de Exposições Temporárias do CAMJAP beneficiou a exposição, não obstante a posição geográfica da Scoletta dei Tiraoro e Battioro ter sido uma mais-valia em Veneza, pela sua proximidade do Grande Canal, que chamou um maior número de visitantes.

Vanessa Rato, no artigo que dedicou à exposição do CAMJAP, referiu que talvez este não fosse o espaço esperado para receber as obras de Helena Almeida, mas cita a comissária, Isabel Carlos, que lembra que «qualquer outro, de maior escala, não faria sentido», pois «as circunstâncias de produção determinaram o carácter "intimista" da representação portuguesa» (Rato, Público, 20 jan. 2006).

A exposição conseguiu demonstrar a grande diversidade de formas de expressão artística características da obra de Helena Almeida, que, a partir da década de 1970, começou a desenvolver uma prática que englobou a fotografia, o vídeo, a performance, a escultura, a pintura e o desenho, tomando como tema o seu próprio corpo. Este registo não tinha, todavia, o objetivo de se constituir como um autorretrato, na medida em que não dava quaisquer pistas sobre o corpo concreto ou a natureza psicológica de Helena Almeida, justificando o «carácter tão universal das suas obras, ao mesmo tempo que tão reificadas em si mesmas» (Intus. Helena Almeida, 2005, p. 14).

Eu Estou Aqui refletia esta utilização impessoal do corpo, como afirmou Isabel Carlos, moldando-o à semelhança de uma matéria-prima na escultura: «O corpo é constantemente despistado, transformado, como se se tratasse de uma massa escultórica; como se fosse um bocado de barro ou de granito que a artista, por meio de gestos e poses, transforma numa sucessão de esculturas e acontecimentos.» (Ibid.)

Na Bienal, esta obra foi recebida pelo público de forma inesperada: «A curadora revela que "foi muito interessante ver as reacções do público" em Veneza, nomeadamente em relação à fotografia em que a boca da artista, aberta, foi pintada de vermelho. "Diziam que seria uma espécie de Grito de Munch no feminino."» (Lobo, Diário de Notícias [online], 21 jan. 2006)

Apesar de se manter o recurso ao corpo e à performance, registados através da fotografia, uma nova dimensão religiosa e sacrificial surge nos trabalhos apresentados, nomeadamente no vídeo A Experiência do Lugar II, onde a artista se desloca pelo atelier de joelhos e beija o chão. O observador contempla aqui a relação física e psicológica que o corpo, o espaço de trabalho e os objetos do quotidiano estabelecem no universo da artista. Neste trabalho, foi ainda integrado um elemento nunca explorado por Helena Almeida: a música – um pequeno excerto da ópera Orfeu e Eurídice de Gluck, onde a artista evoca a condição, presente no mito, de nunca olhar para trás e o tema da descida aos infernos.

Intus, que em latim significa «de dentro», apresentou os limites do corpo e as fronteiras entre os diferentes instrumentos de expressão artística, aliados ao humor e a uma completa entrega de Helena Almeida ao seu trabalho. É também este o nome que a artista dá ao local interior de onde nascem as obras: «Quando eu era mais nova e insegura tinha mais necessidade de recorrer a referências exteriores, agora vem mais de dentro, de um lado obscuro, é mais Intus.» (Intus. Helena Almeida, 2005, p. 56)

O catálogo da exposição apresenta uma conversa entre a artista e a comissária, registada em dois momentos distintos: novembro de 1997 e janeiro de 2005. Nesta conversa, Helena Almeida fala sobre temas como a relação com o pai, o escultor Leopoldo de Almeida, as primeiras obras e exposições, o seu percurso artístico e as questões que mais lhe interessava desenvolver no seu trabalho. O catálogo inclui ainda um texto de Peggy Phelan, conhecida crítica e ensaísta norte-americana que, ao travar conhecimento com a obra de Helena Almeida na Bienal de Sydney, se apaixonou por ela.

No âmbito da exposição, foi concebido um programa de visitas de estudo, bem como uma oficina destinada a crianças e famílias, intitulada «Estou aqui e estou ali… Entro e saio do meu corpo!»

Na inauguração, além da artista, estiveram presentes Emílio Rui Vilar, presidente do Conselho de Administração da FCG, Jorge Molder, diretor do CAMJAP, e Teresa Gouveia, administradora da FCG.

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[Intus. Helena Almeida]

2006
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Sala de Exposições Temporárias
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Isabel Carlos (à dir.), Teresa Gouveia (ao centro) e Emílio Rui Vilar (à esq.)
Teresa Gouveia (à dir.), Isabel Carlos (ao centro) e Emílio Rui Vilar (à esq.)
Jorge Molder (à dir.), Teresa Gouveia (ao centro)
Isabel Carlos (à dir.), Emílio Rui Gouveia (ao centro) e Helena Almeida (à esq.)
Isabel Carlos (à dir.), Emílio Rui Gouveia (ao centro) e Helena Almeida (à esq.)
Isabel Alçada
Raul Solnado

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00550

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite e cartaz da Bienal de Veneza, convite da exposição no CAMJAP, orçamentos, material para o catálogo, correspondência interna e externa, formulários de empréstimo e apólices de seguro. 2005 – 2006

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 107633

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2006

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 118672

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2006


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