À la Mode de Chez Nous. Joana Vasconcelos, Júlio Pomar

Exposição baseada numa proposta de colaboração do pintor Júlio Pomar (1926-2018) a um artista português de uma geração mais nova. A artista escolhida foi Joana Vasconcelos (1971). Esta exposição, comissariada por Lúcia Marques, desenvolveu-se em torno da celebração do ceramista português Rafael Bordalo Pinheiro.
Exhibition based on a collaboration proposed by Júlio Pomar to a Portuguese artist from the younger generation: Joana Vasconcelos. The exhibition, curated by Lúcia Marques, centred on a homage to Portuguese ceramic artist Rafael Bordalo Pinheiro.

A exposição «À la Mode de Chez Nous» reuniu trabalhos dos artistas portugueses Júlio Pomar (1926-2018) e Joana Vasconcelos (1971), tendo estado patente no Centre Culturel Calouste Gulbenkian (CCCG) entre abril e junho de 2009, por iniciativa da Presidência da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) e de João Pedro Garcia, diretor do CCCG. Para o comissariado da exposição, foi convidada a curadora e crítica de arte Lúcia Marques.

A Fundação propôs a Júlio Pomar que se associasse a um artista português de uma geração mais nova, para apresentarem um projeto comum no palacete do n.º 51 da Avenue d'Iéna (antiga residência de Calouste Gulbenkian em Paris). Perante este convite, Pomar escolheu a artista Joana Vasconcelos, que aceitou o desafio.

Segundo Emílio Rui Vilar, então presidente da FCG, ainda que com uma diferença de idades de 45 anos, os artistas «têm em comum uma presença em Paris, não só ao longo das suas vidas, mas também das suas carreiras» (À la Mode de Chez Nous, 2009, p. 9). Com efeito, Júlio Pomar viveu e trabalhou entre Lisboa e Paris por largos períodos da sua vida, e Joana Vasconcelos não só nasceu em Paris, como continua a participar em exposições na capital francesa. A antiga casa de Calouste Gulbenkian recebeu então dois artistas contemporâneos para quem Paris foi desde cedo uma primeira casa. A par disso, a exposição comemorava a obra de dois dos artistas portugueses com maior reconhecimento nacional e internacional.

A concretização da exposição ficou a cargo da curadora Lúcia Marques e da arquiteta Teresa Nunes da Ponte, em colaboração com os Serviços Centrais da FCG. A montagem foi realizada pelo Atelier Joana Vasconcelos e pelas empresas Iterartis e Marc Cornet.

A intenção da mostra prendeu-se com a vontade de Lúcia Marques e dos artistas convidados de celebrar a produção nacional do histórico ceramista português Rafael Bordalo Pinheiro (1845-1905) e da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha (fundada em 1884). Os trabalhos apresentados implicaram por isso uma revisitação da obra do ceramista, que foi também o responsável pelo Pavilhão de Portugal na Exposição Universal de Paris em 1889 – comemorando-se em 2009 os 120 anos dessa representação. No catálogo da exposição, a relação com Paris é também sublinhada através da contextualização do mestre Bordalo e do aniversário da Exposição Universal.

Numa abordagem contemporânea do património de Bordalo Pinheiro, as obras que Pomar e Vasconcelos realizaram para a exposição apenas coincidiram no seu ponto de partida: a Fábrica de Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro, nas Caldas da Rainha, inicialmente designada Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, onde, ainda hoje, se produz a cerâmica Bordalo Pinheiro (À la Mode de Chez Nous, 2009, p. 13).

No caso de Júlio Pomar, as cinco peças que integraram a exposição foram realizadas ainda em 2005, numa iniciativa da galerista Ana Viegas (diretora da Galeria Ratton), em parceria com o Museu Nacional do Azulejo. A realização das peças envolveu três dias de produção na Fábrica das Caldas da Rainha. Pomar utilizou então diversos moldes de peças de animais de Bordalo, para criar «o seu próprio bestiário fantástico», como descreveu Lúcia Marques (Ibid.). Surgiram assim cinco assemblages, a que o artista deu os nomes de Joana, Ezequiel, Judite, Susy e José. Nas palavras da curadora, ao atribuir-lhes nomes de pessoas, Pomar aproxima-os do ser humano, «tal como é costume fazer com os “bichos” que povoam desde cedo o seu percurso artístico» (Ibid.).

Por sua vez, Joana Vasconcelos frequentou a Fábrica ao longo de quatro anos, colaborando com a técnica Elsa Rebelo (pintora ceramista em atividade na Fábrica) na recuperação de uma seleção de animais de Bordalo Pinheiro, tais como o Touro, o Sardão, o Lobo, o Caranguejo e o Gato. Produzidos sobretudo nos anos de 2007 e 2008, segundo o desenho original de Bordalo e os métodos tradicionais de fabrico daquelas peças, esses animais foram depois revestidos a crochê de diferentes malhas e cores. De acordo com Lúcia Marques, o revestimento em crochê «domesticava» de certo modo os animais, «com esse labor simbolicamente feminino». A curadora refere: «Vasconcelos usa aqui uma estratégia que entretanto se tornou marcante no contexto da obra que vem desenvolvendo nos últimos anos: revestir com crochet figuras simbólicas do poder, míticas ou mitificadas, usando uma base industrial ou de uso doméstico.» (Ibid., p. 15)

Findos os trabalhos, a mostra apresentou os bichos de Rafael Bordalo Pinheiro, então transformados e reconfigurados pelos processos criativos de Júlio Pomar e Joana Vasconcelos. Distribuídos ao longo das salas do CCCG, as paredes originais do salão que antecede a sala oval acolheram «a fauna domesticada» de Joana Vasconcelos; numa sala contígua revelaram-se os «novos bichos» de Júlio Pomar (Ibid.).

Atribuindo novas configurações e usos ao repertório de Bordalo, «contenção» e «expansão» foram as escolhas opostas dos dois artistas na sua abordagem ao universo Bordalo. Como esclareceu Lúcia Marques, a exposição sublinhava a «evidente lógica expansiva que em termos de concepção e montagem caracteriza a obra de Joana Vasconcelos e a depuração que preside ao acto criativo de Júlio Pomar» (Ibid.). Ou como sintetizou Rui Vilar: «Júlio Pomar apresentou as suas peças num espaço fechado e quase privado, Joana Vasconcelos pela casa fora.» (À la Mode de Chez Nous, 2009, p. 9)

Com o intuito de reforçar essa oposição, foram integradas duas outras obras monumentais de Vasconcelos, que se apropriaram dos espaços públicos da casa: Coração Independente Vermelho 2 (2008), instalado na sala com um pequeno varandim, e Contaminação (2008), suspensa a partir da escadaria principal da casa.

O catálogo da exposição, de edição bilingue (francês/português), foi publicado pelo Centre Culturel Calouste Gulbenkian. Além de ser profusamente ilustrado com fotografias das peças apresentadas e de aspetos da exposição, inclui diversos textos, a lista de obras e a biografia dos artistas. Explicitando as escolhas e etapas que deram origem à mostra, os textos introdutórios são da autoria de Rui Vilar e Lúcia Marques. Os quatro textos seguintes são dedicados ao universo artístico de Bordalo, Pomar e Vasconcelos, assim como a outros autores contemporâneos cujas obras têm tido articulações com a cerâmica bordaliana. Os autores destes textos são: João B. Serra, Ana Cristina Leite, João Mourão e Cédric Morisset. O catálogo reproduz ainda as entrevistas feitas à diretora da Galeria Ratton e à técnica ceramista da Fábrica, procurando partilhar o processo de trabalho desenvolvido com os dois artistas realizados a partir dos moldes antigos.

A inauguração da exposição foi bastante concorrida, conforme registam algumas notas de imprensa relativas ao evento: «À inauguração compareceram artistas, críticos, os três embaixadores portugueses residentes em Paris (Seixas da Costa, Ferro Rodrigues e Carrilho) e, sobretudo, muitos jovens parisienses.» / «Na inauguração, ontem, da exposição […] o numeroso e entusiasmado público, muito diferente do que habitualmente visita aquele centro, palpitava de emoção como o “Coração Independente” vermelho-vivo de Joana Vasconcelos apresentado numa salinha do rés-do-chão ao som de fado.» (Ribeiro, «Júlio Pomar e Joana Vasconcelos surpreendem em Paris», Expresso, 9 abr. 2009)

Como programação paralela à mostra, foram organizadas várias visitas guiadas.

Joana Brito, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Documentação


Periódicos


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05373

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna, convite, comunicado de imprensa. 2008 – 2009


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