XVI Desenhos de António Areal

Exposição de um álbum de desenhos de António Areal (1934-1978), pertencente à coleção do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão. Comissariada por Alexandre Conefrey, esta mostra integrada no programa de exposições rotativas do CAMJAP enquadra-se num conjunto de exposições centradas numa obra ou série, que são objeto de uma nova leitura.
Exhibition of an album of drawings by António Areal (1934-1978) belonging to the Modern Art Centre José de Azeredo Perdigão. Curated by Alexandre Conefrey, the show formed part of the CAMJAP’s programme of rotating exhibitions, in this case several shows dedicated to works or series of works that were being re-interpreted from a new perspective.

Exposição de um álbum de desenhos de António Areal (1934-1978) raramente apresentado, pertencente à coleção do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), por doação dos pais do artista, em 1979.

Integrada no programa de exposições rotativas do CAMJAP, iniciado em 2001, esta mostra enquadrou-se num conjunto de exposições centradas numa única obra ou série de trabalhos, que, na maioria dos casos, são objeto de um olhar renovado. Compõem esse conjunto as mostras «José Barrias. Barragem» (2003), «Jorge Pinheiro. Desenhos Preparatórios das Pinturas "O Bispo"» (2003), «Os Galgos de Amadeo. Olhar a História de uma Pintura» (2004), «Fernando Lemos. Desenhos / Memórias» (2006). As abordagens são de natureza diversa, de acordo com as especificidades das obras selecionadas, desenvolvendo-se diferentes soluções expositivas.

Esta exposição apresentou um álbum desdobrável de 16 desenhos a tinta-da-china e aguarela, produzido por Areal em 1968, momento em que o artista, como refere João Pinharanda, «tinha encontrado o campo de cruzamentos a partir do qual a sua obra se apresenta mais enriquecedora» (Pinharanda, Público, 24 jan. 2004, p. 16) e em que os seus trabalhos assumem uma dimensão de questionamento e crítica do estatuto de obra de arte e de artista. Neste caso particular, o artista procede à reprodução – contudo manual e não mecanizada – do seu trabalho. Este álbum de desenhos faz parte de um conjunto de 22 exemplares iguais, ou quase iguais, uma vez que executados manualmente pelo artista. Através desta «edição» não numerada, Areal desafia os limites da obra de arte e põe em causa os conceitos de peça única e de múltiplo.

Nos desenhos que o álbum apresenta, desdobramentos, contorções, rebatimentos, interseções, projeções criam composições dinâmicas com um vocabulário de formas geométricas e orgânicas, através do qual o artista explora as fronteiras entre a bidimensionalidade e a tridimensionalidade. Exemplo do que Areal designa como «figuração abstracta», estes desenhos traçados a tinta-da-china são coloridos a aguarela sobre fundo branco. A paleta cromática, constituída por amarelo e em casos pontuais laranja, é comum a todos os desenhos, contribuindo para a ideia de serialidade.

A estratégica expositiva, desenvolvida pelo curador da exposição, Alexandre Conefrey, evidenciou a natureza híbrida da peça – série de desenhos/objetos para serem manuseados –, e as questões que esta suscita. No centro da sala, foi disposta uma vitrina longitudinal, na qual o álbum se encontrava desdobrado em toda a sua extensão. Dado que, por questões de conservação, o álbum não pode ser manuseado, o observador é incitado a movimentar-se em torno da vitrina, uma vez que os desenhos ocupam frente e verso, podendo assim percorrer o álbum livremente na sua totalidade.

A base da vitrina e as paredes da sala, pintadas de branco, permitiam que estes elementos de cor, únicos na sala, se destacassem. Como os desenhos não se encontravam enquadrados por molduras, desdobrando-se o álbum no espaço, o seu campo de ação parecia poder estender-se para lá da folha de papel. Esta ideia era reforçada por uma espécie de projeção das figuras de Areal nas paredes do espaço expositivo, evidenciando, uma vez mais, o caráter tridimensional daquele trabalho.

Esta pequena exposição chamou a atenção da imprensa, sendo a sua visita sugerida em periódicos especializados. Dois são os artigos de maior relevo que lhe dedicam particular atenção «António Areal: desenhos de bolso», de Rocha de Sousa, e «Duas consequências surrealistas», de João Pinharanda. Tendo esta exposição como pretexto, Rocha de Sousa faz um percurso pela obra artística e teórica de Areal, que classifica como «artista de pesquisa, de provocação estética, controverso» (Sousa, JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias, 4 fev. 2004, p. 31), e analisa em detalhe o álbum em exposição, tendo em consideração a produção anterior.

Também Pinharanda contextualiza o trabalho em causa na obra de Areal, procurando igualmente analisar a leitura apresentada pelo curador, afirmando: «Confrontada com a essencialidade do material a expor, a solução do CAM (da responsabilidade de Alexandre Conefrey) optou por desdobrar no espaço o álbum de Areal criando a ilusão de suspensão das folhas, da sua lógica de infinitude e da possibilidade de contaminação do próprio espaço envolvente, projectando-se fragmentariamente nas paredes.» (Pinharanda, Público, 24 jan. 2004, p. 16)

À semelhança das outras exposições rotativas, não foi produzida nenhuma publicação para acompanhar esta exposição.

Mariana Roquette Teixeira, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

s/título

António Areal (1934-1978)

s/título, 1968 / Inv. DP405

S/Título

António Areal (1934-1978)

S/Título, 1968 / Inv. DP406

S/Título

António Areal (1934-1978)

S/Título, 1968 / Inv. DP407

S/Título

António Areal (1934-1978)

S/Título, 1968 / Inv. DP408

S/Título

António Areal (1934-1978)

S/Título, 1968 / Inv. DP409

S/Título

António Areal (1934-1978)

S/Título, 1968 / Inv. DP410

S/Título

António Areal (1934-1978)

S/Título, 1968 / Inv. DP411

S/Título

António Areal (1934-1978)

S/Título, 1968 / Inv. DP412

S/Título

António Areal (1934-1978)

S/Título, 1968 / Inv. DP413

S/Título

António Areal (1934-1978)

S/Título, 1968 / Inv. DP414

S/Título

António Areal (1934-1978)

S/Título, 1968 / Inv. DP415

S/Título

António Areal (1934-1978)

S/Título, 1968 / Inv. DP416

S/Título

António Areal (1934-1978)

S/Título, 1968 / Inv. DP417

S/Título

António Areal (1934-1978)

S/Título, 1968 / Inv. DP404

S/Título

António Areal (1934-1978)

S/Título, 1968 / Inv. DP418

S/Título

António Areal (1934-1978)

S/Título, 1968 / Inv. DP419


Publicações


Fotografias


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 175060

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2004


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