Jean-Baptiste Debret. Un Français à la Cour du Brésil 1816 – 1831

Comemorações dos 500 Anos do Descobrimento do Brasil

Exposição itinerante de Jean-Baptiste Debret (1768-1848), realizada em Paris pelo Centre Culturel Calouste Gulbenkian, em parceria com os Museus Castro Maya (Brasil). A exposição teria já sido apresentada no Brasil e em Portugal, sendo Paris o seu último destino. Júlio Bandeira comissariou a exposição, que reuniu desenhos e aguarelas do artista.
Travelling exhibition of work by Jean-Baptiste Debret (1768-1848) held in Paris by the Centre Culturel Calouste Gulbenkian in partnership with the Castro Mayo Museums (Brazil). The show had already been held in Brazil and Portugal, with Paris as its final destination. Curated by Júlio Bandeira, the exhibition featured drawings and watercolours by Debret.

No ano 2000 foi realizada a exposição itinerante dedicada ao artista francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848), integrada nas comemorações do quinto centenário da descoberta do Brasil. Em Paris, a exposição resultou da colaboração do Centre Culturel Calouste Gulbenkian (CCCG) com os Museus Castro Maya.

Como parte das comemorações dos quinhentos anos da descoberta do Brasil, a exposição teria já sido apresentada no antigo Paço Imperial no Rio de Janeiro, como um dos módulos da exposição «O Brasil Redescoberto». Em abril do ano 2000, iniciou itinerância pela Europa, começando pelo Museu de Arte e História de Friburgo, na Suíça, seguindo depois para o Palácio Nacional da Ajuda em Lisboa, e finalizando o seu percurso em Paris, cidade natal de Debret e de Castro Maya.

A par da comemoração do artista Jean-Baptiste Debret, a exposição pretendeu recordar o colecionador de arte e mecenas Raymundo Ottoni de Castro Maya (1894-1968), assim como celebrar os Museus Castro Maya. Como referiu o então ministro da Cultura brasileiro, Francisco Weffort, estas três referências, «em momentos e de maneiras diferentes, possibilitaram o enriquecimento da cultura brasileira» (Jean-Baptiste Debret. Un Français à la Cour du Brésil, 1816-1831, 2000, p. 5).

O artista contribuíra para a ilustração e documentação dos aspetos da realidade brasileira do início do século XIX, o que resultou no que é atualmente um dos mais importantes documentos visuais daquele período brasileiro. O mecenas Raymundo Ottoni Castro Maya adquiriu a coleção de desenhos históricos de Debret, doou-a ao país e com isso garantiu a sua permanência no Brasil. Desde então, os Museus Castro Maya zelam pela coleção e divulgam-na.

Júlio Bandeira, historiador e professor de História do Brasil, assegurou a curadoria da exposição. São da sua autoria numerosas publicações dedicadas aos artistas que integraram as missões artísticas francesas no Brasil, do início do século XIX, e, em particular, as que versam sobre Jean-Baptiste Debret.

Jean-Baptiste Debret foi um pintor, desenhista e professor francês. O contexto em que se insere deriva das invasões napoleónicas em Portugal (1808-1810) e da consequente transferência da corte portuguesa para o Brasil, em 1808. O artista assiste aos efeitos da Revolução Liberal portuguesa, em 1820, que romperam com a situação de tutela inglesa sobre Portugal, estabelecida na sequência da expulsão dos invasores franceses. Em 1821, o regresso a Lisboa do rei D. João VI é imperativo, assim como a sua intenção de repor o antigo sistema de monopólio comercial com as colónias. Essa situação acabou por precipitar o processo de independência do Brasil (1821-1825).

É neste quadro histórico que tem lugar o convite da corte portuguesa, ainda em 1815, para a organização de uma missão de artistas franceses no Brasil. Estas missões tinham como objetivo introduzir um sistema de ensino superior académico, subordinado ao gosto neoclássico. Jean-Baptiste Debret, entre outros artistas (pintores, escultores, arquitetos) e discípulos, integrou as missões.

Então no Rio de Janeiro, a missão francesa estava «encarregada de irradiar cultura e civilização na nova sede da monarquia portuguesa» (Ibid., p. 44). É então criada a Academia das Belas-Artes, responsável por elaborar o imaginário da monarquia. Debret participou ativamente nessa produção, ficando a seu cargo a elaboração da imagem e dos símbolos da corte portuguesa, então instalada no Brasil havia cerca de oito anos.

Como refere o curador Júlio Bandeira, ao contactar com o Mundo Novo e a sua natureza exótica, Debret é, contudo, levado a adequar os cânones neoclássicos: «O pintor de história francês deparou-se com um continente ainda cheio de vapores barrocos coloniais.» (Ibid., p. 43)

Jean-Baptiste Debret, «junto com os seus companheiros, viera para embelezar, educar e iluminar uma cidade que era “apenas cortesã por algumas, mas raras, feições”» (Ibid., p. 44). Por outro lado, e de acordo com o curador, «ao participar da génese do Império brasileiro com o lado oficial de sua pintura, Debret alimentava o desiderato brasileiro sedento de “modernidades” […] que fluíam ora livremente do além-mar» (Ibid.).

Como sugere Vera de Alencar, diretora dos Museus Castro Maya, «diante da constatação de que seria impossível aplicar um sistema formal pré-estabelecido à representação da realidade colonial brasileira, totalmente diversa da França napoleónica, Debret procura adequar e adaptar certos pressupostos do neoclassicismo a aspectos de um cenário que lhe era totalmente estranho» (Ibid., pp. 8-9).

O artista incorporou nos seus desenhos uma dinâmica social típica do Brasil, alargando a sua obra a mais do que uma simples representação de objetos e cenas de costumes. Os temas que representou envolvem «paisagem, actividades urbanas, a relação entre senhores e escravos, festas religiosas, indígenas enfim, usos e costumes do Brasil». Além disso, «como pintor oficial da corte portuguesa e, posteriormente, do Primeiro Império [brasileiro], documentou cenas oficiais, retratou a nobreza, foi, enfim, o grande responsável pela simbologia da corte brasileira» (Ibid.).

Nas palavras de Francisco Bethencourt, então diretor do CCCG, «o caso Debret é o mais significativo de todos os artistas que passaram pelo Brasil neste período […] pois, para além de ter produzido uma pintura de costumes adaptada a um contexto tropical, a qual cobre praticamente todos os aspectos da sociedade brasileira da época, ele intervém directamente no processo de criação de uma nova nação» (Ibid., p. 7). Desta forma, o diretor sustenta a decisão do CCCG em aprovar e realizar a proposta de exposição dos Museus Castro Maya, uma vez que esta viria ao encontro da estratégia do Centre Culturel de estudar as trocas culturais estabelecidas entre países de língua portuguesa e França (Ibid.).

A mostra expôs 75 desenhos e aguarelas de Debret, que pertencem na sua totalidade à coleção doada por Castro Maya ao museu brasileiro. Os desenhos apresentados correspondem aos anos de 1816 a 1831, período em que o artista permaneceu no Brasil.

A delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian organizou visitas guiadas à exposição em Paris.

O catálogo da mostra, de edição bilingue (francês/português), foi editado pelo CCCG e inclui vários textos sobre o objetivo da exposição e sobre a obra do artista. Os textos são da autoria de Francisco Weffort, Marcos C. de Azambuja (embaixador do Brasil em Paris), Francisco Bethencourt e Vera de Alencar. O curador Júlio Bandeira assina um interessante e pormenorizado texto sobre Debret e o contexto histórico ao qual pertenceu. O catálogo inclui também reproduções de algumas das obras apresentadas na exposição.

A exposição alcançou bastante sucesso em Paris, conforme ficou registado no Relatório e Contas de 2000 da FCG: «Sendo de salientar o êxito da exposição de Jean-Baptiste Debret, que atraiu logo na inauguração mais de 500 visitantes […].» (Relatório Balanço e Contas. FCG. 2000, 2001, p. 152)

Joana Brito, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Fotografias em álbum da inauguração da exposição

Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05377

Pasta com folhetos de exposições organizadas no Centre Culturel Calouste Gulbenkian, em Paris. 1979 – 2004

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05378

PaPasta com convites e recortes de imprensa de exposições organizadas no Centre Culturel Portugais, em Paris. 1979 – 2003

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 04891

Albúm com coleção fotográfica, cor: inauguração (CCCG, Paris) 2000


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