Um Novo Mundo, um Novo Império. A Corte Portuguesa no Brasil, 1808 – 1822

Comemorações dos 200 Anos da Deslocação da Corte Portuguesa para o Brasil

Exposição coletiva realizada no âmbito das comemorações dos 200 anos da deslocação da corte portuguesa para o Brasil e apresentada no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro, com o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian. A curadoria da mostra foi assegurada por Vera Tostes.
Collective exhibition organised for the commemorations of 200 years since the Portuguese Court was transferred to Brazil. It was staged by the National Historical Museum, Rio de Janeiro, and sponsored by the Calouste Gulbenkian Foundation. The curator for the exhibition was Vera Tostes.

Exposição apresentada no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro, que contou com o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian através do seu Serviço Internacional. A organização verificou-se num quadro mais alargado de celebrações do segundo centenário da chegada da corte portuguesa ao Brasil, em 1808.

Patente ao público entre 8 de março e 8 de junho de 2008, a inauguração, a 7 de março, contou com a presença dos então presidentes das repúblicas brasileira e portuguesa, Lula da Silva e Aníbal Cavaco Silva, respetivamente, coincidindo, duzentos anos mais tarde, com a data em que D. João VI recebeu importantes convidados a bordo da nau Príncipe Real.

Esta mostra, bem como um conjunto de iniciativas que sinalizaram este marco importante da história partilhada entre Portugal e Brasil, assinalou mais um momento de estreitamento de laços culturais e institucionais entre os dois países, ao que podemos acrescentar as celebrações do quinto centenário da chegada dos portugueses ao Brasil, em 2000, assinaladas na FCG com a apresentação de duas exposições: «Século 20. Arte do Brasil» e «Entre o Espanto e o Esquecimento. Arqueologia das Sociedades Brasileiras antes do Contacto».

Com curadoria de Vera Tostes, diretora do Museu Histórico Nacional, a exposição apresentou cerca de 320 peças, com destaque para obras de arte e documentação nunca antes vistas no Rio de Janeiro, nomeadamente a tela Chegada de D. João VI a Salvador (1952), do artista brasileiro Candido Portinari (1903-1962), pertencente ao acervo do Banco BBM, bem como documentação pertencente a coleções portuguesas e do Arquivo Nacional do Brasil.

Entre os vários objetos expostos, destacou-se a cadeira acústica de D. João VI, que, segundo Vera Tostes, foi construída em Inglaterra e se destinava a amplificar as vozes dos súbditos do monarca através de um tubo que as conduzia até aos ouvidos régios. Esta seria uma das peças mais peculiares da exposição (Arquivos Gulbenkian, INT 04353).

Os diversos objetos apresentados, visavam enfatizar aspetos económicos, políticos, culturais e sociais da transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, realçando igualmente o facto de a chegada de D. João VI marcar a primeira deslocação de um monarca europeu a uma colónia na América e a primeira vez que uma cidade colonial, como o Rio de Janeiro, se tornaria capital do reino.

O espaço expositivo foi dividido em núcleos: «A Europa de Napoleão», «Decisão e Embarque», «A Viagem», «A Corte nos Trópicos», «Um Rei Aclamado na América» e «Independência». Os núcleos eram compostos por pinturas e esculturas da coleção do Museu Histórico Nacional, mobiliário e louças vindas de Portugal, incluindo outras peças, como a réplica da coroa do rei, pertencente ao Museu Imperial, em Petrópolis. A experiência do visitante em cada núcleo expositivo foi acompanhada por sons, que incluíam a simulação do barulho das tropas de Napoleão e da travessia no Atlântico; modinhas do século XIX; ou ainda música sacra composta pelo padre José Maurício Nunes Garcia (1767-1830) para a corte portuguesa. A isto se acrescentavam vídeos com recriações históricas sobre a invasão de Portugal pelos franceses entre 1807 e 1813, e sobre alguns dos quadros da coleção permanente do museu, para dar a conhecer a ambiência do Rio de Janeiro no século XIX.

A chegada da corte portuguesa em 1808 teve implicações diversas no contexto brasileiro: além de ter contribuído para acelerar o processo de independência, que aconteceria em 1822, teve evidentes consequências a nível social e económico, vindo igualmente a fornecer um estímulo artístico, com alterações significativas nos padrões de gosto e no aumento da encomenda a artistas, decorrente da presença da corte. Tais alterações motivaram o aparecimento de formas de expressão originais no urbanismo, na música e nas artes plásticas, resultando num sincretismo cultural que se revela até aos dias de hoje e que se interliga com uma constante procura de identidade nacional, que muitas vezes se traduz numa relação ambivalente entre o autóctone e o estrangeiro, ora em espírito de comunhão, ora de recusa. Nas palavras de Gilberto Gil, à época ministro de Estado da Cultura do Brasil: «Um Brasil ainda hoje antropofágico que assimila e digere o que chega para ser devolvido em inovação, em invenção, e em indiferença.» (Um Novo Mundo, um Novo Império…, p. 9)

Também em Portugal se fizeram sentir as consequências da transferência da corte para o Rio de Janeiro, pois esta ausência, associada à conjuntura internacional decorrente da derrota do expansionismo napoleónico, abriu perspetivas de renovação política e tornou a sociedade portuguesa favorável aos ideais do liberalismo.

A acompanhar a exposição, o Museu Histórico Nacional publicou um catálogo composto por textos da autoria da curadora Vera Tostes e de importantes académicos e historiadores, como Eduardo Lourenço e Arno Wehling. A publicação seria dividida em três núcleos: «Rumo a um Novo Mundo», «A Metrópole nos Trópicos» e «Agora, Brasil».

A inauguração da exposição foi acompanhada pela realização de uma mesa-redonda, no dia 6 de março, subordinada à temática da exposição, e contou com a presença dos historiadores Arno Wehling e Jorge Couto, bem como de Eduardo Lourenço.

A celebração do segundo centenário da chegada da corte portuguesa ao Brasil foi integrada numa vasta programação cultural entre Portugal e o Brasil, destacando-se o colóquio internacional «Entre Portugal e o Brasil: A Corte na América (1808-1821). Balanço e Perspectivas Historiográficas», na Universidade Autónoma de Lisboa; o ciclo de cinema brasileiro organizado pela Embaixada do Brasil em Portugal e pela Livraria Byblos; o lançamento do livro 1808, da autoria do jornalista Laurentino Gomes; e ainda variados programas de televisão dedicados ao tema.

Destaque ainda para a realização de duas exposições: «Lusa: A Matriz Portuguesa», inaugurada a 26 de fevereiro de 2008 em Brasília, no Centro Cultural Banco do Brasil, com curadoria de Marcello Dantas, e para a qual a FCG emprestou obras; e «Bahia na Época de D. João VI», exposição igualmente patrocinada pela FCG e organizada pelo Museu de Arte da Bahia, inaugurada a 10 de março, tendo contado com a presença de Emílio Rui Vilar e do diretor do Serviço Internacional da FCG, João Pedro Garcia. Composta por gravuras, desenhos, pintura, mobiliário e objetos diversos, esta exposição procurou retratar o quotidiano da cidade da Bahia na primeira metade do século XIX, incluindo peças pertencentes a diversos museus brasileiros e portugueses, selecionados pela diretora do Museu de Arte da Bahia, Sylvia Athayde.

A título de curiosidade, no dia da inauguração da exposição «Um Novo Mundo, um Novo Império» foi lançada pelo Clube da Medalha/Casa da Moeda do Brasil a medalha comemorativa dos 200 Anos da Chegada da Família Real ao Brasil.

Patrícia Simões, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Mesa-redonda / Debate / Conversa

[Um Novo Mundo, um Novo Império. A Corte Portuguesa no Brasil, 1808 – 1822]

6 mar 2008
Museu Histórico Nacional (MHN)
Rio de Janeiro, Brasil

Publicações


Material Gráfico


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço Internacional), Lisboa / INT 04339

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém listagem de obras, documentos sobre transportes e seguros e correspondência vária. 2006 – 2008

Arquivos Gulbenkian (Serviço Internacional), Lisboa / INT 04353

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém documentos de promoção da exposição, convite, recortes de imprensa, registos fotográficos, correspondência, textos para catálogo e programa da visita oficial do presidente da República Portuguesa ao Brasil. 2007 – 2008

Arquivos Gulbenkian (Serviço Internacional), Lisboa / INT 04352

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém documentação relativa aos eventos organizados no quadro geral das celebrações do acontecimento e recortes de imprensa. 2007 – 2008


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