Exposição de 13 pinturas da artista espanhola Sofía Gandarias (1951-2016), intitulada «Pessoa/Camus» e organizada pelo Centre Culturel Calouste Gulbenkian, onde esteve patente de 3 a 23 de dezembro de 1998.

Centrada na poesia, esta mostra quis demonstrar a importância da literatura na obra de Sofía Gandarias, de cuja obra constam retratos de numerosas figuras do mundo das letras. A exposição foi organizada em três núcleos: o primeiro tinha o espectador como figura central, contando quatro pinturas; o segundo dedicado à poesia, composto por seis pinturas, nas quais se incluíam os retratos dos poetas latino-americanos Luis Palés Matos, Miguel Otero Silva, Nicanor Parra, José Lezama Lima e Carlos Pellicer; o terceiro consagrado ao poeta português Fernando Pessoa, constituído por três pinturas cedidas pelo Museu da Cidade de Lisboa.

Tal como para o sevilhano Diego Velázquez, para Sofía Gandarias toda a pintura é retrato, no sentido em que o rosto humano serve de metáfora para uma visão do mundo, da vida e da sociedade. Assim, mais que um tema, a pintura de retrato tornou-se para Gandarias uma expressão consciente do mundo que a rodeava, um compromisso estético e ético. Sofía Gandarias invertia, no entanto, a perspetiva de Velázquez, encarando todo retrato como pintura, ou seja, enquanto síntese de todas as formas que a pintura pode assumir (Roa Bastos, Homenaje a El Greco, 2018, p. 25).

O retrato funciona como o meio através do qual a pintora dialoga com o modelo e, através dele, com a sua eternidade. Como refere o escritor paraguaio Augusto Roa Bastos num ensaio publicado sobre a obra de Sofía Gandarias: «Pintar un rostro es también interpretar un hecho de naturaleza. Reproducir un cuerpo, expuesto como todos los cuerpos de la naturaleza a su finitud y desaparición, no es intentar su copia sino transformarlo en el objeto testimonial de una vida, de una historia, de un destino.» (Roa Bastos, Homenaje a El Greco, 2018, p. 29)

José Saramago, que tinha uma admiração confessa pela obra de Gandarias, assinalou a dimensão alegórica dos seus retratos e registaria nos seus Cadernos de Lanzarote: «As telas de Sofía Gandarias são estes espelhos pintados, de onde se retirou, recomposta, a sua imagem, ou onde, oculta, ainda se mantém, talvez sob uma camada de luz dourada ou de sombra nocturna, para entregar ao uso da memória o espaço e a profundidade que lhe convém. Não importa que sejam retratos ou naturezas-mortas: estas pinturas são sempre lugares de memória.» (Saramago, Cadernos de Lanzarote Diário III, 1995, p. 145)

A 7 de dezembro de 1998, o maestro violinista Yehudi Menuhin, que Sofía Gandarias retratou em 1993, visitou a exposição.

Carolina Gouveia Matias, 2019