A fotografia de Bernard Plossu (1945) testemunha a condição de viajante do seu autor. Deixa patente um trânsito por geografias e culturas díspares, em que, não obstante o ritmo da passagem, parece ter o condão de captar algo de constante nas realidades contrastantes que mostra. A paisagem natural e o património cultural, os artefactos e as pessoas, o quotidiano da rua e a intimidade – são tudo vetores que participam, a um tempo, nos andamentos fotográficos de Plossou.

Em 1995, a obra deste artista francês nascido no Vietname já tinha cruzado recorrentemente Portugal, quer para ser exposta, quer mesmo para ser inspirada e feita. Seria agora recebida pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), como etapa de uma exposição itinerante internacional, de caráter antológico, promovida pela Association Française d'Action Artistique. Por intermédio de Gilles Mora, comissário da iniciativa, este organismo do Ministério dos Negócios Estrangeiros de França estabeleceria contacto com Jorge Molder, diretor do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) da FCG, para a produção da mostra em Lisboa (Carta de Jean Digne a Molder, 25 mar. 1995, Arquivos Gulbenkian, CAM 00366).

«Bernard Possu, 1963-1993» ficou patente na Galeria do piso 01 do CAMJAP entre 7 de fevereiro e 2 de abril de 1995.

O catálogo de exposição mereceu uma versão bilingue, francês/português, e conta com um texto de Maria Filomena Molder, «A Imagem das Sombras de Bernard Plossu», além da apresentação curatorial de Gilles Mora, comissário da exposição.

Uma das 90 provas fotográficas catalogadas (Le mauritanien endormi, 1976, Inv. FE92) seria adquirida pela Fundação na sequência da mostra, tornando-se a última peça, até à data, a integrar o acervo de 12 obras do autor registadas na Coleção Moderna da FCG. As restantes 11 peças terão sido incorporadas na sequência da iniciativa «Acontecimentos», ciclo de exposições e mesas-redondas em torno da fotografia, organizado pelo Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte (ACARTE) da FCG. A fechar 1988, essa iniciativa trouxe três mostras à Sala de Exposições Temporárias do Centro de Arte Moderna (CAM) da FCG, na sequência de uma proposta de Pedro Miguel Frade e Jorge Molder. Uma delas foi «A Obscuridade e as Luzes da Noite de Lisboa», protagonizada por Plossu e Keiichi Tahara (1951-2017). Tal como Plossu, também o fotógrafo japonês veria trabalho aqui exposto a ser incorporado na coleção da FCG, e o mesmo aconteceu com os restantes participantes nas outras duas exposições do ciclo. Essa era, de resto, uma das premissas programáticas desta iniciativa, que convidou seis destacados fotógrafos estrangeiros a debruçarem-se sobre temas portugueses (Folheto «Acontecimentos», Dossiê de Artista n.º 398, Acervo físico do CAM).

Logo no ano seguinte, 1989, a Fundação Gulbenkian pôde também apoiar a mostra «Bernard Plossu. Alguns Momentos em Portugal», no âmbito da 10.ª edição dos Encontros de Fotografia de Coimbra, coproduzidos pelo Centro de Estudos de Fotografia e pela Alliance Française.

Esta familiaridade prévia com o trabalho de Plossu foi por diversas vezes destacada na imprensa portuguesa, que esteve particularmente atenta a esta antológica de 1995 no CAMJAP. Nos muitos artigos publicados, inclui-se uma entrevista com o artista orientada por Catarina Carvalho para o Diário de Notícias (Carvalho, Diário de Notícias, 10 fev. 1995, p. 30).

Daniel Peres, 2019