John Aiken. Aresta Cortante

Exposição itinerante e individual do escultor John Aiken (1950), organizada pelo Centre de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão e pela Tate Gallery de St. Ives (Inglaterra). Apresentada nestas duas instituições, a mostra estimulou diálogos entre a história, a arquitetura e a paisagem dos dois países onde foi acolhida.
Travelling solo exhibition on sculptor John Aiken (1950) organised by the José de Azeredo Perdigão Modern Art Centre and the Tate St Ives. Staged at both institutions, the show juxtaposed the history, architecture and landscapes of the two host countries.

Desde o final da década de 1970 que o trabalho de John Aiken (1950) está marcado por uma aproximação ao Pós-Minimalismo e à Land Art, na senda de muitos escultores contemporâneos a trabalhar e a residir na Grã-Bretanha. No seu caso, é muitas vezes o pensamento crítico sobre a arquitetura que faz da sua arte uma reflexão sobre o território e sobre a pegada cultural que nele é inscrita – com as implicações históricas, políticas e sociológicas que revestem as relações com os lugares e a paisagem.

«Aresta Cortante» foi uma exposição individual concebida com dois núcleos geográficos, um no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), em Lisboa, outro na Tate Gallery St Ives, na Cornualha, Reino Unido. Tratou-se de um projeto em que Akien voltou a centrar-se nas fortificações militares, referência recorrente na sua obra. Convoca a memória de edifícios dessa natureza, de Portugal e Reino Unido, que foram outrora fundamentais para a defesa dos países e que, com a sua desativação funcional, foram sendo progressivamente votados a um limbo patrimonial por parte dos Estados, ora tornados polos museográficos, ora caindo no abandono. Para muitas dessas arquiteturas, que marcaram indelevelmente a topografia e a cultura popular e mítica das regiões em que se localizam, acaba por ser o processo da ruína a encarregar-se das transformações que vão sofrendo.

Em atenção a estas especificidades, Aiken desenvolveu este projeto bicéfalo, como um duplo site-specific. A instalação na Tate St Ives chamava a si a edificação militar, então já residual, sobre a qual se construiu a galeria, em plena costa da Cornualha. Na Gulbenkian, eram as célebres Linhas de Torres Vedras a referência mais evidente do exercício escultórico que apresentou na Sala de Exposições Temporárias do CAMJAP.

Essas 153 fortificações em território português – peça-chave do bloqueio liderado pelo general irlandês Arthur Wellesley (1.º duque de Wellington) às Terceiras Invasões Napoleónicas (1810) – tornavam-se assim uma das muitas correspondências que esta exposição propunha entre Portugal e o Reino Unido. Ao paralelismo temático com a história política e militar entre os dois países, Aiken adicionava vários outros diálogos, plasmados na proposta de exposição que remete ao CAMJAP. Aí revela que, desde o início dos anos de 1990, mantinha estreitas relações com o país, que motivaram estas suas pesquisas. Profissionalmente, elas já tinham contribuído para a realização do projeto de arte pública na St Anne's Cathedral Square, em Belfast, Reino Unido, em 1992, em que usa maioritariamente granito português polido. Seria esse o material que voltaria a estar em destaque nas peças de «Aresta Cortante», fruto da mesma parceria com a pedreira Granitos de Maceira, em Pero Pinheiro, distinguida entre os patrocinadores desta mostra.

Afetivamente, a ligação a Portugal incluía também a amizade estabelecida com Bartolomeu Cid dos Santos, conceituado artista português que era então regente da cadeira de Gravura na Slade School of Fine Art de Londres. Aiken regia, à data, o departamento de Escultura dessa mesma escola, da qual viria a tornar-se diretor entre 2000 e 2012.

Conforme destaca o curador da Tate St Ives, Michael Tooby, na introdução que escreve para o catálogo desta exposição, o arquiteto britânico Leslie Martin é outro vínculo entre os dois polos geográficos de «Aresta Cortante». Foi ele quem coassinou, com José Sommer Ribeiro, o projeto para o Centro de Arte Moderna da FCG (inaugurado em 1983) e que incluía já a sala de planta trapezoide onde Aiken instalou as suas peças, e que tanto interesse lhe despertou. Quer na Cornualha, quer em Lisboa, «Aresta Cortante» primou sempre por uma relação atenta com as especificidades de ambas as arquiteturas.

Seria o núcleo britânico da exposição, comissariado por Tooby, o primeiro a inaugurar, em maio de 1995. A instalação na FCG ficaria patente apenas a partir de 14 de novembro desse ano, com comissariado de Jorge Molder e Rui Sanches, respetivamente diretor e diretor-adjunto do CAMPJAP. Encerrou já em 1996, a 21 de janeiro.

As duas instituições publicaram o catálogo conjunto, que, entre os seus conteúdos, integra textos dos curadores e uma memória descritiva do projeto redigida pelo próprio John Aiken. O artista terá protagonizado também, com Tooby, uma conferência sobre a exposição que teve lugar no Hall do CAMJAP (então chamada Sala das Tapeçarias), a 15 de novembro, dia seguinte à inauguração em Lisboa (Comunicado de imprensa, Arquivos Gulbenkian, SC 195). Após esse arranque, seriam realizadas duas visitas orientadas à exposição, a 23 de novembro de 1995 e a 11 de janeiro de 1996 (Ibid.).

Uma entrevista com o artista, com enfoque na exposição, seria conduzida por Rosa Almeida, em Londres, e publicada no jornal Público a 16 de novembro de 1995 (Arquivos Gulbenkian, CAM 00335).

Daniel Peres, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Conferência / Palestra

[John Aiken. Aresta Cortante]

15 nov 1995
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Hall
Lisboa, Portugal

Publicações


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00335

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa, maquetes para o catálogo, plantas, estudos técnicos para a produção das obras e sua instalação, catálogos para a apresentação em Lisboa e no Reino Unido. 1993 – 1997


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