Tau ou os Porcos de Issenheim [painel explicativo]

N.º Inv.
ADP291
Data
c. 1989 – 1990
Materiais e técnicas
Tinta acrílica e grafite sobre madeira
Medidas
80 x 60 cm
Proveniência
Col. CAM - Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
Inscrições

«Os painéis do Retábulo de Issenheim foram pintados entre 1512 e 1516 para o Convento dos frades Antoninos de Issenheim nas proximidades de Colmar. Vieram completar um grupo escultórico datado dos finais do século XV, e foram encomendados a Mathias Gothart Nithart dito Grünewald. A ordem dos Antoninos fora criada em França nos finais do século XI na sequência de uma grande epidemia de uma doença conhecida pela designação de «fogo sagrado» que se espalhou por várias regiões e para cuja cura eram invocadas as beneses de Santo António (o das tentações também conhecido como Santo Antão). A vocação principal dos frades da Irmandade era a prática de medicina com a qual se tornaram famosos na época, sendo entre eles escolhidos os próprios médicos do Papa conforme atestam documentos colvos. Trataram a sífilis e a epilepsia e também «o fogo sagrado» nos seus hospitais. Esta doença era assimilada a Santo António de tal maneira que, apesar do escandalo dos frades Antoninos, lhe chegaram a chamar na época, o mal de Santo António. O crescente afluxo de peregrinos obrigava os frades a procurar fontes de rendimento através de colectas e também pela criação de porcos. No final do século XIII uma bula de Clemente IV estabelece para os frades o direito absoluto à criação dos «porcos de Santo António». Estes eram marcados pelo TAU, signo que tem a forma da letra T que os frades traziam também inscrita sobre o hábito que vestiam. No segundo painel do Retábulo de Issenheim de Grünewald há uma inscrição: “Ubi eras ihesubone ubi eras quare non affluisti ut sanares vulnera mea» (Onde estavas tu meu bom Jesus, onde estavas, porque não vieste em meu auxílio para sarar as minhas feridas?)”»
[frente (composição)]

«Tau os os Porcos de Issenheim»
[verso, canto superior direito]

Este painel contém um texto criado e inscrito pela mão de Bernardo Pinto de Almeida, sobre a origem da série Tau, tornando-se essencial para a sua compreensão, tal como a obra Tau ou Os Porcos do Retábulo de Issenheim, concretizada postumamente por Bernardo Pinto de Almeida para o Museu de Serralves, através de estudos de António Dacosta para o projeto que deixaria por terminar [ADD314; ADD315; ADD316; ADD317; ADD324; ADD528; ADD553; ADD554; ADD568; ADD696]. Esta peça foi doada ao Centro de Arte Moderna (atual Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna) por Miriam Rewald Dacosta, por ocasião da inauguração da exposição comemorativa do centenário de nascimento de Dacosta, em 2014.

Nesta obra domina um denso monocromatismo vermelho de fundo, sobre o qual a inscrição do texto efetua uma trama texturada. No interior de um círculo que abre essa textura, inscreve-se o «T».

Após ter visitado o Retábulo de Issenheim (c. 1512-1516), famosa obra encomendada a Mathias Grünewald (c. 1470-1528) pelo Mosteiro de Santo Antão (ou Santo António Abade) de Issenheim para a capela do seu hospital – destinado a doentes do fogo sagrado ou fogo de Santo António -, Dacosta terá começado a projetar o complexo instalativo de pintura numa reflexão sobre estruturas retabulares, desenvolvido a partir da marcante série Tau, que pensava para uma exposição na Galeria 111. O Retábulo de Issenheim seria uma referência central para a série do Tau. O «T» da crucificação associava-se ao «T» que os monges cosiam nas suas vestes e que imprimiam nas coxas dos porcos que tratavam, porcos estes que eram uma das suas principais fontes de autossubsistência e riqueza. Por seu lado, o porco era um dos símbolos de Santo Antão e era a forma do seu bastão.

O texto inscrito sobre a obra, criado por Bernardo Pinto de Almeida e posteriormente validado por António Dacosta, explica o sentido desta marcante série, e é através dele que ficamos a saber que o Tau se relaciona com Santo Antão (ou Santo António Abade) através dele que ficamos a saber inscrita nesta obra, sabemos que o Tau se relaciona com Santo Antão (ou Santo António Abade) e com os frades Antoninos de Issenheim: «Esta ordem, criada em França nos finais do século XI na sequência de uma grande epidemia de uma doença conhecida pela designação de “fogo sagrado” que espalhou por várias regiões e para cuja cura eram invocadas as benesses de Santo António (o das tentações também conhecido por Santo Antão). (…) O crescente afluxo de peregrinos obrigava os frades a procurar fontes de rendimento através de coletas e também pela criação de porcos. No final do século XIII uma bula de Clemente IV estabelece para os frades o direito absoluto à criação dos “porcos de Santo António”. Estes eram marcados pelo TAU, signo que tem a forma da letra T que os frades traziam também inscrita sobre o hábito que vestiam» (Dias, 2016, p. 314).


Bibliografia


Antologia Crítica


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