«[…] António Dacosta pinta um par de seres híbridos num esquema compositivo admiravelmente simétrico. A partir de um eixo vertical, o pintor representa a duas sereias sentadas e abraçadas, envoltas em azul-cobalto, num gesto amoroso: um beijo. A comunhão espiritual sugerida pela significação simbólica do beijo prolonga-se na comunhão física, com o enredo das caudas, […]

Saraiva, Tânia, António Dacosta (Pintores Portugueses). Porto: Quidnovi, 2010, p. 96

«As fontes de Sintra são um dos temas mais recorrentes na segunda fase de produção de Dacosta, acompanhando a sua própria evolução pictórica na década de 80. Assim, se nos primeiros trabalhos encontramos cores vivas, flores e frutos, que remetem para a ideia de um jardim paradisíaco, por volta de 1985 a paleta escurece e […]

Saraiva, Tânia, António Dacosta (Pintores Portugueses). Porto: Quidnovi, 2010, p. 96

«Dacosta retomou a prática da pintura de forma mais sistemática em meados de 1970, com obras de pequenas dimensões que integravam colagens. Muitas destas peças eram paisagens das ilhas açorianas, gravadas na memória do artista e relembradas através de postais ilustrados. Esta profunda ligação à sua terra revela-se imaginada, mítica e saudosa quando a transpõe […]

Saraiva, Tânia, António Dacosta (Pintores Portugueses). Porto: Quidnovi, 2010, p. 96

«De referências surrealistas, esta obra aproxima-se do universo de Salvador Dalí. A influência revela-se, por exemplo, na paisagem e na antropomorfização da silhueta do monte (com nariz e boca dentada), na inclusão de vários membros superiores estranhamente colocados ou desgarrados das figuras e ainda de uma cabeça sem corpo. Como nas obras do artista espanhol, […]

Saraiva, Tânia, António Dacosta (Pintores Portugueses). Porto: Quidnovi, 2010, p. 96

«Em Diálogo (1939) introduz-nos às principais características de muitos dos seus trabalhos dos anos seguintes: a paleta forte; o espaço preenchido; a concepção das cenas em ambientes semiabertos; a preocupação pela perspectiva, vários planos; os corpos maneiristas, alongados; a colocação de pequenos elementos inusitados que contribuem para a complexificação da narrativa e para a estranheza […]

Saraiva, Tânia, António Dacosta (Pintores Portugueses). Porto: Quidnovi, 2010, p. 96

«Em Quadro melodramático com dois macacos, o artista socorre-se do poder estruturante da linha para delimitar as figuras e para reforçar a separação entre os dois campos cromáticos que dividem, vertical e assimetricamente, a tela, estabelecendo entre eles uma relação de complementaridade. […] O equilíbrio compositivo é também reforçado pela inclusão de um dos símios […]

Saraiva, Tânia, António Dacosta (Pintores Portugueses). Porto: Quidnovi, 2010, p. 96

«Um pequeno núcleo de obras, mais variação do que série, faz uma alusão a ébora, onde a antiguidade, o clássico, a mitologia e a ruína se conjugam com o calor, o verão e a terra, sendo de destacar em várias destas obras o domínio de amarelo. A pintura Um Romano em Évora (1983) (n.º 26) foi […]

Saraiva, Tânia, António Dacosta (Pintores Portugueses). Porto: Quidnovi, 2010, p. 96

«Esta obra é exemplo da sugestão sensorial que frequentemente transparece na obra de Dacosta, bem como das diversas fontes e inusitadas inspirações que recolhe e funde nas suas telas, quer de origem erudita quer mais comum. A ideia de representar o escritor português como um fauno, com pés de cabra, surgiu a partir de um […]

Saraiva, Tânia, António Dacosta (Pintores Portugueses). Porto: Quidnovi, 2010, p. 96

«Esta tela condensa diversos elementos (e sugestões) iconográficos patentes em numerosos trabalhos: a cabeça do bezerro de uma série homónima; a representação sintetizada das fontes de Sintra; a escada colocada na diagonal como que unindo duas dimensões; a figura de costas, cabisbaixa, com os braços recolhidos atrás em atitude meditativa. Os vários elementos espalhados pelo […]

Saraiva, Tânia, António Dacosta (Pintores Portugueses). Porto: Quidnovi, 2010, p. 96

«Nela encontramos o cruzamento de várias referências que consubstanciam o imaginário do autor e algumas das suas preocupações plásticas. Mais uma vez, a designação ajuda a descodificar a obra (pelo menos parcialmente), sobre a qual António Dacosta explicitou o seguinte: “tentei pôr, por exemplo, as três dimensões de um quadro: a grade modernista, no plano […]

Saraiva, Tânia, António Dacosta (Pintores Portugueses). Porto: Quidnovi, 2010, p. 96

«Nesta obra […] aprecia-se um modo de pintar naturalista, em que a pincelada solta e a utilização da cor na representação da luz natural e na configuração do perfil geometrizado das casas denunciam uma aproximação moderna à natureza. O branco surge aqui como uma das cores dominantes, quase puro ou misturado; uma espécie de cor-luz, […]

Saraiva, Tânia, António Dacosta (Pintores Portugueses). Porto: Quidnovi, 2010, p. 96

«Nos últimos anos de vida, Dacosta propõe-se realizar uma série de grandes dimensões dedicada aos velhos mestres portugueses, tomando como ponto de partida o livro do historiador de arte Virgílio Correia, Pintores Portugueses do século XV e XVI (1928). Apesar de o projecto ter ficado incompleto, este ensaio demonstra o interesse do artista pelas técnicas […]

Saraiva, Tânia, António Dacosta (Pintores Portugueses). Porto: Quidnovi, 2010, p. 96

«[…] O Filósofo (1942) revela outra linha de referências ou homenagens do pintor: a tradição greco-romana, também explorada décadas mais tarde, por exemplo na série dedicada a Évora. Envolta numa grande sombra, surge-nos a cabeça escultórica e classicista do pensador, assente num plinto. A massa encefálica aparece descoberta, representada como silhares aparelhados num muro – […]

Saraiva, Tânia, António Dacosta (Pintores Portugueses). Porto: Quidnovi, 2010, p. 96

«O rosto da religiosa, em grande plano, apresenta os olhos fechados e a cabeça baixa, sinal de resignação, de oração intensa ou de meditação em silêncio. As grades do fundo parecem confirmar esta apreciação, pois remetem para uma vida em clausura, afastada do mundo exterior. Os olhos fechados evocam o mundo exterior, a contemplação, a […]

Saraiva, Tânia, António Dacosta (Pintores Portugueses). Porto: Quidnovi, 2010, p. 96

«O sentido enigmático do título e os ecos goyescos e picassianos das figuras mostram o gosto de Dacosta pelas mensagens simbólicas e pela utilização modernista de elementos da cultura popular e clássica. O adormecido picador – montado sobre um cavalo branco diante de uma caveira, de um estoque ensanguentado, de um pavão e de um […]

Saraiva, Tânia, António Dacosta (Pintores Portugueses). Porto: Quidnovi, 2010, p. 96

«Por estes anos, marcados por um grande ritmo de trabalho, os temas e as abordagens pictóricas são diversos. Neste exercício sobre papel encontramos algumas opções frequentes nas obras do artista açoriano, como a fragmentação do espaço em dois (ou mais) registos cromáticos, a delineação das figuras como grafitos e a cor não homogénea dos fundos, […]

Saraiva, Tânia, António Dacosta (Pintores Portugueses). Porto: Quidnovi, 2010, p. 96