Esta obra de Helena Almeida pertence à primeira fase do seu percurso artístico, caracterizado por pinturas tridimensionais. O suporte tradicional da tela é explorado de um modo concreto, físico e arquitectónico.
Estamos assim, desde o início, perante um exercício crítico sobre e da pintura, crítico no sentido etimológico que significa crise e crescimento, em que a artista desmonta a estrutura lógica e a percepção da pintura. A concepção renascentista da pintura como janela é aqui levada ao limite, ao transformar a tela numa espécie de janela física, objectual mas completamente disfuncionalizada: desta «janela» não se divisa nenhuma paisagem ou cena, mas somente um plano de cor laranja e a parede concreta onde é pendurada.
A relação entre cheio e vazio, entre presença e ausência, opera nestas obras de início de carreira algo que será depois uma constante: a corporalização da pintura.
IC
Maio de 2010