A obra e a actividade artística de Ana Hatherly caracteriza-se pela afirmação de um espaço autoral extensível e transversal aos domínios da literatura e das artes visuais. Poetisa, ensaísta e artista plástica, dedicou-se igualmente à realização de projectos na área do cinema. No início dos anos setenta frequentou o curso de estudos cinematográficos na London Film School e, ao longo dessa década, viria a realizar um conjunto de filmes muito singulares, onde se manifesta o seu interesse pela animação e pelas pesquisas centradas no campo da linguagem e da visualidade.

 

Apresentado pela primeira vez na Bienal de Veneza, em 1976, o filme intitulado Revolução, de 1975, faz parte desse núcleo de obras de curta-metragem. Filmado nas ruas de Lisboa, no pós 25 de Abril, com uma câmara Super 8, documenta os cartazes de propaganda política, os grafitis e os murais de ideologia revolucionária inscritos nas paredes da cidade.

 

A um ritmo veloz, as imagens registadas e a montagem do filme representam exemplarmente a manifestação plural de vozes na cena política portuguesa bem como a participação colectiva e a euforia contagiante vivida no espaço público. Testemunho evocativo do ambiente social e político que marcou o período revolucionário da história contemporânea portuguesa, este trabalho revela, simultaneamente, a relação da artista com a cidade de Lisboa e o mundo envolvente. Ana Hatherly regista, documenta, actua nas ruas da cidade, posicionando-se criativamente perante as características marcantes da cultura urbana num momento tão significativo da história portuguesa.

 

 

 

Sandra Vieira Jürgens

Maio de 2015