Constituição de uma Coleção

A Coleção do Centro de Arte Moderna foi oficialmente constituída em 1983, mas inclui obras de arte adquiridas pela Fundação Calouste Gulbenkian desde 1958. No primeiro relatório anual, publicado em 1957, é referida a criação de um fundo específico para aquisição de até 12 obras de arte por ano. As primeiras aquisições a artistas do século XX foram feitas em janeiro de 1958, na sequência da I Exposição de Artes Plásticas na Sociedade Nacional de Belas-Artes, em Lisboa.

Emmerico Nunes (1888-1968), «Brooklyn N.Y.», 1939
Marcelino Marcelino Vespeira (1925-2002), «Óleo 105», 1957

A inauguração do Centro de Arte Moderna (CAM), em julho de 1983, implicou a constituição de uma coleção mais sólida, representativa da história da arte moderna portuguesa, que oferecesse ainda algumas pontuações internacionais, em resultado da ação da FCG em países como o Reino Unido ou o Iraque, ou, no caso particular de França, quando conjunturas específicas tivessem relacionado artistas portugueses com contextos artísticos franceses.

Historicamente filtrada por uma conceção modernista da arte do século XX, a Coleção foi constituída com a preocupação de integrar o maior número possível de artistas cujo trabalho refletisse os interesses despoletados pelas novas ideias que prevaleceram desde finais do século XIX e cuja influência se estende até hoje. Neste sentido, não contemplou a integração de obras de arte com um carácter académico ou marcadamente naturalista, nem obras ou estudos para obras de arte pública, realizadas na vigência dos regimes políticos da Primeira República (1910-1926) e do Estado Novo (1933-1974).

A pontuação internacional mais consistente da Coleção é o núcleo de arte britânica, muito abrangente relativamente à criação artística no Reino Unido entre finais da década de 1950 e meados da década de 1960. A este núcleo segue-se a representação de artistas franceses que se relacionaram com artistas portugueses, como o casal Delaunay na segunda década do século XX, ou os vários artistas próximos da pintora de origem portuguesa Maria Helena Vieira da Silva e do seu marido, o pintor Arpad Szenes, como Bissière, Soulages, Torres Garcia, Zao Wou-Ki, entre outros. Também estão representados os artistas internacionais que integraram o grupo KWY («ká wamos yndo», com a publicação entre 1958 e 1964 da revista com o mesmo título), como Christo e Jan Voss, com obras datadas de 1960.

No plano internacional, destaca-se ainda para a presença do pintor americano de origem arménia Arshile Gorky, representado com uma pintura e dois desenhos, bem como o conjunto de 32 obras de arte iraquianas, adquiridas na década de 1960, altura em que a FCG desenvolveu um importante trabalho de ações filantrópicas no Iraque.

Caracterização

Descrita habitualmente como a mais importante coleção de arte moderna portuguesa do século XX – ou da primeira metade do século XX –, a Coleção conta, para o período entre 1900 e 1950, com um total de 92 artistas – 85 homens e 7 mulheres –, num total de 1005 obras de arte. A segunda metade do século tem uma representação muito superior, que não é sugerida pelo número de artistas, que são, em vários casos, os mesmos das décadas anteriores, mas pelo número de obras de arte portuguesa, que ascende a 4202.

Particular destaque deve ser dado à década de 1960, quando a ação da Fundação Calouste Gulbenkian em prol das artes visuais permitiu que muitos artistas portugueses se deslocassem para fora do país, ação que se intensificou com o esforço de estabilização da atividade da Fundação Calouste Gulbenkian no contexto português e internacional. Entre 1960 e 1969 são contabilizadas 1163 obras de arte realizadas por 171 artistas portugueses – 136 homens e 35 mulheres –, o que revela um acréscimo significativo na representação de mulheres artistas em relação à primeira metade do século XX.

A Coleção foi constituída sobretudo a partir do papel que a Fundação Calouste Gulbenkian desempenhou no apoio às artes visuais e, de um modo geral, à cultura portuguesa. Reflete, deste modo, as circunstâncias em que foi sendo reunida ao longo do tempo. Resultou, numa primeira fase, de obras de arte doadas pelos inúmeros bolseiros que tinham sido apoiados na sua formação artística e na concretização de projetos dentro e fora do país. Resultou, igualmente, de relações profissionais e de amizade mantidas com artistas e seus familiares, como por exemplo com Paulo Ferreira, Lucie de Souza-Cardoso, Sonia Delaunay ou Maria Helena Vieira da Silva, em Paris, ou com Karlen Mooradian, arménio da diáspora e sobrinho do pintor americano de origem arménia, Arshile Gorky.

A par da incorporação destas obras, a FCG atribuiu dois subsídios para a compra de obras de arte britânicas – em 1959 e em 1963 –, adquiridas por recomendação da comissão de aquisições do British Council, em Londres, juntamente com obras que integravam a coleção do British Council. A partir de 1963 e até hoje, o núcleo de arte britânica, que conta com 468 obras, tem sido desenvolvido de forma bastante heterogénea, através da nomeação de diferentes compradores ingleses e, mais recentemente, através de aquisições diretas. Este conjunto de obras de arte britânica tem sido descrito como um dos mais significativos do pós-II Guerra Mundial existentes fora do Reino Unido.

O acervo de arte portuguesa da Coleção foi sendo reunido de diferentes modos:

  1. Aquisições: No 1.º Plano de Atividades da Fundação Calouste Gulbenkian, apresentado em abril de 1957, o ponto 9.º referia o «Auxílio a artistas contemporâneos» mediante a criação de um fundo especial para a aquisição anual, em exposições públicas, de até 12 obras de artes plásticas. Ao longo dos anos, a Fundação Calouste Gulbenkian tem vindo a adquirir obras de arte aos artistas ou aos seus representantes, frequentemente por ocasião de exposições;
  2. Aquisição de uma parte substancial dos núcleos de Pintura e de Desenho portugueses ao banqueiro Jorge de Brito, que doou igualmente um conjunto de obras;
  3. Doações dos artistas bolseiros da Fundação Calouste Gulbenkian e de outros artistas ou seus representantes, como por exemplo os pais de António Areal, a viúva de Fernando Calhau, a viúva de Hein Semke;
  4. Legados de artistas, por exemplo de Maria Helena Vieira da Silva e de Bernardo Marques.

António Areal (1934-1978), «Opus s/nº», 1961
Bernardo Marques (1898-1962), «Sem título», 1929

 

 

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