Espólio de René Bertholo na Biblioteca de Arte
A Fundação Calouste Gulbenkian recebeu, em doação da herdeira de René Bertholo, o espólio documental do artista, que foi um dos nomes maiores do panorama artístico em Portugal durante a segunda metade do século XX.
Tendo realizado parte do seu trabalho no estrangeiro, integrado no contexto da arte moderna e contemporânea das décadas de 1960 e 1970, Bertholo foi bolseiro do Serviço de Belas Artes e está representado na coleção do Centro de Arte Moderna.
Este espólio, agora integrado no acervo da Biblioteca de Arte, é constituído por um conjunto diversificado de documentação que incluí correspondência com entidades, instituições e artistas seus contemporâneos, como os seus amigos e colegas do grupo KWY, ou o argentino Alberto Greco, espécies fotográficas, recortes de imprensa, efémera variada, cartazes e um conjunto de publicações, onde se contam catálogos de exposições que realizou no estrangeiro, principalmente em Paris, nos anos de 1960 e 1970, revistas e cartazes.
Este espólio permitirá não só uma melhor compreensão da prática artística de René Bertholo, como também ajudará a contextualizar de forma mais compreensiva as ligações dos artistas da sua geração com o circuito artístico internacional.
A sua integração no acervo da Biblioteca de Arte, juntando-se ao Arquivo Alberto Carneiro e aos espólios de Fernando Calhau, Jorge Vieira, Helena Almeida e David de Almeida, contribui significativamente para a consolidação deste serviço como a biblioteca de referência para o estudo e a compreensão da produção artística nacional entre a segunda metade do século XX e primeiras décadas do presente século.
À medida que for sendo inventariado, este espólio será disponibilizado, servindo de apoio à investigação das obras do artista na coleção do Centro de Arte Moderna e ao estudo de investigadores, curadores, críticos, nacionais e estrangeiros.
René Bertholo (Alhandra 1935 - Vila Nova de Cacela, 2005) realizou a sua primeira formação artística na Escola de Artes Decorativas António Arroio (1947-1951), frequentando depois a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (1951-1957).
Nestes anos começou a participar em exposições coletivas, realizou a sua primeira individual, na Galeria Pórtico (1956) e partilhou o ateliê com os amigos José Escada, Gonçalo Duarte e João Vieira (1956). Este ateliê ficava por cima do Café Gelo, no Rossio, onde se reuniam artistas e escritores como Mário Cesariny, Luiz Pacheco, Herberto Helder.
Na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa conheceu Lourdes Castro, com quem casou (1956) e com quem partiu, primeiro para Munique e, depois, para Paris (1958). Em Paris, iniciaram a publicação da revista KWY, que esteve na origem do grupo KWY (acrónimo de Ká Wamos Yndo) constituído por Bertholo, Lourdes Castro, Costa Pinheiro, Gonçalo Duarte, José Escada, João Vieira, pelo alemão Jan Voss e pelo búlgaro Christo.
A Fundação Calouste Gulbenkian concedeu-lhe uma bolsa para a estadia em Paris (1959-1960).
Expôs individualmente no estrangeiro pela primeira vez na Galerie Dragon (Paris, 1963). Ao longo da década de 1960 participou em diversas exposições coletivas – em Portugal e no estrangeiro - que o vão ligar ao desenvolvimento da Nouvelle Figuration.
A partir de 1966, René Bertholo começou a experimentar outras formas de criação artística, com a construção de modelos de pequenos objetos, movidos mecanicamente, quase que abandonando a pintura, que viria a retomar nos anos de 1970.
Regressou definitivamente a Portugal em 1981. Está representado na coleção do Centro de Arte Moderna, e o Museu de Serralves dedicou-lhe uma exposição retrospetiva (2000).