Seara Nova
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Comemorações do centenário da revista
(1921-2021)
A revista SEARA NOVA começou a ser publicada a 15 de Outubro de 1921, seguindo-se logo o número 2 a 5 de Novembro. Nasceu no contexto de uma época politicamente conturbada, anticipando o final da 1ª República, com grandes desigualdades sociais e problemas económicos. Vivia-se numa sociedade pouco participativa politicamente.
Nasceu com um grupo de intelectuais republicanos muito independentes que se interessavam à vida política, defendendo « uma atmosfera mais pura em que se faça ouvir o protesto das mais altivas consciências, e em que se formulem e imponham, por uma propaganda larga e profunda, as reformas necessárias à vida nacional »[1]
Aquilino Ribeiro, Augusto Casimiro, Azeredo Perdigão, Câmara Reys, Faria de Vasconcelos, Ferreira de Macedo, Francisco António Correia, Jaime Cortesão, Raul Brandão e Raul Proença fundaram a revista com o objectivo de lutarem contra esse espírito que fomentava a sociedade no início do século XX.
« Os Seareiros », como eram designados, definiam-se como « um núcleo de homens de boa consciência e vontade enérgica dispostos a assumir perante a expoliação, a rapina, o egoismo e a mentira nacionais uma violenta e sistemática atitude de protesto… »[2]
Outros intelectuais foram igualmente colaborando com a revista no decorrer destes cem anos de edições : Adolfo Casais Monteiro, Agostinho da Silva, Alberto Vilaça, Alexandre Cabral, Alves Redol, Armando Castro, Augusto Abelaira, Bento de Jesus Caraça, Blasco Hugo Fernandes, Fernando Lopes Graça, Fernando Namora, Francine Benoît, Francisco Pereira de Moura, Gago Coutinho, Gilberto Lindim Ramos, Hernâni Cidade, Irene Lisboa, Rodrigues Miguéis, José Saramago, José Gomes Ferreira, Magalhães Godinho, Magalhães Vilhena, Manuel Mendes, Manuel Machado da Luz, Mário de Azevedo Gomes, Mário Sacramento, Mário Sottomayor Cardia, Mário Ventura, Jorge Peixinho, Jorge de Sena, Rogério Fernandes, Rui Grácio, Sarmento de Beires ou Vitorino Nemésio.
O editoral da 1ª edição (15 de Outubro 1921) realça os objectivos e defende os seguintes princípios, referindo :
« A SEARA NOVA quere exercer mais do que uma simples acção de crítica e de protesto : quere chamar a atenção de todo o país para as reformas necessárias e contribuir para que se crie, em volta dessas reformas , uma opinião nacional que as exija e apoie. Quere fundar as condições da verdadeira democracia, sem as quais a República não passará do regimen de baixa mentira e indigna plutocracia que tem sido até hoje. Quere ajudar a criar essa luminosa e firme consciência nacional que imponha aos dirigentes (políticos e não políticos) o caminho da nossa salvação… » (p. 2)
« A SEARA NOVA …crê necessário que se forme, acima das Pátrias eternas, uma consciência internacional capaz de resistir energicamente a novas tentativas militaristas. É preciso que em tudo o mundo haja, entre os espíritos de integral humanidade, uma acção de reconhecimento: também nós devemos formar um exército, pronto a mobilizar à primeira voz, pronto a impedir Que haja mais uma hecatombe ao deus da Estupidez e dos Exércitos. Possam os homens de boas intenções de todas as Pátrias erguer um dia, sôbre um mundo que ainda hoje se debate em miseráveis disputas nacionalistas, o arco-de-aliança duma humanidade justa e livre, realizando na paz vitoriosa as conquistas da inteligência e da vontade desinteressada.!» (p. 3)
Os princípios regentes a que O GRUPO SEARA NOVA se propunha, eram: O GRUPO SEARA NOVA não lisonjeará nenhuma classe da sociedade. O GRUPO SEARA NOVA não dará a nenhum dos seus aderentes qualquer esperança de benefício pessoal. O GRUPO SEARA NOVA não pretende o poder, mas preparar as condições necessárias de todo o verdadeiro poder. O GRUPO SEARA NOVA quere a Revolução, mas não aplaude as revoluções. O GRUPO SEARA NOVA quere semear em proveito colectivo, e não colher em proveito próprio. O GRUPO SEARA NOVA não se limita a prosternar-se perante as glórias passadas da Pátria: quere criar para a Pátria uma nova glória. O GRUPO SEARA NOVA não olha o Passado, marcha resolutamente para o Futuro. O GRUPO SEARA NOVA não se limita a glorificar os mortos herois: quere que apareçam os herois vivos. O GRUPO SEARA NOVA não fará festas, nem lançará morteiros. Dirige todos os esforços para a acção, e para a preocupação do dia de hoje e de amanhã. (p. 3) Estes princípios, presentes neste 1° número irão sempre acompanhar o espírito dos “Seareiros” que continuarão, ao longo dos anos, a desenvolver uma revista aberta ao diálogo, ao progresso e à divulgação cultural, “com uma atenção constante e selectiva às grandes questões nacionais, internacionais e culturais”.[3] |
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Bastidores da preparação da mostra bibliográfica à volta da Seara Nova |
Passados 100 anos , o editorial da revista n° 1756 (número dedicado a esta efeméride) realça a importância deste evento reforçando-o através das seguintes palavras:
« Cem anos, mais de metade vividos em ditadura, as ditaduras fascistas de Salazar e Caetano, em que, resistindo e aglutinando, das artes às ciências, o melhor da nossa intelectualidade, a Seara marcou profundamente a vida social.
Cem anos caracterizados por saudáveis confrontos, algumas crises, renovações, adaptações… »
A Seara Nova é hoje uma revista que continua viva, publicando trimestralmente, sempre com o mesmo espírito voltado para as questões a nível nacional, internacional, bem como um espírito de difusão cultural.
[1] In Seara Nova, N° 1 (15 de Outubro 1921), p. 1
[2] Idem
[3] http://searanova.publ.pt/centenario/
Friso cronológico :
Em volta desta atualidade recomendámos de visitar os seguintes sites :
http://searanova.publ.pt/actualidade/comemoracoes-do-centenario-da-seara-nova-2/
https://www.e-cultura.pt/evento/21429