Concerto para Trompete de Haydn
Orquestra Gulbenkian
Mihhail Gerts Maestro
Carlos Leite Trompete
Joseph Haydn (1732 – 1809)
Concerto para Trompete e Orquestra, em Mi bemol maior, Hob.VIIe:1
– Allegro
– Andante
– Allegro
A morte do príncipe Nikolaus Esterházy, em 1790, determinou uma grande mudança na vida de Joseph Haydn. O príncipe sucessor, Anton Esterházy, não tendo herdado o gosto musical do pai, dissolveu a orquestra da corte, tendo retido unicamente uma banda de sopros. Apesar de conservar Haydn como mestre de capela, dispensou os seus serviços permanentes e permitiu que este passasse a viver em Viena. Na capital austríaca, a visita do violinista e empresário Johann Peter Salomon possibilitaria ainda um último, mas relevante capítulo na vida artística de Haydn. Salomon procurou o compositor para lhe propor um vantajoso contrato que incluía a composição de uma ópera e de seis novas sinfonias para serem apresentadas em Londres. A primeira estadia de Haydn em Inglaterra, para a apresentação das Sinfonias 93 a 98, constituiu uma grande consagração pública, o mesmo acontecendo com a sua segunda visita, para apresentação das Sinfonias 99 a 104, três anos depois.
Para além do grande sucesso obtido em Inglaterra, Haydn conviveu então com grandes orquestras e com um mercado musical fervilhante. Ao regressar a Viena, depois da primeira viagem, terá partilhado com Anton Weidinger (1767-1852), trompetista virtuoso da corte de Viena, as interessantes inovações técnicas que testemunhou em Londres. Alguns trompetistas utilizavam dispositivos mecânicos e orifícios para corrigir imperfeições na afinação e aumentar o número de notas disponíveis na limitada escala da trompete natural. O uso de válvulas e outras experiências tinham sido também ensaiados em cidades como Weimar e Desden, mas o entusiasmo de Haydn impulsionou Weidinger a desenvolver, entre 1793 e 1796, a primeira trompete com orifícios e chaves (como nos sopros de madeira) capaz de reproduzir a escala cromática em toda a sua extensão sonora. Foi para este instrumento que Haydn escreveu, em 1796, o Concerto em Mi bemol maior, uma das mais populares e significativas obras para trompete e orquestra.
Apesar do potencial virtuosístico, a trompete pioneira de Weidinger não viria, no entanto, a afirmar-se como instrumento solista, em parte por causa da sua pobre qualidade sonora, sendo suplantada pela trompete com pistões na primeira metade do séc. XIX. Adaptações e aperfeiçoamentos necessários protelariam a estreia pública do Concerto para Trompete de Haydn durante quatro anos, tendo sido finalmente estreado em Viena, a 28 de março de 1800. O Concerto é formado por três andamentos: uma tradicional forma-sonata no primeiro andamento, um lírico andamento central e uma rondó-sonata no terceiro. Para além do brilhantismo e virtuosismo atribuídos ao trompete, visíveis na exploração rítmica e melódica dos vários registos do instrumento (nomeadamente no famoso Allegro final), encontramos ainda uma cerrada construção temática e uma rica paleta orquestral que reflete a maturidade e a experiência de Haydn.