Mendelssohn: Sinfonia n.º 4
Orquestra Gulbenkian / Pinchas Zukerman
A curta vida de Felix Mendelssohn-Bartholdy, natural de Hamburgo, apresenta o rosto brilhante, amável e feliz do Romantismo. A inspiração para a Sinfonia n.º 4, em Lá maior, op. 90, Italiana, provém de uma viagem do compositor a Itália em outubro de 1830. Ao longo de dez meses, Mendelssohn percorreu várias cidades, recolhendo impressões que reproduziu numa obra que começou a compor ainda em território italiano, mas que se só viria a terminar três anos mais tarde e sobre a qual afirmou que: “a música, não a encontrei na própria arte, mas nas ruínas, nas paisagens, na alegria da natureza”.
Aquando de uma viagem à Escócia, em 1829, o compositor já havia sentido um fascínio idêntico pela beleza das terras do Norte. Essa inspiração chegou-nos por intermédio de duas das suas obras mais reconhecidas, a abertura As Hébridas, op. 26, e a sua Sinfonia n.º 3 em Lá menor, op. 56, Escocesa. Esta última conheceu uma longuíssima gestação, de tal modo que a Sinfonia Italiana foi terminada e estreada antes.
Desde os primeiros compassos, o primeiro andamento, Allegro vivace, comunica uma energia dançável a que é impossível ficar indiferente. O primeiro tema nos violinos apodera-se de imediato do andamento, conferindo-lhe um caráter saltitante e alegre que já não o abandonará mais, nem mesmo com o aparecimento do segundo tema contrastante, que parece simplesmente fazer um descanso antes que uma nova explosão de vitalidade se apodere da partitura. O Andante con moto assume o caráter de uma marcha lenta e nobre. Há dúvidas sobre a fonte de inspiração do compositor para este segundo andamento. Poderá ter sido uma procissão da Semana Santa a que Mendelssohn assistiu durante a sua passagem por Roma, ou as recentes mortes do seu professor Carl Friedrich Zelter e de Johann Wolfgang von Goethe, ambos falecidos em 1832 e que tanto o influenciaram. O terceiro andamento distingue-se pela sua forma em minueto e cujo Trio central, dominado pelas trompas, prefigura em especial o Noturno da obra Sonho de uma Noite de Verão, que Mendelssohn ainda não havia escrito na altura. A amabilidade desta página contrasta com o vigor rítmico do último andamento, um impetuoso saltarello – uma dança tradicional italiana que remonta ao século XIV. Em forma de um rondó, pode dizer-se que este é o andamento mais inconfundivelmente italiano de toda a sinfonia. A obra teve a sua estreia em Londres, a 13 de maio de 1833, sob a direção de Mendelssohn, num concerto onde o próprio interpretou ao piano o Concerto para Piano n.º 20, em Ré menor, de Mozart.
Intérpretes
- Maestro
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Orquestra Gulbenkian
Em 1962 a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu estabelecer um agrupamento orquestral permanente. No início constituído apenas por doze elementos, foi originalmente designado por Orquestra de Câmara Gulbenkian. Ao longo de sessenta anos de atividade, a Orquestra Gulbenkian (denominação adotada desde 1971) foi sendo progressivamente alargada, contando hoje com um efetivo de cerca de sessenta instrumentistas, que pode ser expandido de acordo com as exigências de cada programa. Esta constituição permite à Orquestra Gulbenkian interpretar um amplo repertório, do Barroco até à música contemporânea. Obras pertencentes ao repertório corrente das grandes formações sinfónicas podem também ser interpretadas pela Orquestra Gulbenkian em versões mais próximas dos efetivos orquestrais para que foram originalmente concebidas, no que respeita ao equilíbrio da respetiva arquitetura sonora.
Em cada temporada, a Orquestra Gulbenkian realiza uma série regular de concertos no Grande Auditório, em Lisboa, em cujo âmbito colabora com os maiores nomes do mundo da música, nomeadamente maestros e solistas. Atua também com regularidade noutros palcos nacionais, cumprindo desta forma uma significativa função descentralizadora. No plano internacional, a Orquestra Gulbenkian foi ampliando gradualmente a sua atividade, tendo efetuado digressões na Europa, na Ásia, em África e nas Américas. No plano discográfico, o nome da Orquestra Gulbenkian encontra-se associado às editoras Philips, Deutsche Grammophon, Hyperion, Teldec, Erato, Adès, Nimbus, Lyrinx, Naïve e Pentatone, entre outras, tendo esta sua atividade sido distinguida, desde muito cedo, com diversos prémios internacionais de grande prestígio. O finlandês Hannu Lintu é o Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian, sucedendo a Lorenzo Viotti.
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Pinchas Zukerman
Violino, Direção
O excecional nível artístico de Pinchas Zukerman, bem como a sua versatilidade como violinista, violetista, maestro e músico de câmara, são qualidades reconhecidas há mais de cinco décadas. Virtuosismo, musicalidade, beleza tímbrica e uma irrepreensível personalidade artística são características de Zukerman, também corroboradas por uma discografia de mais de 100 álbuns que mereceu a atribuição de dois Grammy e de 21 nomeações.
Os destaques da temporada 2021/22 incluíram colaborações com a Filarmónica de Israel, a Sinfónica de Barcelona, a Orquestra Nacional de Lyon e a Sinfónica de Dallas. Com o Zukerman Trio atuou nos festivais de música de câmara de Ravinia, Aspen e Amelia Island, bem como nos Parlance Chamber Concerts, em Nova Jérsia, e na Washington and Lee University, em Lexington, Virgínia. Com a violoncelista Amanda Forsyth, apresentou-se com a English Chamber Orchestra, a Orquestra Sinfónica MÁV (Budapeste), a Sinfónica de Praga, a Sinfónica Nacional da Rádio Polaca e as Sinfónicas de Reading e New Bedford. Ambos atuaram também numa digressão com o Jerusalem String Quartet, que incluiu concertos nos EUA e no Canadá.
Como professor e mentor de novas gerações de músicos, liderou, durante 25 anos, o Pinchas Zukerman Performance Program na Manhattan School of Music. Foi professor em proeminentes instituições nos EUA, no Reino Unido, em Israel, na China e no Canadá. Durante as próximas duas temporadas, é o novo Artistic & Principal Education Partner da Orquestra Sinfónica de Dallas, colaborando com a orquestra em parceira com a Southern Methodist University Meadows School of the Arts, onde exercerá tutoria e orientará cursos intensivos para os alunos de música.
Pinchas Zukerman inspirou várias gerações de jovens músicos que atingiram proeminência nos domínios da interpretação, da docência e da liderança de festivais internacionais. Foram-lhe atribuídos doutoramentos honorários pela Brown University, pela Queen’s University (Kingston, Ontário) e pela Universidade de Calgary. Foi também agraciado com a National Medal of Arts e o Isaac Stern Award for Artistic Excellence in Classical Music
Programa
Felix Mendelssohn-Bartholdy
Sinfonia n.º 4, em Lá maior, op. 90, Italiana
1. Allegro vivace
2. Andante con moto
3. Con moto moderato
4. Saltarello: Presto