Maria João Pires com Orquestra Gulbenkian

Concerto para Piano n.º 20 de Mozart

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Orquestra Gulbenkian
Lorenzo Viotti Maestro
Maria João Pires* Piano

Wolfgang Amadeus Mozart
Concerto para Piano e Orquestra n.º 20, em Ré menor, K. 466
– Allegro
– Romance
– Rondo: Allegro assai

Composição: 1785
Duração: c. 32 min.

No início do mês de fevereiro de 1785, Mozart finalizava, em Viena, o Concerto para Piano e Orquestra n.º 20, obra-prima do seu legado concertante, influenciada pelo coevo Sturm und Drang. Somente à luz deste movimento literário peculiar se pode, de resto, atribuir pleno significado ao dramatismo intenso da secção introdutória do Concerto n.º 20 e à invocação constante de sentimentos interiores, enevoados, muitas vezes, por inquietações e angústias.

No primeiro andamento, o pathos denso e lúgubre da introdução lenta preludia a entrada do solista com o primeiro tema, em gesto ascendente e pausado, qual interrogação existencial talhada não apenas pela incerteza ante as contrariedades, mas também pela esperança na resolução dos problemas e conflitos. Os vivos ritornelos orquestrais agudizam a essência da dialética, a qual pressupõe um plano filosófico e de reflexão existencial que alimenta, a todo o momento, o fluir das ideias musicais. Neste sentido, podem aqui vislumbrar-se traços da mentalidade romântica, os quais viriam a ser invocados, mais tarde, pelo compositor e crítico E. T. A. Hoffmann (1776-1822). O segundo tema desta forma de sonata de primeiro andamento traz consigo a serenidade e a paz. O ritornelo que se segue retoma o material do início do andamento, antes de o solista trazer de novo à textura o segundo tema, processado, a partir de agora, em torrentes melódicas e rítmicas alargadas, já no âmbito do desenvolvimento. No termo da recapitulação, o solista tem espaço criativo para a cadência final, de acordo com a convenção seguida na época.

O segundo andamento prossegue a mesma linha intimista, dominada pela melopeia aparentemente ingénua do piano, a qual, aos poucos, vai desvendando os recantos mais escondidos da alma humana, sob a moldura expressiva das cordas. Este refrão alterna com episódios intermédios, num contínuo que não deixa de fazer sentir, a dado momento, as brumas inquietantes do primeiro andamento. É, contudo, o tema apaziguador do solista que prevalece nos últimos compassos.

Aproximando-se da mesma conceção formal do andamento anterior, o Rondo final impõe renovada vivacidade ao discurso musical, envolvendo solista e orquestra num crescendo de tensões, para o qual concorrem as abundantes indicações de dinâmica. As interações entre o piano e a orquestra anunciam uma nova forma de encarar o género concertante: como um jogo de forças antagónicas em que o virtuosismo técnico do solista passa a desempenhar um papel decisivo. Também deste ponto de vista se prefiguram na obra as tendências iminentes do Romantismo musical.

Rui Cabral Lopes

 

Dmitri Chostakovitch
Sinfonia n.º 9, em Mi bemol maior, op. 70
– Allegro
– Moderato
– Presto
– Largo
– Allegretto – Allegro

Composição: 1945
Estreia: Leninegrado, 3 de novembro de 1945
Duração: c. 27 min.

A União Soviética foi um dos países mais afetados pela Segunda Guerra Mundial e o seu esforço patriótico refletiu-se na criação de obras musicais de cariz propagandístico. Depois de várias peças de caráter patriótico, Chostakovitch apresentou a sua Sinfonia n.º 9. O compositor tinha uma relação complexa com o regime, sendo perseguido e glorificado em simultâneo. Estreada em Leninegrado a 3 de novembro de 1945, a obra frustrou as expectativas das autoridades, pois é uma meditação irónica sobre as consequências da guerra. Chostakovitch inspira-se no Classicismo Vienense, distorcendo-o com fins expressivos.

O primeiro andamento encontra-se numa forma em que dois temas contrastantes são apresentados, desenvolvidos e reexpostos. O primeiro utiliza elementos do estilo clássico, transfigurados para enfatizar o grotesco e criar um efeito de distanciamento, e o segundo é uma marcha que recorre a instrumentos como o flautim, a caixa e o trombone para criar um ambiente militarista. O desenvolvimento desenrola-se em torno de diversas células e atribui solos a alguns instrumentos.

A reexposição é sobreposta ao desenvolvimento, que prossegue até ao final abrupto do andamento. A textura leve do Moderato é o fundo ao qual se sobrepõe a melodia sinuosa dos clarinetes. A adição de instrumentos de sopro pontuados pelas cordas adensa a textura até ao regresso da atmosfera inicial, catalisada pelo solo de flauta.

O Presto brincalhão destaca o clarinete, que se sobrepõe a um contexto dissonante e pontuado pela percussão. Um solo virtuosístico de trompete e um crescendo intensificam a tensão e preparam o regresso do tema inicial, conduzindo ao andamento seguinte sem interrupção. No Largo pontifica uma solenidade trágica centrada num lamento recitado do fagote, apresentada sobre um acompanhamento esparso. O final, Allegretto – Allegro, remete para uma atmosfera circense encarnada pelo primeiro tema, de caráter irónico e satírico, mas que evoca a tragédia. Esse ambiente é interpolado por episódios contrastantes que aceleram e sobrepõem elementos, atingindo o clímax num final cinético em que pontifica o tutti.

João Silva

 

*Por motivos de força maior, Martha Argerich é substituída por Maria João Pires.


GUIA DE AUDIÇÃO

 

Por Sérgio Azevedo

O compositor Sérgio Azevedo apresenta o programa dos concertos desta semana, com o célebre Concerto para Piano n.º 20 de Mozart e a Sinfonia n.º 9 de Chostakovitch.


A Fundação Calouste Gulbenkian reserva-se o direito de recolher e conservar registos de imagens, sons e voz para a difusão e preservação da memória da sua atividade cultural e artística. Caso pretenda obter algum esclarecimento, poderá contactar-nos através de [email protected].

Considerada a pianista portuguesa com maior projeção internacional e uma intérprete de referência nas obras de Mozart, Maria João Pires gravou os Concertos para Piano do compositor austríaco com a Orquestra Gulbenkian nas décadas de 70 e 80, para a prestigiada editora Erato. Mais de 40 anos depois, regressa agora ao Grande Auditório para interpretar o célebre Concerto para Piano n.º 20, sob a direção de Lorenzo Viotti.

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