Composição: 1936
Estreia: Basileia, 21 de janeiro de 1937
Duração: c. 30 min.
Obra-prima da literatura instrumental do século XX, Música para cordas, percussão e celesta emerge da produção de maturidade de Béla Bartók como símbolo inequívoco de modernidade, numa época pródiga em transformações sociais, políticas e também artísticas. Concluída a 7 de setembro de 1936, a obra foi estreada a 21 de janeiro do ano seguinte, na Suíça, pela Orquestra de Câmara de Basileia, sob a direção do maestro Paul Sacher.
Do primeiro andamento, Andante tranquillo, emerge, desde logo, o tema das cordas, com perfil altamente cromático, sobre o qual se articula uma fuga rigorosa e de proporções ambiciosas, cujas sonoridades evoluem em crescendos e diminuendos enigmáticos, rumo a um momento de clímax orquestral. Sobre o emaranhado expressivo das várias partes instrumentais paira, na verdade, a linha estética inaugurada por vultos da Segunda Escola de Viena, como Arnold Schönberg e Anton Webern, ainda que bastante adaptada, neste caso, ao gosto e ao método de Bartók.
No curso do andamento seguinte, Allegro, os efeitos percussivos pontuam o discurso agitado das cordas, alastrando também ao piano. Após a extensa secção em pizzicato das cordas, o tempo acelera gradualmente, visando a cadência final que foi inspirada pelos modelos virtuosísticos do Romantismo.
Por contraste, o terceiro andamento, Adagio, instaura uma atmosfera serena e contemplativa, dando espaço a efeitos subtis do xilofone, da harpa, do piano e da celesta. As combinações sonoras inusitadas conferem à textura uma aparência sempre renovada e, por vezes, imprevisível.
Verdadeira homenagem do compositor húngaro à tradição do concerto instrumental, o derradeiro andamento, Allegro molto, invoca uma variante do rondó-sonata para fazer alternar a textura entre as apresentações do refrão e as veredas contrapontísticas intensas que envolvem todo o efetivo instrumental, culminando num crescendo orquestral agitado e pujante que se extingue com uma breve peroração descendente, a desfazer todas as ambiguidades anteriores com o acorde perfeito de Lá maior.
Rui Cabral Lopes