Cinco sinais de vida estival para descobrir no Jardim em agosto e setembro

Um naturalista no Jardim Gulbenkian

No verão, descubra jovens aves a aprenderem a tornar-se independentes, cigarras macho a atrair as fêmeas, e morcegos a caçar insetos ao final da tarde.
Wilder 22 ago 2018 4 min
Um naturalista no Jardim Gulbenkian

O calor instalou-se finalmente no Jardim e a atividade frenética dos dias primaveris faz parte do passado. A natureza, a espreguiçar-se à sombra dos dias lentos do verão, parece ter entrado de férias. Mas bastam olhos e ouvidos mais atentos para encontrar sinais de atividade. Há jovens aves a aprenderem a tornar-se independentes, cigarras macho a atrair as fêmeas, morcegos a caçar insetos ao final da tarde.

Bandos de andorinhões-pretos

Apus apus

© Keta/Wiki Commons

Nos dias de verão, os andorinhões-pretos sobrevoam em bando as árvores do Jardim Gulbenkian. São mais fáceis de avistar (e de ouvir) ao entardecer, tanto aqui como noutros locais de Lisboa ou do país. As crias de andorinhão saíram do ninho e estão a treinar o voo, a preparar-se para o regresso a África, que acontecerá lá para setembro ou outubro. Algumas chegam a voar 20.000 quilómetros durante a migração. Os andorinhões passam praticamente toda a sua vida a voar – até quando dormem!

Em Lisboa e noutras povoações também se pode encontrar o andorinhão-pálido, difícil de distinguir do primeiro, com a sua plumagem mais pálida e a mancha esbranquiçada do mento (zona por baixo do bico) mais extensa, diz-nos João E. Rabaça no livro “As Aves do Jardim Gulbenkian”.

Juvenis da galinha-d’água

Gallinula chloropus

© Helena Geraldes

São as patas verdes, típicas da galinha-d’água, que ajudam a identificar os juvenis desta espécie, que se conseguem observar em passeio durante o verão, mesmo quando o calor é muito e mais nada no jardim parece mover-se. Ao contrário das galinhas d’água adultas, as crias não ganharam ainda outras características que as distingam como espécie, pois são geralmente acastanhadas e falta-lhes a típica mancha vermelha e amarela na face e no bico. Pode vê-los acompanhados quase sempre pelos progenitores. 

A sinfonia das cigarras

© Marcello Consolo/Wiki Commons

A par dos gritos estridentes dos andorinhões, este é um dos sinais mais claros de que estamos no verão. A sinfonia das cigarras pode ouvir-se em pleno nas horas de maior calor. Num passeio pelo Jardim Gulbenkian, há inúmeras oportunidades para as escutar. O som que ouvir provém dos machos, a contrair músculos que fazem vibrar umas membranas especiais, chamadas tímbalos. As fêmeas são silenciosas. Esta é a estratégia desta espécie, tanto para atrair as fêmeas como para afastar predadores.  

Em Portugal estão registadas 13 espécies de cigarras, algumas bastante raras, e cada uma produz um som diferente. Pode saber mais sobre estes animais com o projeto “Cigarras de Portugal –  cantores”, lançado por um grupo de investigadores quer promover a participação do público na monitorização anual das populações de cigarras. 

Acrobacias de morcegos

© Evgeniy Yakhontov/Wiki Commons

Ao final da tarde, pouco antes de escurecer, os morcegos chegam aos céus da cidade. Apesar de não os conseguir ouvir, os morcegos são habitantes comuns de parques e jardins. A sua silhueta é inconfundível. 

Procure estes magníficos mamíferos voadores olhando para cima, para a copa das árvores. Não será difícil distingui-los em voo, em acrobacias, enquanto se alimentam de minúsculos insetos. Por noite, cada morcego pode consumir o equivalente a mais de metade do seu peso.  

São preciosos aliados quer nos campos, quer nas cidades. Em Portugal estão registadas 27 espécies de morcegos.

Jóias vermelhas entre a vegetação

Crocothemis erythraea

© Friedrich Böhringer/Wiki Commons

Se passear junto aos pequenos lagos do Jardim Gulbenkian, em dias de sol, esteja atento às libélulas-escarlate (Crocothemiserythraea). O seu vermelho vivo, contrastando com os tons de verdes da vegetação, torna-as fáceis de observar. 

Segundo Albano Soares, entomólogo do Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal, esta é uma das libélulas mais comuns do país. É uma espécie muito resistente às elevadas temperaturas do ar e mesmo da água. Por isso, pode procurá-las mesmo às horas de maior calor. 

Série

Um naturalista no Jardim Gulbenkian

Uma vez por mês, ao longo de um ano, a revista Wilder revelou algo a não perder no Jardim Gulbenkian e lançou-lhe um desafio: descobrir e fotografar ou desenhar cada descoberta. No ano seguinte, a partir da biodiversidade do jardim, e com a ajuda de especialistas, respondemos a vários “como e porquê” de aves, insetos, mamíferos, anfíbios e plantas.

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